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Uma doação de R$ 500 transformou rúgbi no esporte mais organizado do Brasil

Fotojump/Divulgação

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

A Confederação Brasileira de Rúgbi tem um orçamento de aproximadamente R$ 20 milhões, mas foi uma doação de apenas R$ 500 que mudou a história do esporte no Brasil. Não pelo valor. Pelo que aconteceu depois do ato.

O ano era 2009 e o empresário Eduardo Mufarrej assistiu a uma entrevista do capitão da seleção brasileira, Fernando Portugal. Ele falava em falta de apoio e admitia que pensava em abandonar o esporte. O desabafo fez Eduardo deixar a inércia e buscar uma maneira de ajudar. Conseguiu o contato do treinador da seleção e fez a doação.

“Eu doei R$ 500,00. É um valor alto individualmente, mas não é um absurdo. Mesmo assim, toda a seleção me procurou para agradecer. Foi neste momento que eu vi que a situação era bem pior do que eu imaginava. E resolvi tentar ajudar de verdade”, conta o empresário do ramo de fundos de investimento.

Ele tinha jogado rúgbi no colégio e na faculdade, quer cursou nos EUA, mas acompanhava de longe. Chamou amigos que eram como ele: gostavam da modalidade e eram empresários ou profissionais liberais de sucesso. Fundaram o Grab, o Grupo de Apoio ao Rúgbi Brasileiro. Foi aí que começou a revolução do esporte.

Cada empresário contribuiu com o que podia. Todos trouxeram experiências de sucesso no mundo dos negócios. A maioria cedeu horas de trabalho ao projeto. Alguns investiram dinheiro, mesmo, sem esperar retorno. “Colocamos dinheiro do nosso bolso. Não era para ser assim. Se eu tivesse consultado a minha mulher, ela vetaria o projeto”, lembra Eduardo.

Pouco depois os frutos do Grab apareceram. O grupo foi o embrião da Confederação Brasileira de Rúgbi, que englobou a Associação Brasileira de Rúgbi, então o principal órgão do rúgbi no país. E os empresários passaram a usar técnicas empresariais para cuidar do esporte. Hoje, a entidade têm um conselho administrativo com 12 membros, um CEO contratado que veio do mercado e credibilidade de sobra para trabalhar.

Em agosto, a entidade foi eleita a confederação esportiva com melhor gestão do país pela plataforma Sou do Esporte e a empresa Inspire Sport Business. Não que tenha sido uma disputa complicada. A regra, no esporte brasileiro, é ver confederações defasadas, com problemas políticos ou dificuldade para cuidar de seu esporte. Em conversas informais, o COB (Comitê Olímpico do Brasil) sempre cita a CBRu como exemplo de sucesso. “A nossa ideia é contaminar as outras modalidades, independentemente dos resultados que possamos obter”, diz Eduardo.

Resultados, porém, são o grande ponto de interrogação do projeto. Ao contrário de muitas outras modalidades em que o Brasil tem tido sucesso recentemente, o rúgbi é extremamente popular e competitivo. E ganhar uma medalha, por exemplo, é impensável no cenário atual. Por isso mesmo, os planos são de longo prazo.

Primeiro, a entidade criou um modelo de crescimento. Para uma federação seguir filiada ou se juntar à CBRu, precisa atender alguns requisitos, como número de clubes e adoção de categorias de base. Depois, criou um projeto para aproximar as escolas da modalidade, com profissionais ensinando professores de educação física a introduzir o rúgbi às crianças.

Desde o ano passado, existe o projeto Academias de Rúgbi. Hoje, são seis centros de treinamento em quatro estados que contam com 300 atletas jovens e adultos que treinam diariamente – conciliando estudos e trabalho. Esses atletas têm um plano definido de preparação física e técnica, com metas a serem atingidas. A partir do ano que vem, quem cumprir essas metas passará a receber um salário da CBRu.

Essas academias serão a espinha dorsal das seleções brasileiras. Os jovens talentos serão convidados a treinar por lá e as convocações para representar o Brasil serão definidas por meio das análises internas. “Quem quiser fazer parte da seleção, terá de ser aprovado e treinar na Academia. Não terá outra maneira. É um jeito de criar um plano de carreira para os atletas, deixar bem claro qual o caminho que o garoto precisa seguir para chegar ao alto rendimento. Hoje, esse caminho não é claro”, explica Augustin Danza, argentino que trabalha com consultoria de risco em multinacionais e CEO da CBRu.

Esse sistema vai, inclusive, aposentar atletas da seleção que não atingirem os níveis de profissionalismo exigidos. “Teremos metas individuais que serão exigidas. Podemos perder alguns nomes históricos, mas precisamos criar essa cultura”, completa Augustín.

Para os Jogos Olímpicos de 2016, porém, a geração que vai defender o Brasil na volta do rúgbi para a Olimpíada não terá passado por tudo isso. É a razão para que a cobrança de resultados seja adiada. Inicialmente, a CBRu falava em resultados já em 2019. Adiou um pouco: hoje, o plano admite briga pela vaga na Copa do Mundo de 2019 e nos Jogos Olímpicos de 2020, mas não uma obrigação de classificação. Isso virá, segundo os planos, para o Mundial de 2023 e os Jogos de 2024, quando toda uma geração de atletas terá sido criado pelo sistema.

Para você se situar: hoje o Brasil luta para ser a quarta força do esporte (entre os homens) na América do Sul, com o Chile. A Argentina é uma das potências da modalidade no planeta. E o Uruguai também está à frente de Brasil e Chile. No feminino, o Brasil tem dez títulos sul-americanos e é um dos dez melhores do mundo (no Sevens). Nos Jogos Olímpicos, a disputa é no Sevens, que, como o nome diz, é disputado por sete jogadores e com partidas mais rápidas, de dois tempos de sete minutos. No Mundial, a disputa é no rúgbi Union, para 15 atletas, partidas com dois tempos de 40 minutos - é a mais popular no mundo.

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