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Olimpíada já garantiu 5 cinco legados. Mas benefícios poderiam ser maiores

Armenio da Costa Dias
BRTs na Zona Oeste são legados já garantidos pela Olimpíada de 2016 imagem: Armenio da Costa Dias

Vinicius Konchinski

DO UOL, no Rio de Janeiro

Faltando um ano para o início da Olimpíada de 2016, o legado que o evento deixará ao Rio de Janeiro começa a tornar-se realidade. Obras e projetos iniciados a partir de 2009, quando a cidade foi escolhida sede dos Jogos Olímpicos, encaminham-se para sua fase de conclusão e comprovam que o megaevento esportivo não resultará só em dívidas ou elefantes brancos.

Acontece, porém, que o tal legado não deve ser aquele imaginado quando a capital carioca candidatou-se à sede do maior evento esportivo do mundo. A exatos 366 dias do início da Olimpíada, o UOL Esporte listou o que os Jogos de 2016 devem mesmo deixar para a população e também algumas promessas olímpicas já abandonadas.

LEGADO GARANTIDO

Gabriel Heusi/Portal Brasil 2016
Laboratório de controle de dopagem foi reaberto após reforma para os Jogos imagem: Gabriel Heusi/Portal Brasil 2016

1. Mais investimento no esporte
A Olimpíada de 2016 já ampliou o investimento estatal no esporte olímpico. Visando aos Jogos, o governo federal criou o plano Brasil Medalha e adicionou R$ 1 bilhão aos recursos estatais aplicados na preparação de atletas. Até Londres-2012, o governo investia R$ 1,5 bilhão nesses atletas durante quatro anos. De 2012 a 2016, vai investir R$ 2,5 bilhões. Com mais recursos, mais atletas passaram a ser beneficiados com bolsas para treinamento. O valor dos auxílios também aumentou.

2. Laboratório antidoping renovado
O Brasil ganhou um problema durante sua preparação para os Jogos Olímpicos de 2016: o Ladetec (Laboratório de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico) da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) perdeu sua credencial para realização de exames de controle de dopagem. O fato gerou uma crise na organização da Rio-2016. Gerou também uma ação imediata de autoridades brasileiras para evitar que os exames de doping da Olimpíada tivessem que ser realizados em laboratórios de fora do país. O Ladetec acabou reformado e recebeu novos equipamentos. Em maio deste ano, ele foi reavaliado e recuperou sua credencial da Agência Mundial Antidopagem (Wada, na sigla em inglês). Está agora apto para ser utilizado nos Jogos. Poderá também ser usado para controle de dopagem em qualquer outro evento esportivo realizado no Brasil e também para o acompanhamento periódico da preparação de atletas nacionais.

3. Transporte urbano melhor
É certo que nem todos os corredores de ônibus prometidos um dia para os Jogos Olímpicos estarão prontos em 5 de agosto de 2016. É inegável, porém, que o sistema de transporte do Rio será muito melhor daqui a um ano do que era em outubro de 2009, quando a cidade foi escolhida sede da Olimpíada. Hoje, duas novas linhas de BRT (Bus Rapid Transit) incluídas no sistema de transporte dos Jogos já estão operando: a TransOeste e a TransCarioca. Em 2016, a prefeitura ainda promete inaugurar o BRT TransOlímpica, além do VLT (veículo leve sobre trilhos) do centro da cidade.

4. Mais leitos em hotéis
O turismo do Rio será um dos grandes beneficiados pela realização da Olimpíada de 2016. A cidade pode dobrar sua capacidade hoteleira por causa dos Jogos. Em 2009, hotéis da capital fluminense tinham 20 mil leitos. O COI (Comitê Olímpico Internacional) exigiu que esse número chegasse a 40 mil. A prefeitura lançou um programa de incentivo fiscal para estimular a construção de hotéis na cidade. No início do ano, um balanço divulgado pelo município apontava que a disponibilização de 36 mil leitos já estava garantida para 2016, fora o número de leitos disponíveis em residências postos para aluguel por causa dos Jogos.

5. Porto revitalizado e Zona Oeste integrada
Duas grandes áreas do Rio de Janeiro serão especialmente beneficiadas pela realização dos Jogos Olímpicos de 2016: a região portuária e a Zona Oeste. A área do porto do Rio é a mais antiga da cidade e, há anos, o local demandava uma revitalização. Um projeto para isso surgiu no início de 2009. Em outubro do mesmo ano, porém, ganhou um incentivo enorme: a Olimpíada. Levando em conta os Jogos, mais de R$ 8 bilhões foram aplicados na ação Porto Maravilha, que já é um legado da Rio-2016. O megaevento esportivo também trouxe melhorias para a Zona Oeste. A região concentra quase metade da população carioca. Até 2012, contudo, não contava que um sistema de transporte de alta capacidade. Isso mudou depois que a área foi escolhida como o local das duas maiores áreas de competição da Olimpíada: o Parque Olímpico e o Parque de Deodoro.

