Por tocha olímpica, Lars Grael topa usar prótese 17 anos depois de acidente
Protagonista há 17 anos de um acidente com uma lancha que lhe custou uma perna durante uma competição, o iatista Lars Grael topou finalmente usar uma prótese. Sua motivação? Participar do revezamento da tocha olímpica que precederá os Jogos do Rio no ano que vem.
O duas vezes medalhista olímpico na vela foi, assim como seu irmão campeão olímpico Torben, um dos primeiros esportistas selecionados pelo Bradesco, patrocinador dos Jogos, para carregar a tocha. Porém sua recusa em usar prótese o impediria de vivenciar na plenitude esse momento.
“Hoje em dia não uso prótese, ando com ajuda de muletas. Só que não tem como eu caminhar e segurar a tocha ao mesmo tempo”, demonstra, por meio de gestos, Lars, 51. O episódio em que teve a perna direita ceifada pela hélice de uma lancha que invadiu uma área de competição, é um dos mais traumáticos da história do esporte brasileiro.
Curiosamente, Lars sempre se recusou a usar próteses justamente por seu comprometimento com o esporte. O tempo que gastaria com a fisioterapia para se adaptar à prótese, preferiu utilizar para retornar logo aos treinamentos e competições. Foi assim que no pré-olímpico para a Olimpíada de Pequim-08, liderou os primeiros dias de competição e ameaçou tirar a vaga do badalado Robert Scheidt.
Nem os apelos dos médicos que alertavam para Lars que no futuro, por efeito da idade, consequente envelhecimento e perda de reflexos correria o risco de não conseguir mais usar muletas e ficaria preso a uma cadeira de rodas, haviam conseguido sensibilizá-lo. Quanto mais tempo se passa desde a amputação, ao menos na teoria, mais difícil vai se tornando a adaptação bem-sucedida ao uso da prótese.
Ao explicar sua decisão de finalmente usar prótese, seus pensamentos retornam à corrida da tocha do Pan de 2007, quando foi chamado a correr.
“Fui gentilmente convidado, mas quando se deram conta de que eu não conseguria correr com a tocha, notei que surgiu certo constrangimento”, conta Lars, ao lembrar que à época surgiram todo o tipo de ideia, até o de usar um equipamento que fixasse a tocha às suas costas.
“Neguei na hora. Eu, heim, imagina se pegasse fogo no meu cabelo?”, diz, mão espalmada no ar, olhos arregalados, balançando a cabeça.
Por fim, uma voluntária do meio desportivo andou ao seu lado, segurando a tocha, e quando chegou ao ponto de passar a tocha para seu irmão Torben, ela deu a tocha para Lars, que passou para o irmão, que saiu correndo com o artefato olímpico.
Passados oito anos, Lars quer vivenciar uma experiência mais completa desta vez. E foi assim que se impôs um novo objetivo.
O iatista, que no primeiro semestre conquistou o tricampeonato da Bacardi Cup, uma das mais tradicionais provas do iatismo, viajou esta semana a São Paulo para realizar testes. “Um dos médicos falou que [o coto] não suportaria”, explica, semblante sério, apontando para o local, para na sequência mudar o semblante ao abrir um sorriso. “Mas após os exames ouvi outras opiniões médicas favoráveis e positivas. Sinto que chegou a hora de rever posições.”
“Me impus esse novo desafio de usar uma prótese e estar apto a caminhar, ou correr, com ela até a data do revezamento da tocha”, conclui.