! Menos treinos e torcida pela mulher: como Scheidt espera Olimpíada aos 42 - 27/08/2015 - UOL Olimpíadas

Vídeos

Menos treinos e torcida pela mulher: como Scheidt espera Olimpíada aos 42

Camila Mamede

Do UOL, em São Paulo

Dois ouros, duas pratas e um bronze. Maior atleta olímpico do Brasil, Robert Scheidt deve disputar seus últimos Jogos em 2016, no Rio de Janeiro. Aos 42 anos, ele evita pensar na idade, mas fará uma preparação diferente e mais estratégica. Conhecido por dedicação e intensidade, o velejador terá de ser mais moderado para evitar lesões. Além disso, viverá um momento pessoal diferente: será competidor, mas também torcedor. O brasileiro é casado com a lituana Gintare Scheidt, que também defenderá seu país em 2016.

“Vai ser um desafio diferente. Até pelo meu momento de vida. Hoje, com dois filhos, casado, 42 anos. Mas, ao mesmo tempo, extremamente motivado”, garantiu Scheidt. “Certamente, é a Olimpíada em que preciso me preocupar mais com a preparação. Sempre tive a filosofia de fazer mais do que os outros, treinar mais, competir mais. Para aquilo me gerar a confiança de que fiz mais do que os outros. Agora é uma situação em que preciso fazer as coisas com mais inteligência, preciso dosar mais o meu treinamento, periodizar mais essa escalada até Rio-2016”.

Apesar de a classe Laser exigir bastante esforço, Scheidt afirma não sentir nenhuma dificuldade fisicamente. “A questão de competir com a idade mais avançada é administrar as lesões, não chegar com alguma dor ou incômodo na Olimpíada”, explicou. No início do ano, sofreu uma torção no joelho que exigiu uma artroscopia e o deixou sem velejar por seis semanas. A lesão já foi resolvida, mas a região ainda requer atenção na fisioterapia.

Scheidt tem controlado a alimentação, e planejado os treinos. “Vai ter momentos na temporada em que vou focar bastante na potência muscular, na base para a temporada. Em outros momentos, vou trabalhar mais a parte da água, a velejada por si só, e incluir uma natação, um alongamento, coisas que vão tirar um pouco da tensão do trabalho na água. Tudo isso, acompanhado de fisioterapia e preparação física, acaba sendo uma mistura interessante para se manter em forma”, explica.

Para Scheidt, a idade não deve ser uma inimiga, e sim uma aliada. “Vela não é só esporte físico. É um esporte estratégico, tático, mental. É um jogo de xadrez onde você também usa a parte física e não tem muito tempo para tomar decisões. E a experiência conta nisso”, aposta. Não à toa, o brasileiro se vê na disputa por uma medalha em 2016.

“Acho que a classe Laser hoje está sem alguém dominando. Não tem um atleta ganhando a maioria dos eventos. Se a Olimpíada fosse hoje, diria que os atletas mais constantes são o australiano Tom Burton, e o inglês Nick Thompson. Eu estou entre eles, entre os velejadores que estão para brigar por medalhas. Mas diria que são no mínimo oito e até dez velejadores que têm essa força e esse potencial”, analisa.

Scheidt analisa que sua temporada atual teve altos e baixos, com um início complicado pelo joelho, mas vê boas perspectivas para o futuro. Nas últimas semanas, conquistou a prata nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, e um quarto lugar no Aquece Rio, evento-teste da vela para os Jogos Olímpicos. E evita pensar em 2016 como sua última Olimpíada. “Em nenhum momento fico pensando quantos anos eu tenho, quantas Olimpíadas eu fiz. Meu passado não me garante nada. Tenho que continuar velejando bem, evoluindo. É o meu momento agora”.

“Como falei no início dessa campanha: se eu achasse que não teria chances, não teria nem começado. Eu continuo acreditando nas minhas possibilidades, sei que vai ser uma Olimpíada extremamente equilibrada e disputada. Mas eu tenho a experiência para velejar nesse nível e entregar no momento certo”, afirma.

Parceria e torcida pela mulher
Scheidt também vê a mulher na briga por uma medalha em 2016. Gintare, 32, foi campeã na classe Laser Radial do Aquece Rio. “A gente tem uma situação bem positiva lá em casa. Acho que temos duas chances de medalhas numa família só”, aposta. Orgulhoso, abre um sorriso largo sempre que descreve as qualidades da velejadora, que já conquistou a prata em Pequim-2008 e foi 6ª colocada em Londres-2012.

Gintare e Robert se conheceram em 2007, no evento-teste para Pequim-2008. Desde então, se casaram e tiveram dois filhos, Eric, 6, e Lukas, 2. “Agora eu preciso tomar cuidado porque talvez seja eu que tenha que ficar em casa cuidando das crianças, já que ela está com os melhores resultados em casa no momento”, brincou.

Além de torcer por Gintare, Scheidt também espera contar com sua parceria. “Seria positivo ter a companhia dela. A gente conversa muito sobre o que aconteceu no dia, a visão dela sobre a regata, a minha visão. Então acaba sendo uma ajuda mútua, um acompanha e ajuda o outro”, descreve. “Às vezes, dou algumas dicas para ela, às vezes pergunto como ela agiu naquela regata”.

“Mas acho que a força dela é a calma. É uma pessoa que não sente a pressão, sempre está muito tranquila e tem um grande instinto para ler o vento, perceber essas alterações que acontecem. Ela gosta muito de condições variáveis, então acho que a raia do Rio de Janeiro é muito boa para ela”, opina. E ter a mulher por perto, é claro, ajuda também quando o assunto deixa de ser vela. “Tem momentos em que você pode conseguir parar de pensar um pouco na competição. E estar com uma pessoa bem próxima a você te faz mais tranquilo, ajuda bastante”, conclui.

Topo