Governo 'maquia' orçamento olímpico e omite gastos essenciais com Rio-2016
Rodrigo Mattos e Vinicius KonchinskiDo UOL, no Rio de Janeiro
A APO (Autoridade Pública Olímpica) revisou nesta sexta-feira (21) o orçamento oficial da Olimpíada. De acordo com as contas do órgão, os Jogos de 2016 custarão pelo menos R$ 38,7 bilhões. Esse valor, entretanto, está longe de ser o total gasto por governos e entidades privadas com o evento. A conta apresentada pela APO simplesmente omite custos da Rio-2016. E esse tipo de “maquiagem” colabora muito para a redução das estimativas de gastos com a Olimpíada.
O orçamento apresentado pela APO não considera, por exemplo, o gasto de cerca de R$ 62 milhões que a Prefeitura do Rio terá para mobiliar apartamentos das vilas olímpicas. A licitação para compra de geladeiras, camas e sofás para atletas e árbitros já foi lançada. No edital, a SMH (Secretaria Municipal de Habitação) informa que os móveis servirão para atender necessidades do Comitê Organizador da Rio-2016. Essa conta, porém, é ignorada no orçamento olímpico.
Também não está incluído no orçamento da Olimpíada a previsão de compras de equipamentos esportivos essenciais para os Jogos de 2016. Em fevereiro deste ano, o governo federal anunciou publicamente que gastaria cerca de R$ 100 milhões com bolas, redes, obstáculos e barcos. Tudo para a Rio-2016. Desde então, o orçamento dos Jogos Olímpicos já foi atualizado duas vezes (em abril, quando foi revisado o plano de legado, e nesta sexta, quando foi atualizada a chamada Matriz de Responsabilidades). Esse custo, contudo, nunca foi considerado na conta olímpica.
Ainda entram na lista de omissões do orçamento olímpico os gastos de R$ 14 milhões com a obra de saneamento da Marina da Glória, essencial para as competições de vela, e com o pagamento das indenizações a moradores da Vila Autódromo, retirados de suas casas para abrirem espaço para a construção do Parque Olímpico. O custo de remoção já passa de R$ 80 milhões.
Apesar disso tudo, o presidente interino da APO, Marcelo Pedroso, nega que haja “maquiagem” ou falta de transparência no orçamento olímpico. Segundo ele, as contas são “dinâmicas” e são atualizadas conforme prefeitura, governo do Estado e governo federal informam a APO seus gastos com os Jogos.
Para ele, custos não informados no orçamento hoje podem ser considerados no futuro. Tudo isso dependendo de como os entes governamentais os enxergarem.
Pedroso explicou que o orçamento olímpico é divido em três parte: a Matriz de Responsabilidades (lista de obras e projetos essenciais, principalmente em arenas esportivas), o Plano de Legado (lista de obras de infraestrutura e de melhorias urbanas prometidas para a Olimpíada) e o orçamento do Comitê Organizador Rio-2016 (recursos privados levantados pelo órgão para organização dos Jogos). Nesta sexta, foi revisada somente a Matriz de Responsabilidades. Contas que não entraram no documento podem aparecer no plano de legado, futuramente.
“O mobiliário das vilas olímpicas deve ter uma destinação futura. Por isso, essa conta pode entrar no plano de legado”, disse Pedroso, questionado sobre as incosistências da matriz. “Os equipamentos esportivos comprados pelo governo federal também serão um legado. A matriz considera somente o que está sendo feito essencialmente para os Jogos.” Ou seja, na sua visão, equipamentos esportivos de alto padrão seriam comprados pelo governo de qualquer forma.
Evolução dos custos
Em 2009, quando o Rio de Janeiro candidatou-se a sede dos Jogos de 2016, estimou-se no dossiê de candidatura que o evento custaria R$ 28,8 bilhões (valores da época). Esse valor corrigido pela inflação oficial, o IPCA, seria hoje cerca de R$ 43 bilhões. Isso significa que a Rio-2016 estaria hoje 10% mais barata que o previsto pela conta oficial. Só que difícil fazer essa comparação já que o governo não detalha todos os gastos de fato.
O custo dos Jogos do Rio também está atrás do investimento feito para a Olimpíada de Londres, em 2012. Os Jogos de Londres custaram mais de R$ 60 bilhões, considerados a taxa atual de conversão entre a libra (moeda britânia) e o real, que vem desvalorizando-se.
Hoje, porém, a Olimpíada de 2016 já custa 42% a mais do que a Copa do Mundo de 2014. De acordo com um balanço divulgado pelo governo federal após o Mundial de futebol, o torneio demandou investimentos de R$ 27,1 bilhões.
CONFIRA O ORÇAMENTO DA OLIMPÍADA DE 2016
Arenas – R$ 6,67 bilhões (valor atualizado nesta sexta)
Legado – R$ 24,6 bilhões (estimativa de abril)
Investimento do Comitê Rio-2016 – R$ 7,4 bilhões (valor atualizado neste mês)
CUSTO TOTAL – R$ 38,7 bilhões
Custo na candidatura – R$ 28,8 bilhões (em valores da época)
Custo da candidatura corrigido - R$ 43 bilhões (aproximado)
Custa da Copa de 2014 – R$ 27,1 bilhões
Custo de Londres-2012 – R$ 60 bilhões (câmbio atual)