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No taekwondo, sai Anderson Silva. Entram as musas do esporte

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

Quando Anderson Silva disse que iria treinar para buscar uma vaga nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro no taekwondo, muita gente viu na decisão uma jogada de marketing. De um lado, um astro do MMA em meio a uma investigação de doping. Do outro, uma modalidade pequena em busca de espaço na imprensa. O “Spider” apareceu em jornais de todo mundo. Nas costas, um painel com o logo da Confederação Brasileira de Taekwondo. Os dois lados pareciam satisfeitos.

Na semana passada, o empresário do lutador de UFC anunciou que seu atleta não iria mais tentar a vaga no Rio-2016. Após dar entrevista revelando o plano olímpico e postar em suas contas nas redes sociais fotos de treinamentos feitos com todos os itens de segurança do esporte, Anderson Silva preferiu seguir se dedicando exclusivamente ao MMA.

Com Anderson Silva fora do quadro, a Confederação não ficou parada. Sem uma estral com poder de atrair a mídia por seus feitos esportivos (mesmo que em outra modalidade), o taekwondo resolveu usar uma arma comum, mas muito eficaz na busca por atenção: resolveu mostrar a beleza de suas atletas.

“É marketing. A gente não tem dinheiro, então precisa tirar coelho da cartola. Estamos tendo ideias e colocando a mão na massa. Não considero o concurso ofensivo para as mulheres. No taekwondo, as atletas competem com máscaras, proteções e o público não consegue ver quem está lutando direito. Agora, poderão ver quem são as atletas e comprovar que é um esporte que pode ser praticado, também, por quem busca um corpo mais definido”, disse o presidente da entidade, Carlos Fernandes.

É uma resposta para o problema que o caso Anderson Silva se tornou para o taekwondo brasileiro. Quando a Confederação aceitou o lutador de MMA no processo de seleção olímpica, muita gente criticou. Um deles foi o número 1 do Brasil na categoria, Guilherme Felix. Ânimos acalmados, veio a pior parte: após pedir uma chance, Anderson desistiu. E nem ligou para a Confederação para dizer: “valeu pela chance, mas agora não dá”.

Carlos Fernandes, sobre Anderson Silva

  • O taekwondo não vai ter um Homem-Aranha. Mas podemos buscar os nossos Homens de Ferro, as nossas Mulheres Maravilha

    Carlos Fernandes, presidente da CBTKD, sobre a desistência de Anderson Silva, o Spider

“O balanço de tudo foi negativo. Abrimos as portas e ele nem mesmo se preocupou em nos avisar sobre a decisão. Soubemos por terceiros. Isso não é a atitude de um super-herói”, completou Carlos.

Não deixa de fazer sentido. O momento, porém, não é dos melhores para usar a beleza feminina para promover um esporte. Na semana passada, o jornal The Globe and Mail, do Canadá, publicou uma frase do novo coordenador de futebol feminino da CBF, Marco Aurélio Cunha, que gerou polêmica: ele dizia que as atletas passaram a usar maquiagem, ficando mais bonitas e femininas, ao comentar sobre o crescimento do esporte. Choveram críticas.

Durante a semana, mais um caso que gerou gritos de misoginia. Ao entrevistar atrizes do seriado Orange Is The New Black, sobre detentas de um presídio feminino, o repórter Rafael Cortez foi acusado de sexista, recebeu respostas atravessadas e foi massacrado nas redes sociais.

Marco Aurélio Cunha, sobre o futebol feminino

  • Derek Sismotto

    Agora as mulheres estão ficando mais bonitas, passando maquiagem. Elas vão a campo de uma maneira mais elegante. Futebol feminino costumava copiar o futebol masculino. Até nos modelos de camisa, que era masculino. Nós vestíamos as meninas como garotos. Então faltava o espírito de elegância, de feminilidade. Agora os shorts são mais curtos, os cabelos são bem feitos. Não são mulheres vestidas como homens

    Marco Aurélio Cunha, coordenador de futebol feminino da CBF

A ação do taekwondo ainda não foi alvo de críticas do tipo. Mas o assunto é delicado para as atletas. O UOL Esporte conversou com Raphaella Galacho, atleta que vai para os Jogos Pan-Americanos de Toronto, no mês que vem. “Eu acho positivo. Que mulher não gosta de se sentir bonita? E esse tipo de ação mostra para as mulheres que elas podem praticar o takwondo e manter a feminilidade”. Mas ela participaria da ação? “Acho que não... Não gosto muito desse tipo de exposição”. Detalhe: ela acabou sendo “vítima desse tipo de exposição” em 2011, no Pan de Guadalajara, quando foi eleita uma das musas da delegação brasileira, graças as fotos que publicava em suas contas nas redes sociais.

Raphaella Galacho, sobre Pan de 2011

  • Divulgação/COB

    Foi algo que eu não esperava, não procurei. Quando voltei para o Brasil, até apareceram alguns convites para trabalhar como modelo, mas, com a nossa agenda corrida, de treinos e competições, não dá para conciliar

    Raphaella Gallacho, atleta do taekwondo que foi eleita uma das musas do Pan de Guadalajara, em 2011. Mesmo sem querer
De volta ao concurso, o Musa do Taekwondo está em sua reta final, com 12 candidatas ao título: Amanda Brazão, Bianca Abreu, Iasmin Lanzelotti, Jamila Rodrigues, Letícia Farias, Naiane Bispo, Paloma Lima, Rafaela Pimentel, Soraia Leite, Verônica Kunrath, Vitória Lima e Wendy Lee. Quem quiser votar, pode ir até a página da CBTK no Facebook ou direto na página de votação.

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