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Ele desbancou Pistorius. Agora, terá de encarar pressão em casa na Rio-2016

TAL COHEN/EFE

Brunno Carvalho

Do UOL, em São Paulo

Quando Alan Fonteles for competir nas provas de atletismo nos Jogos Paraolímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, a pressão da própria torcida será um dos maiores desafios que terá que superar. Apesar de diferente da que enfrentou em 2012, quando precisou vencer o tetracampeão Oscar Pistorius, o apoio será um ponto que pode tanto colocar o brasileiro no caminho da medalha de ouro quanto impedi-lo de defender o título. 

"É bem diferente correr em casa. Tem o lado bom de competir com a torcida te apoiando, mas no meu caso, que sou visado, todos estarão tentando ganhar de mim. Você chega se pressionando para vencer, então toda essa pressão acaba sendo maior", explicou Alan Fonteles ao UOL Esporte.

No evento que acontecerá no Rio de Janeiro, entre 7 e 18 de setembro de 2016, Alan não terá Pistorius como adversário – o sul-africano cumpre pena pelo assassinato de sua namorada, Reeva Steenkamp. Apesar disso, uma desconfiança ronda a preparação do brasileiro: a de seu preparo físico.

Depois que quebrou dois recordes (nos 100m e 200m) no Mundial de Lyon, na França, Alan ficou longe das pistas por pouco mais de um ano, em uma espécie de período sabático. Mas para o brasileiro, o tempo fora não será um empecilho para seu principal objetivo: os Jogos Paraolímpicos. "Claro que, para voltar a grande forma de 2013 (quando conseguiu dois recordes mundiais), preciso de um ano muito forte de treinamento, algo que ainda não tive. Então voltando do Mundial, dou início à minha preparação para os Jogos Paraolímpicos".

O Mundial sobre o qual se refere Alan acontecerá em Doha, no Qatar, entre os dias 22 e 31 deste mês. Essa será a primeira chance que ele terá de conquistar o índice para disputar os Jogos Paraolímpicos do Rio de Janeiro.

Alexandre Schneider/Getty Images
Alan Fonteles participou do Open em abril de 2015, na prova dos 100m. Na época, o brasileiro aparentava ainda estar fora de forma imagem: Alexandre Schneider/Getty Images

Mundial é a primeira chance de conseguir o índice paraolímpico

Na edição de 2013 do torneio, disputado em Lyon, na França, Alan Fonteles completou um ciclo vitorioso que havia se iniciado nos Jogos Paraolímpicos: conquistou medalhas de ouro nos 100m e 200m, na categoria T43, e 400m, na T44 (para atletas com amputação simples abaixo do joelho). Dois anos depois e ainda em processo de recuperação do período sabático, a participação do brasileiro será carregada de menos favoritismo que da última vez.

Logo de início, uma mudança: o brasileiro decidiu não participar da prova dos 400m e defenderá seus títulos apenas no 100m e 200m. Além disso, o recorde mundial não é o pensamento da vez. “Nesse Mundial não estou pensando em marca, mas em colocação. A cabeça está em chegar em primeiro, independentemente do tempo”, explica Alan, que admite estar mais preparado para a corrida dos 200m.

Treinando de segunda a sábado, Alan Fonteles afirma que, apesar de o Mundial ser o objetivo imediato, a cabeça já está em 2016. “Eu e meu treinador já estamos mirando o ano que vem. Fizemos uma preparação para o Mundial e uma já pensando nos Jogos Paraolímpicos”.

GABRIEL BOUYS/AFP
imagem: GABRIEL BOUYS/AFP

Sonho dos Jogos Olímpicos ainda existe, mas chance é pequena

Enquanto se prepara para os Jogos Paraolímpicos, Alan Fonteles ainda não tira da vista a chance de ser o primeiro brasileiro biamputado a disputar uma prova de atletismo em edição dos Jogos Olímpicos. A tarefa, porém, não é simples: com seu melhor tempo pessoal em 20s66, ele precisaria baixar ao menos 0s16 para conseguir o índice, que é de 20s50. E não só isso: teria que superar a concorrência de atletas sem deficiência.

“Estou focado nos Jogos Paraolímpicos. Mas vamos ver como vai acontecer essa ideia do Olímpico. Se conseguir o índice, beleza. Se não, não é meu foco”, afirma Alan.

Para Katsuhico Nakaya, treinador de velocistas da CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo), no entanto, a vontade de Alan Fonteles de participar de uma edição dos Jogos Olímpicos não passará disso: uma vontade. “Eu não acredito na vaga. Se ele tivesse dado um segmento ao trabalho, talvez houvesse uma evolução no tempo”, afirmou, fazendo referência ao período sabático de Alan. “Ele teria que melhorar bastante a condição física e ainda conseguir superar cinco atletas nossos que têm condições de fazer esse índice”.

Até o momento, o Brasil tem dois atletas com índice para a prova: Bruno Lins Tenório de Barros (20s41) e Aldemir Gomes da Silva Junior (20s44). Pelo regulamento, apenas três representantes por país podem competir em cada prova do atletismo dos Jogos Olímpicos.

O primeiro biamputado a disputar uma prova de atletismo em Jogos Olímpicos foi Oscar Pistorius, na edição de Londres, em 2012. Diferentemente do objetivo do brasileiro, o sul-africano competiu nos 400m e foi até a semifinal. Além disso, chegou à final do revezamento 4x400m com a equipe da África do Sul. 

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