Sete problemas que o dólar em alta trouxe para o esporte olímpico do Brasil
A disparada do dólar não mexe apenas com a economia, importações e exportações. A forte alta da moeda americana, que fechou a última terça-feira (8) cotada a R$ 3,81, já causa impactos no esporte olímpico brasileiro. Ainda mais tendo em conta que no primeiro dia do ano ela era cotada a R$ 2,65.
Em meados do ano passado, quando a maioria das confederações estava fechando seu orçamento para 2015, o dólar estava muito mais em conta. Para se ter ideia, no dia 9 de setembro de 2014, a moeda americana valia R$ 2,28.
Diante deste cenário e da tendência de alta, dirigentes já apertam os cintos e atletas temem que a situação fique ainda mais complicada. Todos os valores recebidos pelas entidades - sejam de patrocinadores, convênios com o Ministério do Esporte ou do Comitê Olímpico do Brasil (COB) via lei Agnelo/Piva - são fixados em reais.
1 - Confederação de Desportos Aquáticos desiste de mandar time a Mundial
O Brasil tinha vaga assegurada no Mundial Júnior Masculino de Polo Aquático do Cazaquistão, que começou no último dia 4. Mas por causa da alta do dólar e do aumento drástico no preço das passagens aéreas e gastos extras no local da competição, a Confederação Brasileira de Desporto Aquáticos (CBDA) desistiu de mandar a equipe para a Astana.
No primeiro semestre, a confederação também não enviou nadadores da seleção brasileira de natação para participar do tradicional circuito Mare Nostrum.
"O orçamento que temos não comporta esta alta do dólar. Já estamos operando no vermelho. Vamos sentar no fim deste mês para reavaliar as ações que faremos e definir quais serão as nossas prioridades a partir de agora. Cada modalidade funciona de um jeito e veremos o que fazer com cada uma delas. Mas posso dizer já que esta alta do dólar colocou em risco toda a operação Rio-2016. As ações devem ser cada vez mais limitadas", disse ao UOL Esporte Ricardo de Moura, superintendente da CBDA.
2 - Estrela olímpica do Brasil já refaz as contas da sua preparação
Até mesmo o tricampeão mundial e campeão olímpico dos 50m livre Cesar Cielo esta desconfortável com a subida moeda. Isso contando com sete patrocinadores, o mais recente deles a Unicred. O contrato foi assinado na semana passada.
"Uma ação que a gente faz com dez pessoas envolve um volume muito grande de passagens aéreas e reservas em hotel. Com o dólar 30, 40 ou 50 centavos mais caro, em uma magnitude de milhares de reais você está gastando uma parcela interessante a mais do que antigamente. As ações serão bem mais pensadas e específicas. Espero que isso não afete nosso planejamento porque no ano olímpico precisamos estar competitivos e as grandes competições estão fora do Brasil. Vamos buscar as melhores para participar dentro do possível. Temos De respeitar isso para não querer exigir muita coisa e seguir um pouco a linha do que a confederação definir, que deve ser bem mais pontual", afirmou.
3 - Seleção de luta olímpica não pôde fazer aclimatação para o Mundial
Pouco antes de embarcarem para Las Vegas (EUA) para fazerem a aclimatação para o Mundial que começou na segunda-feira, os atletas souberam que a viagem havia sido cancelada. O orçamento estourou com a alta do dólar. Toda a fase de preparação precisou ser realizada no Brasil.
"Os atletas não deixaram de treinar, então não tiveram prejuízos. Apenas perderam a aclimatação, que também é algo importante. Pelo menos não foi necessário cortar nenhum integrante da delegação. Mas já digo que teremos de reavaliar as ações. Se antes eu tinha R$ 100 mil reais para planejar algo, sigo tendo este mesmo valor. Ele não vai mudar por causa da alta do dólar", explicou Roberto Leitão, superintendente da Confederação Brasileira de Lutas Associadas (CBLA).
4 - No judô, prioridade é só para os atletas que podem ir à Rio-2016
A ordem na Confederação Brasileira de Judô (CBJ) é clara até o próximos anos: priorizar os atletas que ainda disputam uma vaga na Olimpíada e tem chances de chegar ao pódio. Com esta determinação, os que mais sofrerão serão os atletas que seriam reservas em suas categorias em 2016 e os mais jovens, com pouca chance de lutar nos Jogos do Rio mas que são apostas para a Olimpíada de Tóquio-2020.
"A recomendação do nosso presidente (Paulo Wanderley) foi clara. Não devemos cortar nada de atletas que estão na briga olímpica e poderão subir ao pódio. Tanto que ainda temos quatro competições importantes neste ano e mandaremos todos os atletas. Mas assim como em todas as outras entidades, quem está sofrendo com os cortes são aquelas áreas não envolvidas diretamente com os Jogos Olímpicos. Para você ter uma ideia, quando fizemos nosso orçamento no ano passado, cotamos o dólar a R$ 2,40. Para o ano que vem estamos prospectando a 3,80, mas não sabemos o que acontecerá", explicou Ney Wilson gestor técnico de alto rendimento da CBJ.
"O bom é que a Olimpíada é aqui e não precisaremos de um período de aclimatação no exterior", completou.
5 - Vela tem dificuldade para comprar equipamentos
A Confederação Brasileira de Vela (CBVela) cortou ou reduziu a participação de atletas em competições de classes não-olímpicas. A compra de equipamentos para aqueles que disputarão a Rio-2016 já está sendo afetada.
"Até o momento estamos conseguindo manter o planejamento das classes olímpicas, mas com enorme preocupação, especialmente considerando a concentração de competições internacionais no primeiro semestre do ano que vem, antes dos Jogos, que a equipe principal precisará disputar. O acréscimo de despesas foi de aproximadamente 50% nas ações que envolvem apoio em competições internacionais e compra de equipamentos", disse o diretor-executivo Daniel Santiago.
6 - Tiro tem redução drástica em ações internacionais
Cerca de 50% de viagens para treinos ou competições tiveram de ser canceladas. Os atletas só não ficaram fora do Mundial do Azerbaijão e do Sul-Americano do Chile poiso COB ajudou com verba. O panorama para 2016, entretanto, ainda é incerto.
"Quase que 90% dos treinos e competições são no exterior. Não sei ainda como faremos. Vamos elaborar o orçamento com o dólar na cotação atual e ele pode subir ainda mais. Esta alta veio no momento errado", disse Ricardo Brenck, vice-presidente da Confederação Brasileira de Tiro Esportivo (CBTe).
7 - Dívida da Confederação Brasileira de Basquete só aumenta
No dia 1º de fevereiro de 2014, quando a CBB aceitou pagar US$ 1 milhão à Federação Internacional de Basquete (Fiba) pelo convite para a Copa do Mundo da Espanha, o dólar valia R$ 2,40, o que dava um total de R$ 2,4 milhões. A entidade só quitou US$ 300 mil dólares e ainda deve US$ 700 mil, que serão quitados em breve. Porém, hoje, estes US$ 700 mil já estão valendo R$ 2,67 milhões. Um problema a mais para a entidade que vive situação financeira delicada.