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Vídeo não foi 1º caso de racismo sofrido por revelação da ginástica

Ricardo Bufolin/CBG

Bruno Doro e Fábio Aleixo

Do UOL, em São Paulo

Ângelo Assumpção é o único negro da seleção brasileira de ginástica. E essa condição fez com que o atleta, uma das principais revelações da modalidade nos últimos anos, fosse o alvo de um vídeo com ofensas racistas feito por companheiros de equipe, durante treinamento do time brasileiro em Portugal. Não foi a primeira vez que o atleta sofreu pela cor de sua pele.

Antes de chegar à seleção, quando ainda começava no esporte, sofreu com um companheiro de treino. “Tinha um menino que me provocava. Acho que ele não aceitava treinar no mesmo lugar que eu. O problema é que eu era negro”, contou o ginasta em uma matéria da Rede Globo.

Esse problema sempre foi uma preocupação da mãe de Ângelo, Magali Dias Assumpção. “Não tem muitos negros na ginástica, isso é uma realidade. E a gente sofre [preconceito]. Não apenas por sermos negros, mas também existe a desconfiança com a sexualidade. Mas eu não tenho nenhum tipo de preconceito”, contou a mãe, ao UOL Esporte.

Magali Dias Assumpção, mãe do ginasta Ângelo Assumpção

  • Fábio Aleixo/UOL

    É uma luta de todos. Eu como mãe, ele como filho. Sempre batalhamos. É um esporte que ele gosta. Estamos torcendo para ele ir para a Olimpíada. É um sonho

    Magali Dias Assumpção, mãe de Ângelo
Se Ângelo foi forte o suficiente para ignorar a provocação dos outros atletas e aparecer em um vídeo em que eles se desculpavam, certamente é fruto do esforço que ele e a mãe fizeram para que a ginástica fosse uma realidade. São poucos os meninos nascidos e criados no bairro do Burgo Paulista que fazem do esporte seu ganha pão. Se esse esporte é a ginástica, fica ainda mais raro ainda. Ângelo deve ser o primeiro atleta de elite do bairro do extremo leste de São Paulo a ganhar a vida com a modalidade.

Só para começar a praticar o esporte a viagem já era longa. Aos sete anos, ele foi aprovado no Centro Olímpico, na zona sul de São Paulo. Tinha de cruzar a cidade todos os dias. “Eram duas horas de ônibus. Era cansativo. Eu sempre dormia no colo da minha mãe, no banco do ônibus”, conta.

As lembranças do ginasta são boas. Ele era criança, praticava um esporte e encarava tudo como brincadeira. Para Dona Magali, foi uma jornada árdua. Principalmente quando trocou o Centro Olímpico, bancado pela prefeitura, para se juntar aos ginastas do Pinheiros, um clube de elite paulistano, ainda mais longe da Zona Leste. “Eu pegava ônibus com ele, que sempre voltava no colo, dormindo. Eu ficava do lado de fora do ginásio, sem pode entrar. Esperava terminar os treinos. Ficava na chuva, no vento, no frio, no sol. Foi uma luta muito grande”.

“Passamos dificuldades com alimentação, com transporte. Sofremos muito. Mas eu nunca desisti do meu filho. Isso é fundamental. Eu era funcionária pública e tirei licença do emprego para poder acompanhá-lo.”, completa a mãe.

Cabelo rendeu cena inusitada no Japão

O fato de ser negro rendeu, também, cenas inusitadas para o atleta. Uma delas aconteceu no Japão. “Em 2013, na primeira vez que fui ao Japão, uma menina chegou e pediu para mexer no meu cabelo. Ela nunca tinha visto, queria saber como era”, lembra o atleta, rindo.

Marcos Goto, técnico do campeão olímpico, é mulato. E também já passou por situações assim. “Em países como a Rússia ou Japão, as pessoas não estão acostumadas com a nossa cor. Eu também já fui para competições e me senti um ET. Mas tudo isso é tranquilo. O mundo da ginástica está globalizado e não vemos mais preconceito”, disse o técnico.

“Ele é o único negro na equipe masculina, mas não porque é o único que está se destacando. Temos muitos garotos de cor treinando e se saindo muito bem. Mas o Ângelo é um atleta especial, com um potencial incrível para o solo e para o salto. Não tem tratamento diferente porque é negro”, analisa Goto.

Confederação vai instaurar inquérito sobre vídeo

Apesar de Ângelo ter aparecido no vídeo com as desculpas, o caso ainda teve ter repercussão. No sábado, a Confederação Brasileira anunciou que vai instaurar um inquérito para tratar do vídeo, postado pelo ginasta Arthur Nory em sua conta no aplicativo SnapChat, uma rede social de mensagens em que o que é compartilhado só pode ser visualizado por tempo determinado.

No vídeo, Nory faz piadas envolvendo as cores preto e branco, rindo e contando com o coro de outros atletas da seleção, que não podem ser identificados. Angelo ficou visivelmente constrangido com as piadas e depois não aceitou bem os pedidos de desculpas, mostrados em outro trecho do vídeo.

Um dia depois da divulgação, feita pelo portal do jornal O Globo, Nory gravou um novo vídeo, se desculpando. Nas imagens, aparecem também os ginastas Henrique Flores e Fellipe Arakawa, além de Ângelo.

 

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