Obras atrasadas, crise econômica + 6 obstáculos a superar até Rio-2016
Vinicius KonchinskiDo UOL, no Rio de Janeiro
Daqui a um ano –sem chance de adiamento--, o Rio de Janeiro sediará o maior evento de sua história: a Olimpíada de 2016. E até lá, não são poucos os desafios que a cidade tem de superar para que tudo corra bem durante os Jogos Olímpicos.
Obras a concluir, segurança a melhorar e uma baía para limpar são só algumas das tarefas a serem cumpridas pelos organizadores dos Jogos até 5 de agosto do ano que vem. Para que você acompanhe a reta final de preparação da capital carioca para a Olimpíada, o UOL Esporte listou os oito obstáculos a serem superados.
1. Faltam entregar 30 arenas
A maioria das arenas da Olimpíada de 2016 ainda não está pronta para o evento. Dos 37 espaços de competição, só sete estariam aptos a receber disputas esportivas caso os Jogos começassem hoje: seis estádios de futebol (Arena São Paulo, Arena da Amazônia, Fonte Nova, Mané Garrincha, Mineirão e Maracanã) e o sambódromo, que sediará as provas de tiro com arco. Concluir a construção ou adaptação das 31 sedes esportivas restantes é um dos maiores desafios que o Rio de Janeiro têm que superar até o início dos Jogos Olímpicos. Organizadores do evento afirmam que nenhuma obra em arena representa algum risco para o evento. Órgãos de fiscalização como o TCU (Tribunal de Contas da União), entretanto, já apontaram atrasos significativos na construção do Centro Olímpico de Tênis, do Velódromo e do Parque de Deodoro.
2. Tem jeito de limpar essa água?
A promessa olímpica de tratar até 80% do esgoto despejado na Baía de Guanabara para Jogos de 2016 não será cumprida. Isso até o governador Luiz Fernando Pezão já admitiu. Independentemente de seu saneamento, porém, a baía vai receber as competições de vela na Olimpíada. As águas do Rio também serão palco da maratona aquática e do triatlo. Garantir as condições mínimas de navegabilidade e uso no local é mais um dos desafios a serem superados até agosto do ano que vem. O governo do Rio de Janeiro reiniciou no mês passado o recolhimento do lixo que chega à Baía. Segundo o governo, 17 novas barreiras para contenção do lixo estarão funcionando na foz de rios que desaguam na Guanabara até a Olimpíada. Hoje, nenhuma está instalada.
3 . Linha do metrô é essencial para os Jogos
O funcionamento do esquema de transporte da Olimpíada depende da inauguração de uma linha de metrô no Rio. A construção dessa nova linha é um desafio a ser superado até agosto de 2016, e também um grande motivo de desconfiança. A obra da chamada Linha 4, que ligará a Zona Sul do Rio à Barra da Tijuca, começou em 2010. Desde então é acompanhada de perto por membros do COI (Comitê Olímpico Internacional) devido ao prazo apertado para sua conclusão. O governo do Estado repetidas vezes já afirmou que a linha estará operando nos Jogos Olímpicos. Acontece que vários incidentes, como vazamento de cimento em áreas por onde passa a obra, já causaram atrasos. No mês passado, o TCE-RJ (Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro) classificou a obra como de alto risco de não conclusão a tempo para a Olimpíada.
4. Por uma Olimpíada pacífica
A segurança é uma preocupação para a realização de qualquer grande evento, em qualquer parte do mundo. Recentemente, o assunto ganhou ainda mais importância na organização da Rio-2016, principalmente após o aumento do número de mortes em operações policiais e de vítimas de balas perdidas na capital fluminense. De janeiro a junho de 2015, 86 pessoas já morreram no Rio de Janeiro após serem atingidas por tiros de autores desconhecidos. Nos mesmos seis meses do ano passado, haviam sido 23. Já de janeiro a maio deste ano, 303 pessoas morreram em conflito com a polícia. Em período semelhante de 2014, haviam sido 242. O governo do Rio reconhece a gravidade da situação, mas considera que tem condição de garantir a segurança de turistas que virão para a Olimpíada. O Estado já avisou organizadores dos Jogos que não empregará policiais na segurança de arenas olímpicas ou de autoridades. Isso porque o deslocamento de agentes para áreas de interesse exclusivamente olímpico poderia desguarnecer o efetivo para segurança da cidade como um todo. O governo federal será o responsável pela segurança de arenas.
