De barco a técnicos, o que a vela do Brasil mudará do evento-teste até 2016
Guilherme CostaDo UOL, no Rio de Janeiro
Pelo menos para os brasileiros, nem tudo serviu como parâmetro no segundo evento-teste da vela para os Jogos Olímpicos de 2016, que serão realizados no Rio de Janeiro. Encerrada no último sábado (22), a regata internacional pode ter mostrado uma série de características estruturais que a Baía de Guanabara repetirá no ano seguinte. Esportivamente, porém, os donos da casa já sabem que terão de mudar em uma série de aspectos.
Isso vale até para as equipes que têm retrospecto recente mais positivo, como a dupla formada por Martine Grael e Kahena Kunze. O conjunto venceu a classe 49erFX do evento-teste e obteve a única medalha do Brasil no fim de semana.
“Nós sabemos que não podemos nos acomodar e que não podemos pensar no esporte de alto rendimento como algo definido desde agora. Temos um longo processo de construção até os Jogos Olímpicos, e isso vale para todas as classes. Mesmo no caso da Martine e da Kahena, o trabalho tem de recomeçar logo depois do evento-teste. Já queremos resolver nos próximos dias a compra de um barco novo para elas”, explicou Jorge Bichara, gerente-geral de performance esportiva do COB (Comitê Olímpico Brasileiro).
Martine e Kahena serão as representantes do Brasil na classe 49erFX em 2016. O país também já sabe quais serão seus velejadores na Laser (Robert Scheidt), na Laser Radial (Fernanda Decnop), na Finn (Jorge Zarif), na 470 feminina (Fernanda Oliveira e Ana Luiza Barbachan), na RS:X masculina (Ricardo “Bimba” Winicki) e na RS:X feminina (Patrícia Freitas). Faltam definições sobre 470 masculina, 49er masculina e Nacra 17.
“A eliminatória foi longa para que a gente desse oportunidade a eles de mostrar uma superioridade que levasse à escolha. Como essa superioridade não aconteceu nessas três classes, vamos ter uma decisão levando para a Copa Brasil, como estava determinado desde o princípio. A gente ainda tem mundiais de duas dessas três classes, e algumas performances excepcionais podem definir a eliminatória, mas tudo indica que tudo vai ser resolvido na Copa do Brasil, que é em última análise o sistema que a gente usou em todo o meu período como atleta. A gente teve oportunidade de alguém se destacar, como aconteceu em sete das dez classes”, explicou Torben Grael, diretor-técnico da CBVela (Confederação Brasileira de Vela).
Comprar equipamentos novos e definir os últimos representantes, porém, é apenas parte do que o Brasil tem de resolver na vela até os Jogos Olímpicos. Mesmo nas classes em que os classificados já são conhecidos, é necessário resolver pontos nevrálgicos da preparação dos atletas.
Na Finn, por exemplo, Jorge Zarif voltou a treinar há um mês e meio com o espanhol Rafael Trujillo, artífice de seu melhor momento – o brasileiro acumulou títulos mundiais júnior e adulto da classe em 2013, quando trabalhava com o técnico ibérico.
Zarif elogiou a participação de Trujillo no evento-teste, mas acabou apenas na nona posição. Numa temporada que não tem sido positiva para o brasileiro, a questão agora é uma contagem regressiva: há tempo suficiente para retomar até o ano que vem o padrão de desempenho de 2013?
O caso da RS:X é ainda mais complicado. Patrícia Freitas e Ricardo Winicki foram campeões pan-americanos em 2015, mas resolveram trocar seus técnicos depois da competição realizada em Toronto. Agora, enfrentam dificuldade para encontrar novos profissionais.
A situação de Patrícia é ainda mais delicada. Ela queria treinar com o neozelandês Tom Ashley, campeão olímpico da RS:X em Pequim-2008, mas ele atualmente trabalha com a China e recebe um salário que COB e CBVela consideraram proibitivo. A segunda opção foi outro neozelandês, mas também não houve acordo.
“Não é um técnico pessoal, mas para toda a classe. Precisamos encontrar alguém que possa desenvolver a equipe brasileira como um todo e que possa nos ajudar num projeto de proporção maior”, disse Torben.
A CBVela não estipulou data-limite para oficializar os técnicos de Bimba e Patrícia. A menos de um ano dos Jogos Olímpicos, o evento-teste esteve longe de mostrar tudo que a vela brasileira pode apresentar em 2016.