A melhor maneira de passar uma notícia muito importante para uma jovem brasileira de classe média de 16 anos é: 1) por Whatsapp e 2) pelo Facebook. Email? Coisa do século passado. Senão, vejamos: a pernambucana Renata Arruda, 16, por pouco não ficou de fora da convocação de uma seleção brasileira campeã mundial por causa dessa evolução tecnológica.

Aconteceu no início do mês. O dinamarquês Morten Soubak, treinador da seleção brasileira feminina de handebol, surpreendeu na lista de convocação para o Campeonato Pan-Americano, que se iniciou ontem, em Havana, em Cuba. Entre as 21 relacionadas estava o nome de Renata, goleira do Clube Português Aeso, de Recife.

O chamamento veio de forma oficial, via email timbrado da CBHand (Confederação Brasileira de Handebol), caiu na caixa de entrada de Renata em 6 de maio. A maioria das jogadoras respondeu no mesmo dia. Passou o dia 7 e nada de resposta da goleira, a mais jovem da lista e que, esperava-se, seria a mais eufórica e a primeira a responder a convocação. Mas aí chegou o 8 de maio e foi preciso que a confederação usasse o Whatsapp para passar o recado.

“A Rita Orsi [surpervisora da seleção] mandou mensagem estranhando por eu não ter respondido à convocação. Foi ela que me alertou que estava lá no meu email”, contou, entre risadas tímidas, Renata. “É que eu quase nunca abro email, não tenho costume de receber emails, quem quiser falar comigo, chama no Whatsapp ou no Facebook”, justificou-se.

Ela finalmente respondeu ao chamado de Soubak e passou cinco dias treinando com a seleção brasileira em São Caetano do Sul, até a última terça-feira. “Fiquei tão feliz com este email que quase quebrei a porta do banheiro de casa, correndo feito uma doida, comemorando”, relembrou a goleira.

Desenvolvimento
A convocação de Renata Arruda é um indício de que o dinamarquês Morten Soubak se preocupa com o futuro da seleção brasileira. A pernambucana ainda está em idade de disputar competições da categoria júnior. O técnico a viu defendendo o Clube Português em uma Copa do Nordeste, no Ceará, e gostou do que observou.

Após um partida, Renata pediu para tirar uma foto com Soubak, eleito o segundo melhor técnico de handebol feminino do mundo na temporada, e ouviu do dinamarquês. “Antes de bater a foto, ele me orientou para arremessar a bola para os dois lados da quadra, não só para o direito, como estou mais acostumada. Mas não disse que seria convocada, foi uma grande surpresa", disse.

Sua convocação veio em um momento em que a seleção não poderia contar com as duas goleiras que defenderam a meta nacional na história campanha pelo título mundial, na Sérvia, em 2013. Babi e Mayssa têm compromissos com suas equipes não Europa e não foram chamadas.

Assim, Soubak chamou as já experientes Jacqueline Santana, que joga no Toulon, da França, e Jéssica Oliveira, do Concórdia, de Santa Catarina. Renata foi chamada para ganhar experiência. E o dinamarquês gostou do que viu.

“A Renata está aqui [na seleção] para aprender. É muito jovem, mas acreditamos que tem futuro na Seleção. Como não tivemos treinos das Seleções de base, vimos agora uma possibilidade de chamá-la para pegar experiência de vida na Seleção, encontrar as melhores do Brasil e apreender com as demais colegas”, disse o treinador. “Renata é muito esforçada e determinada em relação ao que quer com o handebol. Acredito que ela vai evoluir muito no Clube Português/AESO, que faz um trabalho maravilhoso. Tenho certeza que o time só vai dar mais apoio para a Renata” completou.

Renata não viajou com a seleção que começou a disputar o Campeonato Pan-Americano em Cuba. Jacqueline e Jéssica serão as goleiras. Mas pôde voltar para Recife com muito aprendizado, principalmente o de conferir com frequência a caixa de emails.