! Futebol é fácil. Rio 16 ensina professores para levar até esgrima à escola - 22/10/2015 - UOL Olimpíadas

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Futebol é fácil. Rio 16 ensina professores para levar até esgrima à escola

Roberto Oliveira

Do UOL, em São Paulo

Você praticou esgrima, hóquei ou rúgbi na escola? Não, é a resposta mais provável.

Com o intuito de mudar esta realidade, é que surgiu o Transforma, programa de educação do Comitê Organizador Rio 2016 que visa levar esportes olímpicos e paraolímpicos para os ensinos fundamental e médio das escolas brasileiras. O programa, que já teve adesão de cerca de 3000 escolas brasileiras, capacita professores para que eles possam ensinar novas práticas esportivas aos seus alunos. É o “Aprenda a ensinar”. O Transforma oferece capacitação técnica e metodológica junto às federações, material didático em vídeo e um festival de esportes.

“Existem 42 esportes Olímpicos e 23 Paraolímpicos. E atualmente não vamos muito além da prática do quadrado mágico [vôlei, basquete, futebol e handebol]. Estes esportes precisam continuar, mas o tiro com arco, a esgrima, o badminton e o goalball também podem interessar outras crianças”, afirma Vanderson Berbat, gerente de educação do Comitê Rio 2016.

De acordo com dirigente, variar o ensino de esportes aumenta o interesse dos jovens em atividades físicas e até mesmo nos esportes olímpicos, pouco transmitidos e badalados. Até agora, seis videoaulas, cada uma correspondente a uma modalidade olímpica, estão disponíveis no canal do Transforma no Youtube. São elas: goalball, futebol de 5, esgrima, hóquei sobre a grama, badminton e tiro com arco. E não vai parar por aí...

'Eles pegam o taco e associam a um fuzil'

Divulgação
Rafael Silva, professor de 29 anos, ensina hóquei em suas aulas de educação física imagem: Divulgação

Rafael Silva da Cunha é professor de educação física da Escola Municipal Princesa Isabel, no bairro Santa Cruz, zona oeste do Rio de Janeiro. Mas recentemente descobriu uma nova paixão: o hóquei. O cupido? O programa de educação da Rio 2016.

Através do Transforma, ele não só aprendeu a modalidade para ensinar seus alunos, como também virou atleta de hóquei. Tudo começou há cerca de um ano, quando Silva fez o curso de capacitação na modalidade. “Nunca tinha visto”, revelou ao UOL Esporte.

O professor mostrou que tinha aptidão com o taco e a bolinha e logo foi convidado para treinar no Rio Hockey Club. A priori, recusou, achava que tinha passado da idade. Depois, fez curso de monitor na Federação Carioca de Hóquei e recebeu novo convite do clube. Dessa vez, Rafael aceitou. E virou atleta aos 29 anos.

“Eu joguei esse ano o Campeonato Brasileiro In Door [na quadra]. E esse final de semana passado foi a 1ª rodada do Brasileiro de grama. Foi a primeira vez que eu joguei um campeonato oficial de grama”, contou à reportagem.

Segundo o professor, o início das aulas de hóquei na escola Princesa Isabel não foi dos mais fáceis. Os alunos estranharam o esporte à primeira vista, ainda na sala de aula. E se surpreenderam ao saber que o hóquei era um esporte olímpico, porque não o conheciam. Mas não demoraram em encontrar semelhanças com o futebol, como a bola e o gol. E logo ficaram curiosos, adaptando-se bem ao jogo.

Em pouco tempo de trabalho, Rafael já identificou talento em alguns dos seus alunos. Mas lida diariamente com as dificuldades de ser professor de escola pública na periferia de uma metrópole brasileira.

“Vários alunos eu vejo que tem potencial, que pegam o esporte com facilidade, mas o problema é que a escola em é Santa Cruz, uma área muito carente do RJ. Quando a gente tem algum talento, o transporte, a parte financeira dificultam bastante”, sublinha o professor.

“Eles pegam o taco e associam a um fuzil. É muito mais próximo da realidade deles que o hóquei. A forma como eles pegam o taco, é como se fosse um PM ou traficante. Apontam um taco pro outro… Com o tempo eles foram entendendo melhor, que é uma forma de esporte, não de violência”, finaliza Rafael.

5 dicas para ensinar (e aprender) esportes olímpicos

André Redlich/Rio 2016
Jovens cariocas praticam salto à distância em escola pública do Rio de Janeiro imagem: André Redlich/Rio 2016

Dora Castanheira, atleta e coordenadora sócio esportiva do Transforma e responsável pelas capacitações dos professores de educação física em novos esportes, reuniu cinco dicas para que a prática de novas modalidades na escola dê certo.

Segundo ela, o primeiro passo é a identificação do professor com o esporte. Só assim ele poderá ensinar de fato seus alunos. O segundo passo: é necessário entender a história da modalidade e construir o próprio material esportivo.  “Quando a criança constrói o seu próprio equipamento, cria-se um interesse maior pelo que será aplicado”, afirma Castanheira.

Nas aulas de esgrima, por exemplo, o florete, uma das três armas usadas no esporte, pode ser construído com canos de PVC e garrafas PET recicláveis. Já no tiro com arco, cano de PVC, braçadeira de nylon e corda de varal são ingredientes indispensáveis.

Em terceiro lugar, Castanheira destaca a parceria com outros professores como um dos elementos que podem aumentar o interesse dos jovens pelos esportes olímpicos.

“O professor de artes, por exemplo, pode ajudar a construir os insumos. O de geografia pode falar sobre as bandeiras dos países. O de história sobre trégua olímpica. E assim o interesse pelos esportes só vai aumentando”, explica a professora.

Por fim, mais dois fatores (o quarto e quinto) são importantes na implementação do programa. O esporte precisa ser novidade, gerando maior interesse dos jovens, e de fácil execução, proporcionando maior igualdade na hora do aprendizado.

“Levar um esporte totalmente desconhecido e de fácil aplicação. Algo que todos estejam no mesmo nível e possam começar juntos. É importante integrar todos os alunos. No Badminton, por exemplo, pode ter dupla mista, com uma menina e um menino”, destaca Castanheira.

 

 

 

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