! Revelação tem de importar armas e improvisar treino para chegar à Olimpíada - 03/09/2015 - UOL Olimpíadas

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Atualizada em 19.11.2015 15h43

Revelação tem de importar armas e improvisar treino para chegar à Olimpíada

Marcelo Laguna

Colaboração para o UOL, em São Paulo

Aos 23 anos, o mais jovem integrante da seleção brasileira de tiro esportivo precisa driblar as dificuldades de um esporte quase desconhecido no Brasil. Felipe Wu conquistou o ouro no Pan-Americano de Toronto, em julho, e tem praticamente definida sua vaga para a Olimpíada de 2016 (só depende de confirmação da Confederação Brasileira de Tiro Esportivo). Os títulos custaram muito esforço ao esportista, mas treinar já é um grande desafio.

Mas nem mesmo o alto custo para compra de armas e munições, além de uma burocracia impressionante para a liberação deste material, desanimam a revelação do tiro brasileiro.

"Se eu for mesmo confirmado para as Olimpíadas, sei que haverá pressão por competir em casa, mas farei o meu melhor, dentro das limitações que o país me impõe", explica Wu, que por não contar com patrocinador pessoal, precisa bancar os custos de compra de armas e munição para seus treinos.

Pior mesmo, segundo ele, é enfrentar os trâmites burocráticos toda vez que volta de viagem com alguma arma nova na bagagem. "Só o termo de importação, para autorizar a entrada desta arma no Brasil, demora três meses para ser aprovado", contou o atirador, que também costuma competir na prova de pistola 50 m.

Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, na casa dele, Felipe Wu disse como foi seu início precoce no tiro esportivo, mostra um pouco da sua rotina de treinos, com direito a um estande improvisado em seu quintal, e das dificuldades enfrentadas pela falta de um patrocinador, além do atraso no pagamento do programa Bolsa Atleta, do Ministério do Esporte.

Ele já atirava aos 12 anos de idade
A descoberta do tiro esportivo para Felipe Wu aconteceu bem mais cedo do que ocorre com outros atletas. Filho de pais praticantes e instrutores da modalidade, já estava acostumado a frequentar clubes de tiro desde bem pequeno. Aos oito anos, já tinha ensaiado alguns tiros, mas foi aos 12 que a brincadeira começou a ficar mais séria.

"Não é muito normal uma criança começar a praticar tiro tão cedo, mas meu pai sentiu que era aquilo que eu gostaria mesmo de fazer e comprou uma arma de segunda mão. No início, eu encarava tudo como uma grande diversão, mas depois que ganhei meu primeiro Campeonato Sul-Americano na Argentina, quando tinha 15 anos, aí ficou sério", recordou.

Tanta precocidade deu a Felipe Wu a condição de atleta mais jovem da equipe brasileira de tiro esportivo. "A idade média dos atiradores fica entre 35 e 45 anos", diz o atirador paulista, de 23 anos.

Wu treina até quando vê a namorada
Até sua preparação para o Pan-Americano de Toronto, Felipe Wu adotava um sistema "caseiro" para realizar seus treinamentos. Com ajuda do pai, montou um estande de tiro improvisado no quintal de sua casa, no bairro do Itaim (SP), mas com uma distância um pouco menor (7 m) do que a metragem oficial da pistola de ar, que é de 10 metros.

A partir deste mês, porém, ele terá uma nova alternativa para realizar seus treinos. A Hebraica cedeu as instalações de seu estande, que têm as medidas oficiais, para que ele realize parte de sua preparação. "Será ótimo, porque é perto de casa e não perderei muito tempo em deslocamentos. O problema em São Paulo é a distância para os clubes de tiro. Por isso que comecei a treinar em casa", disse o atirador, que em média treina de três a quatro horas por dia.

Aos finais de semana, ele segue com os treinamentos, mas em Curitiba, onde vive a namorada, Rosane Budag, também da seleção brasileira. "O bom é que ela conhece minha rotina e isso facilita muito. Até porque ele tem que treinar também", brinca.

