Campeão olímpico que representa atletas é contra Anderson Silva na Rio-2016
Karla Torralba*Do UOL, em Maceió
O currículo de Emanuel como atleta o credencia para debater qualquer assunto no esporte. Por conta disso, o jogador três vezes medalhista olímpico, tri campeão Mundial e bi dos Jogos Pan-Americanos tem uma função tão importante quanto conseguir a vaga olímpica ao lado do companheiro de vôlei de praia Ricardo. Bem longe da areia, Emanuel é a referência dos atletas sobre a principal preocupação olímpica, o doping.
O doping é algo que tem estado muito em pauta ultimamente principalmente por conta de Anderson Silva, pego em exame feito quando se preparava para lutar no UFC. Agora, o lutador cogita a possibilidade de disputar a Rio-2016 pelo taekwondo e ligou o sinal de alerta de Emanuel, que também é presidente da Comissão de Atletas do Comitê Olímpico Brasileiro (COB). O jogador de vôlei de praia é contra a presença de Anderson na Olimpíada justamente pela questão do doping.
“O caso do Anderson Silva me preocupa. Ele é um herói do esporte. Ele nunca tinha tido nenhum problema em 20 anos de carreira. Foi o único problema dele nesse reinício depois da grave lesão que ele teve. A gente tem que olhar por esse lado, mas infelizmente ele foi pego com uma substância proibida. Pelo lado ético, acho que isso que deve ser analisado agora, o lado ético do esporte, mesmo que tenha sido outra modalidade, MMA, uma comissão diferente, é algo que tem que ser avaliado, tem que passar por um julgamento justo. Na minha opinião ele não deveria disputar os jogos”, ressaltou.
A Comissão que Emanuel preside tem a função de escutar os atletas e representa-los perante as confederações e é justamente o doping a principal reclamação desses esportistas ouvidos pelo medalhista olímpico.
“Doping é a primeira reclamação dos atletas. E o atleta de alto rendimento tem a missão de mostrar que isso pode acabar com a carreira. Um adolescente que seja enganado por qualquer pessoa que usa pode encerrar a carreira antes de dar resultado. Assim, tentamos levar a informação desde o início, levamos o assunto para os Jogos Olímpicos Escolares, atletas de renome dão o depoimento sobre doping”, explicou Emanuel.
Além de representar os atletas brasileiros, Emanuel tem total conhecimento de causa sobre o doping. Ele também faz parte da Comissão de Atletas da WADA, a Agência Internacional Antidoping.
“Hoje em dia não são casos mais distantes, como do Lance Armstrong, por exemplo. Aqui já aconteceu no atletismo, na natação, agora o Anderson Silva. O Brasil está chegando a uma evolução esportiva que tem rendimento e resultados. E quando o esporte está começando a ter resultado, as pessoas usam esse artifício para ter ainda mais. Essa é a hora que a nossa missão é tentar diminuir essa busca incessante de bons resultados a curto prazo”, completou.
Especialista em quadra e estudioso do esporte
Emanuel já é um especialista do mundo esportivo como atleta. A experiência foi adquirida “in loco”. Mas ele também quer outro tipo de conhecimento, como gestor. Mesmo ainda não tendo se aposentado e estando em mais um ciclo olímpico, o jogador estuda desde o fim da Olimpíada de 2012, em Londres para, no futuro, assumir algum cargo de gestão no esporte.
Emanuel se formou em marketing logo depois de 2012 e faz com frequência cursos de gestão esportiva. Também pretende fazer pós-graduação sobre o assunto.
“Ser atleta é bom, tenho respeito, mas eu tenho que ter algo mais para trabalhar na área administrativa. O conhecimento. Estou muito obcecado pelo conhecimento. Eu estou me preparando para chegar a um nível bom de conhecimento nessa segunda vida. O atleta para de jogar de competir e tem que criar algo novo”, comentou.
Na Comissão de Atletas do COB, Emanuel quer transformar os esportistas em pessoas mais ativas nas tomadas de decisões. “As coisas ficavam só com patrocinadores e confederações. Hoje eu fico satisfeito de fazer parte do novo momento do esporte brasileiro e temos o que evoluir. O atleta ainda fica receoso de dar sua opinião e a gente está tentando mudar esse pensamento para que os atletas sejam mais ativos nas decisões”.
O jogador também ressaltou a vontade de fazer parte da Comissão Internacional de Atletas Olímpicos, formada pelo COI (Comitê Olímpico Internacional), com atletas eleitos por outros esportistas olímpicos. São mais de 10 mil votos.
“Eu gostaria de fazer parte, porque a comissão internacional é mais ativa, formada de 4 em 4 anos. Participa de vistorias, os atletas dividem funções e cada um busca certas partes: relacionamento, estrutura. Tem muito trabalho”, explicou.
A corrida olímpica foi minuciosamente planejada
A principal característica de Emanuel é, sem dúvida, o planejamento. Planeja-se para a aposentadoria, para tratar com atletas no dia a dia, e, claro, para chegar à Olimpíada de 2016. Foi por esse “passo a passo” perfeito que ele resolveu retomar a dupla com Ricardo, parceiro medalhista de ouro em Atenas.
“Eu já imaginava como seria essa temporada, que começou em agosto de 2014. Pensava nas coisas que eu precisava fazer para tentar chegar à Olimpíada, também pesando essa pressão que todos os brasileiros terão. Eu pensei em fazer o convite para o Ricardo para ver se ele embarcava nesse sonho comigo e ele acreditou”, contou Emanuel.
“O grande objetivo era formar uma dupla experiente para tentar jogar uma Olimpíada. Era o primeiro foco da parceria. E também tentar reeditar tudo o que a gente conseguiu juntos. Perto da Olimpíada eu gosto de jogar com pessoas em que confio. O Ricardo é um dos atletas que confio”, finalizou.
Treinando juntos há apenas cinco meses já deu para perceber que os veteranos devem mesmo chegar com força em 2016. Ricardo e Emanuel já são campeões do Circuito Brasileiro de vôlei de praia de 2015 e agora encaram o desafio do Circuito Mundial, que começa no final do mês, para garantir a presença no Rio de Janeiro daqui menos de um ano.
*a repórter Karla Torralba viaja a convite da CBV