LEGADO EM XEQUE

Júlio César Guimarães/UOL
Construção de nova linha do metrô tem alto risco de não ficar pronta para Rio-2016 imagem: Júlio César Guimarães/UOL

1. Futuro do Parque Olímpico
O futuro das arenas do Parque Olímpico ainda está em xeque. Governo federal e Prefeitura do Rio de Janeiro ainda não entraram num acordo sobre o que será feito das arenas que ambos estão construindo ou reformando em parceria. O governo federal, oficialmente, ainda está estudando a melhor forma de usar os ginásios depois da Rio-2016. Já se sabe, porém, que a intenção dele é transformar a estrutura esportiva deixada pela Olimpíada em um grande centro de treinamento para atletas. A prefeitura, contudo, tem o seu próprio plano para as arenas olímpicas. O município até entende que elas podem ser usadas por atletas de elite. Entretanto, apresentou no final do mês passado um projeto para que espaços esportivos também abriguem uma escola, projetos sociais e até eventos de entretenimento. Enquanto município e governo federal não chegam a um acordo, o futuro do Parque Olímpico segue indefinido.

2. Nova linha de metrô
Uma das maiores promessas ligadas à Olimpíada é a da construção de uma nova linha de metrô ligando a Zona Sul do Rio de Janeiro e a Barra da Tijuca. A obra da chamada Linha 4 começou em 2010. Desde então é acompanhada de perto por membros do COI (Comitê Olímpico Internacional) devido ao prazo apertado para sua conclusão. O governo do Estado repetidas vezes já afirmou que a linha estará operando nos Jogos Olímpicos. Acontece que vários incidentes, como vazamento de cimento em áreas por onde passa a obra, já causaram atrasos. No mês passado, o TCE-RJ (Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro) classificou a obra como de alto risco de não conclusão a tempo para a Olimpíada.

3. Reforma do aeroporto
A reforma do Aeroporto Internacional do Galeão era uma promessa de legado da Copa do Mundo de 2014. Não foi cumprida, assim como muitas outras feitas anos antes do Mundial de futebol. Acabou, então, adiada para a Olimpíada de 2016. Concluí-la a tempo dos Jogos Olímpicos, entretanto, ainda é um desafio. Já visando à Olimpíada, o governo federal repassou à iniciativa privada a administração do Galeão, junto com a responsabilidade sobre sua reforma. A concessionária Rio Galeão assumiu o espaço e comprometeu-se a investir até R$ 2 bilhões no aeroporto para os Jogos. A renovação dos terminais de embarque e desembarque, além da construção de um novo estacionamento, devem estar prontos até abril do ano que vem. Hoje, porém, a reforma consta do plano oficial de legado da Rio-2016.

PROMESSAS ABANDONADAS

Marcelo Sayão/EFE
Tratamento de esgoto que à Baía de Guanabara ficará para depois da Rio-2016 imagem: Marcelo Sayão/EFE

1. Despoluição da Baía de Guanabara
Em 2009, quando o Rio de Janeiro, candidatou-se à sede dos Jogos Olímpicos de 2016, o Estado prometeu tratar ao menos 80% do esgoto que chega à Baía de Guanabara. Isso seria um dos grandes legados que a Olimpíada deixaria para o Rio e sua região metropolitana. Acontece que a meta foi definitivamente abandonada. O Estado anunciou nesta semana que ela era irreal. Portanto, persegui-la foi um erro. O governo, agora, está estudando um novo plano de recuperação da Baía de Guanabara. O novo projeto deve usar a Olimpíada como incentivo para ações de limpeza do espaço. Pesquisadores envolvidos na iniciativa, porém, já estimam que a Guanabara só deve estar limpa em 2035.

2. Recuperação das Lagoas de Jacarepaguá
Outra promessa olímpica que acabou abandonada foi a da recuperação ambiental da Lagoas de Jacarepaguá. Essas lagoas ficam exatamente ao lado do Parque Olímpico da Rio-2016. Sofrem há anos com assoreamento e o despejo irregular de esgoto. Foram, então, incluídas num projeto milionário de recuperação apresentado pelo governo do Estado. Esse plano nunca saiu do papel. A assinatura do contrato para realização das obras necessárias no complexo lagunar foi adiada por meses pelo próprio governo devido a suspeitas de fraude na licitação. Depois, o Ministério Público passou a questionar o projeto para as lagoas por falta de estudos de impactos ambientais. Resultado: mesmo que a obra começasse hoje, já não seria possível recuperar as lagoas a tempo da Rio-2016.

3. Reforma do Complexo Esportivo do Maracanã
A Olimpíada de 2016 foi usada como justificativa para a realização de novas obras no Complexo Esportivo do Maracanã. Em 2013, após desistir de demolir o Estádio de Atletismo Célio de Barros e o Parque Aquático Julio Delamare, que ficam ao lado do estádio, o governo do Estado prometeu reformar os dois espaços até os Jogos Olímpicos. O Julio Delamare, aliás, receberia obras inclusive para receber competições olímpicas de pólo aquático. Acontece que o tempo passou e nada foi feito. O prazo ficou curto e o Estado desistiu de revitalizar os equipamentos do Maracanã até a Olimpíada. Não há data para que o projeto saia do papel.

4. Plantio de 34 milhões de árvores
A Olimpíada do Rio tem como missão a sustentabilidade. Levando isso em consideração, o governo estadual prometeu promover o plantio 34 milhões de árvores no Estado até o final de 2015 para compensar emissões de gases causadores do efeito estufa ligadas à realização dos Jogos Olímpicos. A meta, contudo, também foi abandonada. Mais de 5,5 milhões árvores até chegaram a ser plantadas. Mesmo assim, o número deixou de ser perseguido. O governo alega que fez novas previsões sobre as emissões de gases causadores do efeito estufa e percebeu não seria mais necessário o plantio de tantas mudas. O Estado, porém, nunca divulgou uma nova meta olímpica de reflorestamento.

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