Zanetti: "Superamos bem o maior teste da ginástica antes do Rio-2016"
Bruno DoroDo UOL, em São Paulo
Era uma Copa do Mundo. Arthur Zanetti está cansado de vencer eventos assim. Entre os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, e o Mundial de Nanning, na China, no ano passado, venceu todos os eventos desse nível que disputou. Mesmo assim, o ouro deste domingo (3), no ginásio do Ibirapuera, foi especial.
O local estava lotado, com quase dez mil pessoas. A pressão estava lá: nas arquibancadas pais, mães, irmãos, namoradas e amigos dividiam lugar com fãs fervorosos, que gritavam a plenos pulmões sempre que um brasileiro subia para se apresentar. Teste digno para os Jogos Olímpicos, que o Brasil receberá no ano que vem. O próprio campeão olímpico admitiu isso.
“Esse foi o maior teste que a ginástica brasileira vai passar. E toda a equipe suportou muito bem a pressão. Todo mundo admitiu que sentiu a torcida, mas a maioria dos ginastas falou que foi positivo, que os gritos passavam muita energia”, falou Arthur.
Ele, porém, não precisou muito da torcida. Sem concorrentes em sua prova, ele terminou com o ouro nas argolas com quase um ponto de vantagem sobre o segundo colocado, o também brasileiro Henrique Flores: 15,900 contra 15,100. Mas outros atletas tiveram seus desempenhos afetados pela torcida.
Flávia Saraiva, fenômeno de 15 anos que estreou entre as adultas com duas medalhas, um ouro no solo e uma prata na trave, disse que foi ao pódio por causa da torcida. “Eu fiquei calma e fiz como treinei. Mas a torcida estava muito legal. Eu sinti como se fosse incentivo. Ajudou bastante, no solo, na trave e também nas paralelas (que ela competiu no sábado, sem subir ao pódio). Fiquei muito feliz com os dois resultados de hoje”, disse a ginasta, do alto de seus 1,33m de altura.
O maior exemplo da força da torcida veio quando ela esperava sua nota na trave, a última prova de toda a competição. Ela ficou quase cinco minutos esperando uma decisão dos juízes. Durante todo o tempo, as arquibancadas gritavam e faziam barulho com os bastões plásticos distribuídos pelos patrocinadores. O clima era de futebol, empolgante. Sentada, mas sendo mostrada no telão, Flavinha mandava beijos, fazia sinal de positivo, sorria. Aumentando ainda mais o volume. Quando o resultado saiu, ninguém se espantou: os 15,100 seriam o suficiente para que ela fosse campeã mundial em 2014. Foi exatamente com 15,100 que a norte-americana Simone Biles venceu em Nanning. A chinesa Chunsong Shang, porém, foi ainda melhor, com 15,400.
Se ajuda, a torcida também pode complicar as coisas. A própria Flávia sentiu isso: ela foi quem mais levantou o público ao se apresentar no solo. Teve um pequeno desconto, em uma de suas diagonais, ao pular demais e quicar para fora das linhas do tablado. Força demais, gerada provavelmente pela vontade de mostrar vontade para quem estava gritando.
Foi exatamente o que aconteceu com Lorrane dos Santos. Uma das favoritas para a medalha, ela caiu quando executava o segundo elemento de sua rotina no solo. “A torcida meu deu bastante força e eu entrei um pouco forte demais”.
Nao foi a única. Entre as mulheres, todas sofreram quedas. Entre os homens, Ângelo Assumpção ouro no salto, foi o sétimo no solo pelo mesmo motivo de Lorrane. “No solo, a torcida se empolga com cada diagonal. Eu acabei me empolgando também e exagerei em uma delas. Estava cansado, com a perna bamba”, conta.
Mesmo assim, o Brasil fecha a sua Copa do Mundo com uma atuação impressionante, com nove medalhas. Foram três de ouro (Flávia Saraiva no solo, Ângelo Assumpção no salto e Arthur Zanetti nas argolas), quatro de prata (Diego Hypolito no solo, Henrique Flores nas argolas, Rebeca Andrade no salto e Flávia na trave) e duas de bronze (Diego no salto e Francisco Barreto nas barras paralelas). Na última vez que o evento esteve no Brasil, em 2006, foram seis medalhas: Diego Hypolito foi ouro no solo e bronze no salto, Daiane dos Santos venceu no solo, Laís Souza foi prata no salto e bronze no solo e Daniele Hypolito foi prata na trave.