Com provas de madrugada, Rio-2016 terá fuso horário próprio para atletas
Os Jogos Olímpicos de 2016 serão no Rio de Janeiro. Mas alguns atletas viverão, durante o período de competições, horas à frente do horário oficial de Brasília. O culpado por isso? Uma série de provas ou partidas foi marcada para o final da noite carioca, com previsão de encerramento para a madrugada.
É o caso do vôlei de praia. Graças à pressão da rede de TV norte-americana NBC (que pagou R$ 24,4 bilhões para o Comitê Olímpico Internacional pelo direito dos Jogos), o Rio-2016 terá partidas iniciadas às 23 horas nas areias de Copacabana. No atletismo, algumas provas também devem terminar depois das 23h. Assim como na natação, em que as provas marcadas para a programação noturna começam às 22h.
Esses horários inusitados já deram um sinal de alerta nos responsáveis pela preparação dos atletas. No Comitê Olímpico do Brasil (COB), um “fuso horário olímpico” já está sendo preparado para que os atletas não sintam os problemas causados pelas provas de madrugada.
“A performance atlética de uma pessoa depende da curva de temperatura corporal. Quanto mais alta a sua temperatura central, melhor será a performance. O problema é que essa temperatura começa a cair, para a maioria das pessoas, às 22h, para preparar o corpo para o sono. Essas provas estão marcadas justamente no horário em que a performance dos atletas começa a cair. É isso que teremos de mudar”, explica Marco Túlio de Melo, especialista em estudos do sono da Universidade Federal de Minas Gerais e responsável pelo monitoramento do sono dos atletas do país dentro do COB.
Para garantir que os atletas do vôlei de praia, do atletismo e da natação, principalmente, tenham condições ideais de desempenho, um programa de adaptação idêntico ao feito em viagens internacionais será proposto. A ideia é que o corpo dos atletas esteja duas ou três horas à frente do horário real do Rio durante os Jogos. Assim, quando uma prova começar às 23h, o atleta sentirá como se estivesse competindo às 20h.
“Precisamos do corpo 100% acordado durante todas as provas. Incluindo as que serão de madrugada. E temos de pensar não só em estar acordado, mas no tempo necessário para dormir. Porque o atleta deve estar completamente descansado no dia seguinte também, Por isso, estamos monitorando atletas de 15 modalidades diferentes e fazendo análises individuais sobre como fazer essa adaptação”, completa Marco Túlio.
A adaptação ao fuso olímpico não é o único trabalho relacionado ao sono que está sendo realizado com os atletas. Com a análise individual dos casos, Marco Túlio e sua equipe também passaram a tratar alguns atletas que sofrem de distúrbios do sono. Um deles é o judoca Rafael Silva, medalhista olímpico em Londres-2012, que sofre de apneia – ele tem 150kg.
“Temos um estudo que indica que 82% da população de São Paulo tem alguma queixa em relação ao sono. Com os atletas, eu imaginava que esse número fosse ser parecido, já que o atleta sai da população geral. Mas apenas 10% apresentam algum tipo de problema. O que é muito bom. Mas ainda assim, é preciso tratar”, diz o especialista.
A importância dada para o tempo que atletas passam dormindo cresceu quando o efeito do sono passou a ser melhor analisado. A ciência já mapeou que uma noite bem dormida tem cinco fases. Nas três primeiras, o corpo relaxa. Entre a terceira e a quarta, são liberadas uma série de hormônios responsáveis pela manutenção do corpo. Um desses hormônios é a testosterona, responsável pela manutenção e crescimento muscular. Por isso, quem tem ciclos de sono interrompidos acaba não recebendo doses suficientes e o crescimento muscular é mais lento.
Além disso, a quinta fase do sono é o momento de limpeza cerebral e de assimilação das memórias do dia. É nele que a cabeça descansa, ajudando, no dia seguinte, em tarefas de concentração e precisão. Na Universidade de Stanford, nos EUA, estudos mostraram que horas a mais na cama melhoraram o desempenho atlético. Jogadores de basquete foram quase 10% mais precisos em lances livres. Jogadores de tênis acertaram a quadra com uma frequência 40% maior. E nadadores aceleraram suas reações ao tiro de largada em quase 20%.