Atiradores festejam mesma vaga para 2016 no Facebook. Mas só um levou
Marcelo LagunaColaboração para o UOL, em São Paulo
No Campeonato Mundial de tiro esportivo, que está sendo realizado na cidade de Lonato, na Itália, uma situação inusitada e constrangedora acabou marcando a definição da vaga do Brasil na prova da fossa olímpica masculina. Os dois atiradores que concorriam por um lugar nos Jogos Olímpicos do Rio 2016 anunciaram em suas páginas no Facebook que tinham assegurado a classificação. Contudo, somente um deles irá representar o Brasil no ano que vem.
Brigavam pela vaga o paranaense Rodrigo Bastos, o mais experiente atirador de fossa olímpica do país, com duas Olimpíadas no currículo (Seul 1988 e Atenas 2004) e que em 2014 havia conquistado um inédito quinto lugar no Mundial; do outro, o gaúcho Roberto Schmits, sem a mesma projeção internacional, e que tem como principal resultado a medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara 2011. De acordo com a CBTE (Confederação Brasileira de Tiro Esportivo), em nota publicada no site na última segunda-feira (14), Schmits foi o classificado. A Confederação foi procurada nesta terça-feira para explicar a situação, mas ainda não respondeu às perguntas enviadas pela reportagem.
O fato que levou a dois adultos postarem em suas redes sociais que tinham alcançado um mesmo feito que apenas um deles de fato conquistou deve-se em boa parte às mudanças no regulamento da seletiva olímpica feitas pela CBTE no início deste ano.
Na interpretação de Bastos, ele é quem ficou com a vaga, apesar de ter obtido um desempenho muito ruim na Itália, quando terminou somente em 106º lugar. Já a CBTE entende que a vaga pertence a Schmits, que ficou em 50º lugar. O Mundial de Lonato é a última etapa de uma série de eventos classificatórios para o Rio 2016 realizados este ano. Mas que o critério de pontuação destes eventos que a Confederação utilizou é diferente do que sustenta Bastos.
"Eles decidiram não considerar os resultados de 2014, quando eu fui muito bem, e recomeçaram do zero. Isso não tem sentido. Para piorar, demoraram a homologar o novo regulamento, como manda o estatuto da CBTE. Só tivemos acesso às vésperas da viagem. Tudo isso acabou me prejudicando", diz Bastos, que desde o início deste ano vinha reclamando publicamente da decisão da confederação.
Ainda segundo o atirador paranaense, foi acertado antes de uma competição em Curitiba, em fevereiro, que seriam consideradas válidas para efeito de classificação olímpica quatro competições internacionais: três etapas da Copa do Mundo e mais o Mundial.
Por este critério, Bastos levaria a vaga, superando Schmits por um ponto no ranking da CBTE. Nesta contagem, ele somou 24 pontos (seis na Copa do Mundo do México, 11 nos Emirados Árabes, sete no Azerbaijão e zerou no Mundial). Já Schmits tinha antes do Mundial um total de 18 pontos em três etapas da Copa do Mundo (seis no México, três nos Emirados Árabes e nove no Chipre). Com os cinco pontos que somou pelo 50º lugar na Itália, teria no máximo 23 pontos - sempre segundo as contas de Rodrigo Bastos.
"Só que aí mudaram a regra e só passaram a considerar os dois melhores resultados da Copa do Mundo. Isso obviamente beneficiou o Schmits, que diminuiu a diferença e acabou me superando no Mundial. O problema é que nunca publicaram essa ata, ela nem tem a minha assinatura", argumenta Bastos.
"Ele sabia das mudanças"
Já Rodrigo Bastos promete não deixar o assunto parar por aqui. Ele já colocou seu advogado para conversar com a CBTE, pois entende que do ponto de vista legal, as alterações na seletiva não valeram. "Se tivessem mostrando antes a ata com as alterações, eu não teria aceitado com certeza. Além disso, no estatuto diz que não se pode fazer alteração sem Assembleia Geral ou com um tempo prévio para ser homologado. Não sou eu que está dizendo, é o estatuto da confederação", afirmou.
"Estamos tentando primeiro uma conversa amigável. Não quero brigar com a CBTE. Mas se não tomarem uma atitude sobre isso, vamos questionar judicialmente. Meu advogado me deixou bastante tranquilo quanto a isso", afirmou Bastos.
Procurada pelo UOL Esporte, a CBTE comentou o caso por meio de Ailton Patriota, diretor-técnico do tiro ao prato, que não quis entrar no mérito das reclamações de Rodrigo Bastos ou mesmo da ameaça do atirador de ir à Justiça para ter a vaga na fossa olímpica em 2016.
"O que posso informar é o que esta escrito na nota publicada no sitio da Confederação. Os atletas estavam cientes das regras adotadas e que a modificação se deu em benefício do próprio atleta e todos ficaram cientes disso antes se começarem as seletivas no começo do ano.