5. A crise também afeta os Jogos
O COB (Comitê Olímpico do Brasil) e o governo brasileiro lançaram a candidatura do Rio à sede da Olimpíada há nove anos, quando o Brasil passava por um bom momento econômico. De 2006 para cá, entretanto, a situação é diferente. Faltando um ano para o início dos Jogos, o governo federal e fluminense promovem um corte de gastos e a economia nacional encolhe. Isso é mais um desafio para a realização do maior evento esportivo do mundo. Em abril, o prefeito Eduardo Paes revelou que o governo federal atrasou os repasses para a construção do VLT (veículo leve sobre trilhos) do Centro do Rio, uma promessa olímpica. No mês passado, Paes foi obrigado a mudar de três contratos para obras no Parque Olímpico depois que a União negou-se a pagar por aumentos no custo do Centro Olímpico de Tênis observados durante a execução do projeto. Por causa da falta de dinheiro também, o governo do Estado do Rio tem transferido ao Comitê Organizador da Olimpíada (órgão privado) algumas responsabilidades assumidas na candidatura do Rio à sede dos Jogos. O Estado ainda criou uma lei de incentivo para tentar captar dinheiro de empresas para projetos olímpicos.
6. As empreiteiras dos Jogos estão no Lava-Jato
As investigações sobre o esquema de corrupção na Petrobras lançaram uma ameaça sobre as maiores e mais importantes obras olímpicas. Isso porque, de cada R$ 100 investidos na Olimpíada, R$ 73 foram destinados a construtoras suspeitas de formar um cartel para fraudar licitações da estatal. São elas: Andrade Gutierrez, Odebrecht, OAS, Mendes Junior, Queiroz Galvão e Camargo Correa. Executivos de algumas dessas companhias, como Marcelo Odebrecht, estão presos. Desses, alguns já foram até condenados pela Justiça. Tudo isso botou em dúvida a capacidade dessas empresas de concluir compromissos assumidos para a Olimpíada. Organizadores do evento dizem que, até agora, nada foi comprometido. Fato é que a Mendes Junior já abandonou ao menos uma obra milionária prometida para a Olimpíada depois de ser envolvida nas investigações. O contrato com a empresa para o desvio do Rio Joana, projeto fundamental para combate a enchentes no estádio do Maracanã, foi rescindido. Por isso, a obra não ficará mais pronta até o início dos Jogos de 2016.
7. A Olimpíada está no tribunal
Ao menos duas obras de locais de competição de Olimpíada de 2016 correm o risco de ser paralisadas pela Justiça. A reforma da Marina da Glória, espaço de apoio das regatas olímpicas, e a construção do campo de golfe da Rio-2016 estão sendo contestadas judicialmente por uma associação de moradores e pelo MP (Ministério Público), respectivamente. No caso da Marina, aliás, a obra chegou a ser paralisada no mês passado devido a uma decisão liminar obtida pela Fam-Rio (Federação das Associações de Moradores do Município do Rio de Janeiro), que contesta a autorização da reforma num lugar tombado. Hoje, a obra corre normalmente, mas o processo ainda não foi definitivamente julgado. O mesmo acontece com o campo de golfe da Olimpíada. O MP alega que o projeto degrada uma área de proteção ambiental. A Justiça já negou um pedido de liminar para paralisação do projeto. Contudo, o processo judicial contra o campo de golfe segue em tramitação. Em caso de sentença favorável ao MP, ele teria que parar.
8. A remoção polêmica
Uma comunidade com, hoje, cerca de uma centena de famílias é o maior entrave para a conclusão da maior obra esportiva para a Olimpíada de 2016, o Parque Olímpico. A Vila Autódromo fica exatamente ao lado do parque. De acordo com a prefeitura, ela precisa ser parcialmente removida para abrir espaço para vias de acesso e um estacionamento que servirão à maior área de competições dos Jogos de 2016. Essa remoção começou há dois anos. Na época, viviam na Vila Autódromo cerca de 500 famílias. Após receber uma proposta de indenização da prefeitura, a maioria delas já concordou em deixar suas casas, instaladas à beira da Lagoa de Jacarepaguá, numa área de infraestrutura precária. Acontece que os que ali ficaram prometem não sair independentemente do valor da indenização que podem receber. Em junho, a prefeitura tentou demolir casas remanescentes da Vila Autódromo e gerou um confronto no espaço. O futuro do bairro está indefinido.