Paes admite gastos olímpicos fora do orçamento oficial dos Jogos
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, admitiu nesta sexta-feira (21) que o orçamento da Olimpíada de 2016 tem dados questionáveis. Horas depois de a APO (Autoridade Pública Olímpica) revisar o custo dos Jogos omitindo gastos considerados essenciais para o evento, o prefeito reconheceu que contas olímpicas não estão todas citadas no orçamento oficial. Mesmo assim, defendeu o critério adotado nas prestações de contas da Rio-2016.
"A gente estabeleceu um critério sobre o que entraria no orçamento", afirmou Paes, em entrevista coletiva. "Agora, existem coisas ligadas aos Jogos que não estão na matriz. Vocês (jornalistas) podem fazer a conta. Sempre existe uma flexibilidade."
Paes foi questionado nesta tarde sobre o fato de gastos da prefeitura com o mobiliário das vilas olímpicas não constarem do orçamento oficial dos Jogos. Também pelo fato de o valor das indenizações pagas a cidadãos removidos de suas casas por causa da Rio-2016 não constar da conta.
Ressaltou que o orçamento olímpico é dinâmico e pode ser alterado, incluindo itens deixados de fora. Destacou, contudo, que há uma infinidade de gastos que podem ser relacionados à Olimpíada e não serão contabilizados no orçamento oficial.
"Temos contratos com empresas para monitorar as obras, por exemplo", disse Paes. "Também há a hora extra do guarda municipal, do agente de trânsito, etc. O circuito do ciclismo foi todo recapeado. Podem incluir tudo isso se quiserem.”
Para Paes, aliás, a discussão sobre a inclusão ou não de contas no orçamento da Olimpíada só ocorre “por falta de notícias ou escândalos” sobre os Jogos. “Como não há superfaturamento e sobrepreço, surge essa questão. O que não falta transparência e fiscalização na Olimpíada.”
O prefeito afirmou que, a pouco menos de um ano para o início da Rio-2016, tudo corre dentro do esperado. Ele disse que boa parte do orçamento olímpico já foi definido (R$ 38,7 bilhões). Adiantou que pequenas variações no custo podem ocorrer caso surjam despejas de “última hora”.
“Sempre há um contingenciamento”, afirmou Paes. “Estamos trabalhando para que esta linha do orçamento permaneça vazia.”
Evolução dos custos
Em 2009, quando o Rio de Janeiro candidatou-se a sede dos Jogos de 2016, estimou-se no dossiê de candidatura que o evento custaria R$ 28,8 bilhões (valores da época). Esse valor corrigido pela inflação oficial, o IPCA, seria hoje cerca de R$ 43 bilhões. Isso significa que a Rio-2016 estaria hoje 10% mais barata que o previsto pela conta oficial. Só que difícil fazer essa comparação já que o governo não detalha todos os gastos de fato.
O custo dos Jogos do Rio também está atrás do investimento feito para a Olimpíada de Londres, em 2012. Os Jogos de Londres custaram mais de R$ 60 bilhões, considerados a taxa atual de conversão entre a libra (moeda britânia) e o real, que vem desvalorizando-se.
Hoje, porém, a Olimpíada de 2016 já custa 42% a mais do que a Copa do Mundo de 2014. De acordo com um balanço divulgado pelo governo federal após o Mundial de futebol, o torneio demandou investimentos de R$ 27,1 bilhões.
CONFIRA O ORÇAMENTO DA OLIMPÍADA DE 2016
Arenas – R$ 6,67 bilhões (valor atualizado nesta sexta)
Legado – R$ 24,6 bilhões (estimativa de abril)
Investimento do Comitê Rio-2016 – R$ 7,4 bilhões (valor atualizado neste mês)
CUSTO TOTAL – R$ 38,7 bilhões
Custo na candidatura – R$ 28,8 bilhões (em valores da época)
Custo da candidatura corrigido - R$ 43 bilhões (aproximado)
Custa da Copa de 2014 – R$ 27,1 bilhões
Custo de Londres-2012 – R$ 60 bilhões (câmbio atual)