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EUA não são mais os mesmos no atletismo. A culpa é da Jamaica e do Quênia

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

A velocidade da Jamaica e a resistência do Quênia estão acabando, aos poucos, com o maior domínio da história do atletismo. A força dos EUA nas pistas de corrida pelo mundo ainda é grande, mas quem assistiu ao Mundial de Pequim, que terminou neste domingo na China, viu que eles não são mais os mesmos.

Desde o primeiro Mundial de Atletismo, disputado em 1983, os norte-americanos só não ficaram em primeiro lugar no quadro de medalhas três vezes. A última tinha sido em 2001, quando a Rússia ganhou no desempate, após 5 a 5 no número de ouros. A primeira, justamente em 1983, quando a Alemanha Oriental fez 10 a 8. Em Pequim, foi ainda pior: ficou atrás de Quênia e Jamaica. Os dois países fizeram sete medalhas de ouro, contra seis dos americanos.

As provas de velocidade são o maior sintoma dessa queda de poder. Há dez anos, a Jamaica assumiu o comando nesses eventos. E não parece muito disposta a deixar o posto. No estádio Ninho do Pássaro, ganhou todas as provas masculinas e duas femininas – a única derrota veio nos 200m, em que uma holandesa, Dafne Schippers, ficou com o ouro.

O único título individual dos EUA na pista foi de sua maior estrela: Alysson Felix, tricampeã dos 200m, chegou a nove medalhas de ouro em Mundiais com seu título nos 400m – ela não correu a prova mais rápida. O Team USA ainda venceu o revezamento 4x400m, mas foi só.

Olhe as barreiras. As provas terminaram sem nenhum ouro para o país que sempre as dominaram. Nos 100m, os EUA chegaram à China com a ideia de dominar o pódio, mas o ouro foi para a jamaicana Daniele Williams. Além dela, um russo (Sergey Shubenkov nos 110m), uma tcheca (Zuzana Hejnova, nos 400m) e até um queniano (Nicholas Bett, nos 400m) subiram ao topo do pódio.

O Quênia, aliás, é a outra pedra no sapato dos EUA. Não pelos confrontos diretos: o país dominou o quadro de medalhas na maior parte do Mundial, graças a corredores como David Rudish, recordista mundial dos 800m. Eles dominaram o pódio dos 3.000 com obstáculos masculino, ganharam a prova feminina e ainda ganharam os 10.000 feminino e os 1500 masculino – sem contar os 800m, com ouro de Rudisha.

Potência em provas de longa distância, graças aos treinamento acima dos 2.000 metros de altitude do Vale do Rift, os africanos surpreenderam em dois momentos. O ouro de Bett nos 400m com barreira representam a prova mais curta da história em que um queniano foi ao pódio. Fruto dos treinamentos em massa de garotos para a prova de obstáculos, cedo ou tarde surgiriam atletas mais rápidos do que resistentes, que iriam se aventurar em distâncias menores. Bett, provavelmente, só foi o primeiro deles.

Mais incrível, porém, foi o ouro no lançamento do dardo. Treinamentos em altitude e uma infinidade de garotos corredores (parecido com os milhões de jogadores de futebol que temos no Brasil) explicam corredores, mas não um atleta de provas de campo. Julius Yego é uma aberração. Ele fez o melhor lançamento dos últimos 14 anos no dardo mesmo aprendendo as técnicas da prova em vídeos do YouTube. Só neste ano ele passou a treinar com um técnico de verdade (que o ajuda a colocar em prática o que vê na internet). Foi campeão mundial na raça.

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