Brasil começa bem, mas cai nas barras e fica longe da Rio-2016 na ginástica

Paula Almeida
Do UOL, em Glasgow (ESC)*

A seleção brasileira feminina de ginástica artística teve um início animador no Mundial de Glasgow nesta sexta-feira, mas uma atuação ruim no terceiro aparelho, as barras assimétricas, dificultou as chances de o time avançar para a final e se classificar diretamente para os Jogos do Rio-2016.

A equipe composta por Flávia Saraiva, Daniele Hypolito, Jade Barbosa, Lorrane Oliveira, Leticia Costa e Thauany Araújo teve ótimos desempenhos em suas duas primeiras rotações, no solo e no salto, e viu crescerem as esperanças de um resultado final bom. Até então, o conjunto dava sinais de que conseguiria bater o Canadá e a Romênia, que passaram pelas primeiras subdivisões do dia. No entanto, a instabilidade e as séries fracas nas assimétricas deixaram o time apenas na quarta colocação provisória com 221,861 pontos, atrás de Reino Unido (227, 162), Japão (223,863) e das próprias canadenses (222,780). Depois, ainda vieram Rússia (231,437) e Itália (224, 452) que derrubaram a equipe para a sexta posição.

As oito primeiras equipes se classificam para a final e para a Olimpíada. O problema é que Estados Unidos e China, que ainda não competiram, têm vagas praticamente asseguradas, já que estão num nível bem superior às demais. Considerando isso, o Brasil está numa hipotética oitava posição e não pode mais ver nenhum de seus próximos rivais passar a sua frente. O foco agora é ver como França, Suíça e Austrália vão se apresentar amanhã. Alemanha e Espanha, outros rivais que já competiram na sexta, terminaram o dia na sétima e na nona posição, respectivamente.

Mas o fato de ficar longe da classificação olímpica já no Mundial não entristeceu as meninas brasileiras, que saíram satisfeitas da arena pelo desempenho nos outros aparelhos e por superarem a pressão da estreia e da queda nas barras.

"Eu treinei muito paralela e nunca imaginei que isso ia acontecer, mas aconteceu. Mas eu treinei trave em qualquer situação: desaquecida, com dor de barriga, tudo. Acho que foi isso que ajudou a equipe a se manter firme até o final", comentou Jade, que surpreendeu pela força na trave após a nota ruim no aparelho anterior. "Eu não sei se vai dar a classificação, mas que a gente treinou muito para estar aqui, a gente treinou. Então tá bom, não deu 8, mas deu 9, deu 10, e certeza que a gente vai pelo evento [teste], porque tem meninas melhores. A gente buscou isso, a gente fez um treino de pódio maravilhoso, todo mundo adorou as coreografias de solo".

Apesar do resultado regular da equipe, o Brasil teve uma boa notícia nas eliminatórias. Apostas dos técnicos mesmo com pouca experiência, Flávia e Lorrane foram os grandes destaques do time e somaram notas que as aproximam da final individual geral (55,798 e 56,365, respectivamente, na oitava e sexta colocações). A caçula, inclusive, voltou a levantar a plateia, que fez barulho durante suas apresentações e acompanhou com palmas sua coreografia de boneca no solo.

As eliminatórias femininas terminam neste sábado. A final por equipes será na terça-feira, o individual geral será na quinta e as decisões por aparelhos acontecem entre sábado e domingo que vêm.

SOLO (55,631)

Primeiras a se apresentarem no solo, Leticia Costa e Jade Barbosa fizeram séries de grande dificuldade, mas ambas tiveram problemas na segunda passada. Leticia caiu, e Jade também quase sofreu uma queda, o que comprometeu a nota de execução e final de ambas (12,433, descartada, e 13,433). Lorrane, após uma entrada tensa, se soltou após cravar a primeira passada e passou bem pelo aparelho (14,066). O mesmo aconteceu com Daniele, que vinha sofrendo com a primeira passada nos treinos, mas conseguiu concluir o movimento e terminou bem a prova (13,966). Para concluir, Flávia fez grande apresentação e ouviu o público acompanhar sua coreografia com palmas (14,166).

SALTO (58,132)

Thauany, estreante em Mundiais, e a veterana Daniele abriram a prova de saltos com exercícios de dificuldade média e não tiveram problemas (14,166, descartada) e (14,300). Flavia, em seu aparelho menos forte, também optou por um salto de menor complexidade (14,233). Jade fez o salto mais difícil da equipe e tirou a melhor pontuação (14,833). E Lorrane, num voo igualmente complexo, fechou com a segunda maior nota (14,766).

BARRAS ASSIMÉTRICAS (51,966)

Aparelho mais complicado para o Brasil no atual ciclo olímpico, as barras realmente deram à equipe sua pior nota nesta sexta. Thauany Araújo novamente abriu com uma atuação discreta (12,800) e foi seguida por uma performance desastrosa de Jade, que se desequilibrou duas vezes e caiu do aparelho (11,633, descartada). Coube então às novatas Flávia e Lorrane aumentar a soma do aparelho com boas performances (13,266 e 13,600). Daniele concluiu com uma série limpa (12,300).

TRAVE (56,132)

Thauany foi novamente a primeira na prova de trave e sofreu uma queda logo no início (12,800). Jade veio em seguida, após longa espera pela nota da colega, e não se deixou abater pelo desastre das barras, fazendo uma apresentação muito boa (14,200). Lorrane fechou sua participação com mais um bom desempenho (13,933). Em seu melhor aparelho, Daniele teve um leve desequilíbrio no início, mas foi bem (13,866). E para fechar a apresentação brasileira, Flávia brilhou (14,133). No total, o Brasil fez 56,132 no aparelho, a segunda melhor nota do dia até agora, só atrás da Rússia.

*Atualizada às 19h33