Há 15 anos, maior vexame do Brasil no futebol olímpico derrubava Luxemburgo

Do UOL, em São Paulo
Reuters
Brasil empatou com gol de Ronaldinho nos acréscimos, mas caiu na prorrogação

Você se lembra onde estava na manhã de 23 de setembro de 2000?

Se não se lembra, são grandes as chances de que você estivesse assistindo à televisão. Naquele dia, o Brasil enfrentava Camarões nas quartas de final do torneio masculino de futebol dos Jogos Olímpicos de Sydney, na Austrália. E mesmo favorito ao título, acabou eliminado pelos camaroneses – que seriam campeões da disputa – na prorrogação.

O favoritismo da seleção era justificável. Afinal, no Torneio Pré-Olímpico de 2000, que foi disputado no interior do Paraná e que garantiu duas vagas à Olimpíada, o Brasil fez sete jogos, com cinco vitórias (incluindo um 9 a 0 sobre a Colômbia) e dois empates. Ronaldinho Gaúcho, então revelação do Grêmio, foi o artilheiro da competição com nove gols marcados.

Para o embarque à Austrália, o técnico Vanderlei Luxemburgo convocou jogadores que logo estariam entre os principais clubes do Brasil e do mundo. Atletas como Helton (Vasco), Athirson (Flamengo), Mozart (que trocara o Coritiba pelo Flamengo), Geovanni (em alta no Cruzeiro), Edu, Fábio Aurélio, Álvaro (todos do São Paulo), André Luís e Baiano (ambos no Santos) davam suporte à dupla formada pelos meias Alex (no Parma) e Ronaldinho Gaúcho, os principais candidatos a astros da seleção brasileira no torneio.

Em campo, porém, as coisas não se desenvolveram como esperado. O Brasil estreou com vitória no Grupo D, batendo a Eslováquia por 3 a 1, mas perdeu para a África do Sul na segunda rodada pelo mesmo placar. A vaga nas quartas de final só veio com uma vitória na terceira rodada por 1 a 0 sobre o Japão, graças à cabeçada de Alex aos 6 min do primeiro tempo. Ufa!

Mas veio o confronto das quartas de final contra Camarões. E logo aos 17 min do primeiro tempo, o árbitro alemão Herbert Fandel assinala uma falta inexistente de Fabiano por um toque de mão na intermediária – na cobrança, Patrick M’Boma faz 1 a 0 para os camaroneses.

O que se viu até o fim do jogo foi pressão, sufoco e desespero do Brasil. Aos 30 min do segundo tempo, Geremi foi expulso e aumentou o drama dos camaroneses. Até que, nos acréscimos, Alex foi puxado na entrada da área por Aaron Nguimbat, que também acabou expulso.

Mas o descontrole naquele momento era dos brasileiros - em meio à discussão entre os próprios jogadores no lance da expulsão de Nguimbat, o zagueiro Lúcio acertou uma cabeçada no meia Roger. Coube então a Ronaldinho tranquilizar o time: na cobrança de falta, o futuro astro acertou o pé e superou o goleiro Idriss Kameni (então com 16 anos) para empatar o jogo.

Era o primeiro gol do camisa 7 em Sydney, mas seria também o último. Na prorrogação, o Brasil chegou a ter um gol legítimo de Fabiano anulado. E aos 7 min do segundo tempo extra, Modeste M’bami recebeu a bola e chutou da entrada da área para fazer 2 a 1. A derrota encerrou a participação do Brasil no torneio e acabou ocasionando a demissão de Vanderlei Luxemburgo.

Folha Imagem
Derrota para Camarões selou a saída de Vanderlei Luxemburgo da seleção brasileira
O treinador embarcou bastante pressionado a buscar a medalha de ouro (ainda hoje inédita) para a seleção brasileira em Jogos Olímpicos, para a qual ele optou por não convocar Romário. Para piorar a situação, o time principal enfrentava uma série de maus resultados, cujo ápice viria no ano seguinte, com a eliminação para Honduras nas quartas de final da Copa América sob o comando de Luiz Felipe Scolari. Em 2002, também com Felipão (mas sem Romário e Alex), veio o título na Copa do Mundo.

“Não deveria ter ido como técnico, porque o momento pessoal era muito conturbado, não tinha clima para trabalhar, e fomos perder para Camarões nas quartas de final”, disse Luxemburgo à revista Playboy, em entrevista publicada em junho de 2005. “Quando um técnico da seleção principal vai para a Olimpíada, ele leva todo o peso da posição. Ele tem que estar junto, mas não pode ser técnico. Leva a atenção da mídia. E vira muita responsabilidade para os garotos. É um excesso, acho que poderia estar junto, acompanhando, assessorando, mas não ser técnico”, completou o treinador, que estava à frente do Real Madrid em 2005.

Camarões foi às semifinais, nas quais eliminou o Chile por 2 a 1. Na final, empatou por 2 a 2 com a Espanha, mas conquistou a medalha de ouro ao vencer a decisão por pênaltis contra o time de Xavi, Puyol, Tamudo e Marchena por 5 a 3. Foi uma das cinco medalhas da história do esporte camaronês em Jogos Olímpicos. E o fim das chances de Luxemburgo na seleção brasileira, para a qual ele ainda esperava uma segunda chance em 2005.

“É meu projeto e eu vou voltar”, disse, na entrevista à Playboy. “Acho que vou voltar à seleção e disputar uma Copa do Mundo. Me tiraram da seleção brasileira, me tiraram o direito de disputar a Copa quando eu era considerado um dos dois maiores técnicos do Brasil. Foi mérito do Felipão ganhar a Copa (de 2002). Mas me tiraram por coisas absurdas, e eu tenho o direito de voltar. Não é mais aquela obsessão que eu tinha antigamente, mas um dia vai acontecer”, completou.

Até hoje, não aconteceu.