Etiene vira referência com feito, mas para 2016 tem de baixar 1 segundo
Guilherme CostaDo UOL, em Kazan (Rússia)
Etiene Medeiros fez bonito ao conquistar a primeira medalha da natação feminina do Brasil em Mundiais. Feito histórico, atesta a evolução da nadadora que já havia sido destaque do país no Mundial de piscina curta em 2014 e agora pinta como referência da delegação na má fase de Cesar Cielo. Para repetir o pódio na Rio 2016, no entanto, ela ainda precisa evoluir um pouco, já que sua prata em Kazan foi nos 50m costas, uma prova não-olímpica.
Hoje, só os 100m costas estão no programa de competições dos Jogos, e para ir ao pódio nessa distância ela precisa baixar quase um segundo de seu melhor tempo. No Mundial, ela não foi bem e terminou a semifinal na nona colocação com 59s97. Se repetisse o tempo que lhe deu o ouro no Pan (59s61), ela seria a quinta colocada na final em Kazan.
Uma final no Rio de Janeiro, então, é provável, mas a chance de pódio ainda é limitada à evolução que ela tiver. A dinamarquesa Mie Nielsen, por exemplo, foi bronze no Mundial com 58s86, quase um segundo a menos que o melhor tempo da vida da brasileira. O que falta a Etiene é justamente melhorar em seus 50m finais, já que ela domina bem a primeira metade da piscina - além da prata nos 50m costas, ela também foi prata nos 50m livre, que não é sua especialidade, no Pan.
A projeção, no entanto, não anula o feito de Etiene, especialmente dentro do contexto do Brasil em Kazan. A equipe brasileira que disputa o Mundial de esportes aquáticos podia ser o time de Cesar Cielo. Dono do currículo mais laureado entre os representantes nacionais, o velocista sentiu uma lesão no ombro esquerdo, foi destronado nos 50m borboleta e deixou a Rússia sem sequer disputar os 50m livre.
Etiene não tem o currículo de Cielo e ainda não obteve conquistas olímpicas ou mundiais. No entanto, a medalha de prata que ela conseguiu nos 50m costas nesta quinta-feira foi um feito inédito para a natação feminina do Brasil. Para o atual estágio das mulheres da seleção, isso foi algo extremamente significativo.
“A medalha representa algo inédito para a natação feminina no cenário nacional. Isso está mobilizando outras meninas do Brasil a praticarem a natação e se espelharem nela, até para estarem no lugar dela. Isso é fantástico”, avaliou Fernando Vanzella, técnico da nadadora e treinador chefe das mulheres da seleção.
Antes do Mundial, Etiene já havia sido a primeira brasileira campeã mundial em piscina curta (em Doha-2014, também nos 50m costas). Além disso, empilhou feitos inéditos para uma mulher nascida no país sul-americano: ouro e recorde pan-americano (nos 100m costas de Toronto-2015) e o recorde mundial (nos 50m de Doha-2014).
“Ela bateu o recorde mundial de piscina curta e chegou aqui como a primeira do mundo, o que também foi uma experiência nova. Ela pensava em bater o recorde aqui também, e a gente conversou um pouco sobre isso. Na semifinal a gente tentou nadar o mais forte possível para chegar perto disso e depois ajustar. Ficou um pouco distante, mas ela melhorou e bateu o recorde sul-americano”, contou Vanzella, que ratificou o papel de protagonista da jovem no país.
“Isso é importante para ela. É um reconhecimento do trabalho que ela vem fazendo e é importante para o Brasil ter pessoas que puxem. Daqui a pouco, tomara, a gente pode virar uma potência no feminino”, ponderou Vanzella.
“Eu estou realmente sem palavras. Tem muita coisa acontecendo na minha carreira, muita coisa ao mesmo tempo. Tenho que filtrar bem as coisas. Lá no Pan foi uma história, e aqui está sendo outra. É bom porque eu não tenho tempo de pensar, mas ao mesmo tempo eu tenho de curtir cada momento”, contou a atleta.
Além do ouro nos 50m costas, Etiene obteve um nono lugar nos 100m costas. Ela ainda tem uma prova individual em Kazan-2015, os 50m livre, cujas eliminatórias estão marcadas para o próximo sábado (08). A brasileira entrará na disputa com o oitavo melhor tempo.