Gênio da ginástica aterroriza técnicos brasileiros sem falar português
Bruno Doro e Fábio AleixoDo UOL, em São Paulo
O russo Alexander Alexandrov chegou ao Brasil no segundo semestre de 2013 com uma missão: fazer com que a nova geração da ginástica brasileira cumpra seu potencial e se torne uma potência olímpica. Na sua lista de tarefas aparecem desafios como aprimorar a técnica do treinadores com quem trabalhar, afinar a potência de jovens talentos e determinar quais das veteranas ainda podem contribuir com o time brasileiro.
Não faz parte da lista, porém, falar português. E isso tem sido uma verdadeira dor de cabeça para quem trabalha com ele. “Ele não é uma pessoa fácil”, admite Georgette Vidor, coordenadora de ginástica artística feminina na Confederação Brasileira e uma das responsáveis pela contratação. “Ele não fala português. Fala um inglês quebrado. E nossos técnicos não falam russo. A comunicação é um desafio diário”.
A barreira linguística desaparece dois dias por semana, quando uma tradutora acompanha os passos de Alexandrov pelo ginásio em que as atletas treinam. Uma coreografa do time também é russa e fala português. E também ajuda. Segundo ele, é o suficiente. “Não, eu não falo português. Mas isso não é um problema. Tenho pessoas que me ajudam”, limita-se a dizer o treinador.
São poucas palavras, mas mostram uma objetividade fria. Nos treinos, segundo quem a reportagem do UOL Esporte ouviu, ele é muito mais falante. E bravo. É só perguntar para as atletas o que elas acham do treinador que, para os brasileiros, é chamado de o melhor do mundo. Todos elogiam. Mas o semblante mostra que existe, sim, algo de aterrorizante naquele senhor de cabelos brancos e cara de poucos amigos. “Ele é bem rígido. Faz a gente trabalhar bastante”, diz Flávia Saraiva, campeã olímpica da juventude no ano passado.
“A gente vê que ele tenta, se esforça, mas às vezes fica frustrado por não conseguir passar o que está querendo. Mas todo mundo que trabalha com ele percebe que ele traz muita experiência. É o preço que pagamos para ter o melhor técnico do mundo aqui. E acho que estamos fazendo o certo”, completa Georgette.
Falando português ou não, Alexandrov já está deixando sua marca. Flávia Saraiva e Rebeca Andrade têm apenas 15 anos e começaram a competir entre as adultas só nessa temporada. Mas já têm resultados expressivos. Flávia conquistou uma medalha de ouro logo em sua estreia em Copas do Mundo. Rebeca conseguiu notas que a fariam finalista no último Campeonato Mundial.
“O diferencial do trabalho do Alexandrov é que ele trabalha direto com os treinadores. Passa ideias e filosofias e nós, os técnicos, que ficamos responsáveis a transmitir isso para as atletas”, diz Keli Kitaura, técnica de Rebeca Andrade. “Ele é um grande treinador e tem muito a passar. E a convivência com ele é muito boa”, completa Alexandre Carvalho, que trabalha com Flávia.
Currículo recheado
Nos Jogos Olímpicos Londres 2012, Alexandrov comandou a seleção feminina de seu país na conquista de seis medalhas, entre elas a prata por equipes. Também em Londres, sua pupila Aliya Mustafina foi ouro nas barras assimétricas e conquistou outros dois bronzes. Ao todo, Alexandrov contabiliza 15 medalhas olímpicas, sendo seis de ouro.
O russo esteve presente nos Jogos de Seul 88, Barcelona 92 e Londres 2012. Durante um período da carreira, entre 1994 e 2000, foi morar nos Estados Unidos, onde preparou diversos atletas para os Jogos Olímpicos.
Após a Rússia passar em branco, sem nenhuma medalha na ginástica nos Jogos Olímpicos Pequim 2008, foi convidado a voltar para atuar como treinador-chefe do país em Londres 2012.
Em 2011 recebeu da Federação Russa de Ginástica o prêmio Gratidão Pessoal por Grandes Realizações em Ginástica Artística.