A dedicação só não é total aos treinos porque ele tenta dividir o tempo com o curso de engenharia aeroespacial, que faz na Universidade Federal do ABC. "Este ano eu mal dei as caras na faculdade. Devo trancar o curso no ano que vem, mas depois das Olimpíadas preciso tirar a diferença."

Comprar arma por R$10 mil é o de menos
Entre as dificuldades enfrentadas por Felipe Wu em sua preparação olímpica está o alto custo do equipamento. Para competir em nível internacional, ele não tem como abrir mão de comprar as armas no exterior, especialmente Alemanha e Suíça, onde uma pistola de ar não sai por menos de R$ 10 mil. A isso, soma-se o custo da munição, igualmente importada, e cuja caixa chega a custar R$ 400,00 e não dura mais do que um treino.

"Uma vez fiz um cálculo da munição para a pistola de 50 m. Se eu fosse comprar todo o estoque que iria usar até a Olimpíada, gastaria pelo menos R$ 26 mil, e isso iria se esgotar em apenas um mês", disse Felipe. Há ainda a burocracia exigida toda a vez que pretende adquirir uma arma, sempre que viaja ao exterior.

"E na volta, além de pagar a taxa de importação de 50%, a arma ainda ficará retida por duas ou três semanas", afirma.

O prejuízo só não é maior porque como é terceiro-sargento do Exército, Felipe consegue via quartel a liberação. Aliás, o fato de ser atleta-militar desde 2013 tem sido um alívio nas contas do atirador, especialmente este ano, quando ainda não viu a cor do dinheiro da Bolsa-Atleta, programa instituído pelo Ministério do Esporte.

O valor de sua bolsa é de R$ 1.850,00. "Eles sempre atrasam", afirmou Felipe, lembrando que a CBTE só banca as despesas de viagem, hospedagem e treinamentos dos atletas em período de competição. Neste final de semana, ele participa da Copa Sul-Americana para carabina e pistola, em Santiago (CHI).

Vice-presidente da CBTE, Ricardo Brenck afirmou que a entidade financia treinos e competições de Wu no exterior, fazendo cargo dos gastos com transporte, alimentação e munição para treinos.

"Quando estamos no exterior é mais fácil adquirir a munição. Aqui no Brasil a burocracia para a obtenção de munição por parte de pessoa física, neste caso a confederação, é muito grande. Inviabiliza bastante", disse.

Procurado pelo UOL Esporte, o Ministério do Esporte, por meio de sua assessoria de comunicação, negou que exista atraso no pagamento do benefício do Bolsa-Atleta. Afirmou que a programação previa o início da liberação dos recursos em setembro, um mês após a lista dos contemplados, que ocorreu em agosto. E lembrou que os atletas precisam guardar uma parte do dinheiro que recebem antecipadamente por conta deste calendário de pagamento.

Confira a nota divulgada pela assessoria do Ministério do Esporte:
O início do pagamento do Bolsa-Atleta está programado agora para setembro. Como ocorre todos os anos, os pagamentos começam a ser realizados no mês subsequente à publicação da lista dos contemplados, divulgada em agosto. A respeito do calendário de pagamento das doze parcelas anuais, vale registrar que o Ministério do Esporte pode definir a quantidade de parcelas, conforme o planejamento do programa. Por isso, é importante que os bolsistas se organizem para guardar uma parte do valor quando receberem mais de uma parcela por vez, para não correr risco de ficar sem dinheiro nos meses seguintes. Lembramos que a bolsa tem validade pelo período de um ano e, mesmo que a agenda de pagamentos seja encurtada, o novo período só começará a valer quando for aberta nova fase de inscrições e iniciarem os pagamentos do novo exercício. Daí a recomendação de que os atletas guardem uma parte do dinheiro que receberem antecipadamente, para garantir a manutenção de suas atividades durante os 12 meses do período equivalente àquela bolsa.
Att,
Assessoria de Comunicação
Ministério do Esporte

 

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