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Festa após eliminação na semi é a cara do atletismo brasileiro no Mundial

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

João Vitor de Oliveira terminou sua prova exultante. Saiu da pista do Ninho de Pássaro, em Pequim, machucado pela queda que sofreu no fim da disputa e comemorando muito na entrevista que concedeu à TV, empolgado por ter feito o melhor tempo de sua vida. Ainda assim, ele foi eliminado na semifinal dos 110 m com barreiras, terminando só na 18ª colocação.

Reprodução/Twitter/@SportsWkndScott
Empolgação de João chamou atenção de um americano, que registrou no Twitter imagem: Reprodução/Twitter/@SportsWkndScott

A empolgação, teoricamente, contrasta com o resultado, mas não se engane. O desempenho pessoal de João Vitor é notável. O paulista de 23 anos comemorava o resultado de seu esforço pessoal, já que depois de três anos estagnado no Brasil decidiu juntar todas as economias para ir treinar nos EUA com o ex-fundista Zequinha Barbosa.

Longe do país, teve de fazer uma nova vaquinha para viajar e competir no exterior em busca do índice para o Mundial. Conseguiu e baixou seu melhor tempo de 13s81 para 13s45, uma evolução considerável para apenas um ano, ainda que ele siga longe da elite da prova - Orlando Ortega, de Cuba, já fez 12s94 em 2015. 

Como João Vitor, outros brasileiros conseguiram feitos pessoais notáveis. No topo, a experiente Fabiana Murer ainda reforçou seu status e levou a prata em uma prova disputada, na qual repetiu sua melhor marca da carreira. Em um degrau mais abaixo, Caio Bonfim, sexto colocado na marcha atlética, e Núbia Soares, que fez sua melhor marca da temporada na eliminatória do salto triplo, estão entre os atletas que deixam Pequim com boas lembranças na bagagem. 

A questão é que o Brasil está a menos de um ano de disputar as Olimpíadas em casa, e era de se esperar que tivesse mais a comemorar do que marcas individuais, o que tem sido a tônica do país nas últimas edições. Há exatos quatro anos, no Mundial de Daegu, o Brasil foi a quatro finais, contra três alcançadas em Pequim até agora. Ainda que empate ou vire esse jogo até o fim do torneio, não se poderá dizer que o país cresceu como se espera de um país-sede no período, como mostram os números abaixo: 

- 38 atletas já competiram
- 2 (Fabiana Murer e João Vitor) fizeram a melhor marca da carreira
- 4 fizeram a melhor marca do ano
- 3 atletas (Fabiana Murer, Augusto Dutra e Keila Costa) foram para a final

Os números negativos já eram esperados e no atletismo não é tão comum fazer a melhor marca na principal competição da temporada, só que os problemas vão além. No Pan de Toronto, por exemplo, a delegação brasileira trouxe uma única medalha de ouro. Foi o pior desempenho em 44 anos do torneio. Em Pequim, não fosse a bela exibição de Fabiana Murer, o país também poderia ter passado em branco. Só que a prata não apaga o que está errado.

Brasil fora de provas tradicionais

É verdade que os revezamentos, apostas do Brasil em Pequim, ainda não começaram. Outras provas tradicionais, porém, não contam com representantes do país, o que ajuda a dar a medida da crise.

Não havia um brasileiro dividindo a raia com Usain Bolt na final dos 100 m rasos, a prova mais badalada do esporte mundial. O salto triplo masculino e o salto em distância feminino, provas que já renderam ouros olímpicos ao país, hoje não têm atletas do país entre melhores do mundo.

Em alguns casos, o Brasil sequer consegue o índice. O país não mandou nenhum representante às provas de fundo e meio-fundo em Pequim. Para quem não é familiarizado com o termo, significa dizer que as disputas de 1.500 m, 3.000 m com obstáculos, 5.000 m e 10.000 m não tiveram a presença de atletas verde-amarelos nem nas eliminatórias.

Dinheiro não falta

Não dá para dizer que o problema é investimento. A CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo) está no topo das entidades que mais recebem do governo via Lei Piva, por exemplo. O dinheiro das loterias colocou R$ 3,9 milhões no esporte só em 2015, mesmo valor investido em vôlei, vela, esportes aquáticos e judô, todos com resultados consideravelmente melhores.

A carteira fica ainda mais recheada se pesarmos o patrocínio da Caixa e outros projetos do Governo, como as bolsas distribuídas aos atletas e convênios do Ministério do Esporte.

Esse investimento todo faz com que o atletismo esteja na alça de mira dos críticos. O COB (Comitê Olímpico Brasileiro), por exemplo, foi dura na avaliação feita após o Pan. A própria CBAt teve de dar o braço a torcer. Admitir o problema, porém, é só o primeiro passo.

Há pouca esperança de medalha para 2016

A menos de um ano para os Jogos Olímpicos do Rio, é difícil imaginar uma mudança drástica que resulte em muitos pódios quando o mundo estiver voltado para o Engenhão. O impacto desse provável fracasso é grande.

A meta do COB é alcançar entre 27 e 30 pódios, colocando o Brasil no top 10 do quadro geral. O atletismo é o esporte que mais distribui medalhas nos Jogos, 141, e o país entrará na competição apostando em só uma delas: a que pode ficar com Fabiana Murer.

A saltadora é, hoje, a única esperança real de pódio para o Brasil no esporte, mesmo em uma modalidade especialmente disputada. Além dele, o país se escora, no máximo, em promessas como Thiago Braz (salto com vara), Marcus Vinícius (salto em distância) e Caio Bonfim (marcha atlética), que nunca conseguiram figurar entre os melhores de suas modalidades – o primeiro não passou à final em Pequim e o segundo não foi, lesionado.
 

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