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Campeão olímpico fugiu de prisão nazista entortando barras com as mãos

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Daniel Lisboa

Do UOL, em São Paulo

Você está trancafiado em um campo de prisioneiros nazista, mas um de seus companheiros de cela é um fortão descomunal que liberta todo mundo entortando as barras de ferro da janela com as próprias mãos. Coisa de filme ou desenho animado? Parece, mas alguns dos detidos no campo de Stalag II-D realmente passaram por isso. Pudera: entre eles estava um dos homens mais fortes, senão o mais forte, de sua época, o francês campeão olímpico Charles Rigoulot.

Talvez libertar companheiros da prisão “à unha” pareça um feito e tanto, mas, quando se conhece a carreira de Rigoulot, tem-se a impressão de que isso foi fichinha. Ele levou a medalha de ouro em levantamento de peso nas Olimpíadas de Paris em 1924 batendo os favoritos Fritz Hünenberger, campeão europeu em 1921, o medalhista de prata nas Olimpíadas da Antuérpia em 1920, Jaroslav Skobla, e o então campeão mundial da categoria, Leopold Friedrich. O francês levantou 502,5 quilos em uma época em que a modalidade era dividida em cinco e incluia provas como levantamento de peso com uma só mão. Hoje, o resultado final é a soma do conquistado em duas ações diferentes (arranque e arremesso), o que inviabiliza comparações entre épocas. Além disso, a Federação Internacional de Halterofilismo (IWF, em inglês) reorganizou as classes de peso em 1998, determinando padrões mundiais e validando apenas os recordes conquistados a partir daquele ano.

Mas o título olímpico é uma conquista entre as centenas de resultados incríveis de Rigoulot, que bateu nada menos que 56 recordes mundiais em levantamento de peso de acordo com o jornal francês “Le Point”. Ainda segundo o veículo, no caso dos diversos tipos de provas de resistência com pesos das quais Rigoulot participou, seu número de recordes mundiais é ainda mais absurdo e chega a 111. E olha que ele só parou em 1931, quando, talvez entediado por não ter um adversário à altura, se feriu ao tentar levantar 185 quilos.

A especialidade do Rigoulot foi o chamado “eixo de Apollo”, que consiste em uma viga de 5 centímetros de diâmetro com rodas soldadas nas extremidades. O peso máximo que o francês conseguiu projetar foi de 162 quilos e 400 gramas. Mas, veja bem: aqui falamos apenas de uma de suas virtudes.

Porque Rigoulot – pasme – começou sua carreira de atleta como corredor de cem metros. Ele também foi piloto, e participou até da famosa 24 horas de Le Mans em 1937. O francês fortão também deu as caras no wrestling e no telecatch, e tem inclusive uma luta sua com um colega filmada em 1951. Mas, mostrando que a ideia de “versatilidade” assume um novo patamar no seu caso, Rigoulot foi além dos esportes e também encarnou o ator, o artista de circo e o cantor.

Deportado para a Alemanha como prisioneiro durante a Segunda Guerra, ele acabou, para completar sua peculiar existência, protagonizando a cena do início da reportagem. Infelizmente, ele e seus colegas acabaram recapturados. Rigoulot, porém, retornou à França após o conflito, onde voltou a se envolver com o cinema e morreu de câncer em 1962.

 

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