Tragédia da Copa inspira medalhista olímpica do vôlei de praia para 2016

Karla Torralba*
Do UOL, em Maceió
Paulo Frank/CBV
Juliana e a parceira Maria Elisa no Super Praia de 2015

Disputar os Jogos Olímpicos dentro de casa é o sonho mais esperado na carreira de quem já experimentou o que é subir no pódio em uma Olimpíada. Ter como testemunha do sucesso a própria torcida transforma a medalha em algo ainda mais especial. É assim com Juliana, medalha de bronze no vôlei de praia em Londres-2012. No entanto, o sonho traz também o desafio de não ceder à pressão do público pelo ouro. A jogadora tem uma inspiração especial para não fazer feio na Rio-2016: a Copa do Mundo de 2014.

Nenhum brasileiro gosta de lembrar a trágica passagem da seleção brasileira na Copa do Mundo do Brasil com o histórico 7 a 1 sofrido na semifinal contra a Alemanha. No entanto, Juliana fez da tragédia do futebol praticamente o seu maior aprendizado para daqui menos de um ano.

“É uma pressão sim. Cada dupla trabalha isso de forma diferente. Eu, por exemplo, vi a Copa de uma maneira diferente. Reparei em cada detalhe de como os jogadores, os times e a torcida se comportavam pegando “cola” para eu ver como era. Eu tenho entrevista gravada e dava para ver desde o início como até a entrevista, desde a primeira, já fez diferença. Foi uma lição muito boa e está na minha memória para usar”, contou Juliana.

A medalhista de bronze em Londres ressalta os acertos da Alemanha e da Holanda na Copa do Mundo. “Foi a forma como os jogadores se comportavam e se reservavam . a Alemanha se reservou de forma diferente, construiu o resort só para eles, veio para o Brasil muito antes. Não teve o que não foi espetacular. Já a Holanda ficou em Ipanema, interagiu com o público e, de certa forma, tirou a pressão de cima dos jogadores e por um detalhe não conseguiu ir para a final”, relembrou a jogadora.

Para Juliana, o momento mais marcante no comportamento alemão foi na hora de falar com os jornalistas. “Na semifinal, quando ia pegar o Brasil, não colocaram o atacante, que precisava fazer gols, colocaram um zagueiro, teoricamente mais despercebido naquele momento e preservaram os melhores. E aí o que aconteceu? Fizeram 7 a 1 do Brasil”, analisou.

REUTERS/Marcelo Del Pozo
Larissa e Juliana beijam a medalha de bronze conquistada em Londres
A outra lição de Juliana

Ter oito títulos do Circuito Mundial no currículo não levou Juliana ao ouro em sua primeira Olimpíada, em Londres, pelo contrário, a bagagem de conquistas internacionais acabou prejudicando a atleta, que não conseguia entender como uma Olimpíada poderia ser tão diferente de outros torneios. Acabou entendendo de uma maneira não muito feliz.

Juliana formava dupla com Larissa e eram as favoritas para subir no lugar mais alto do pódio. A medalha de ouro já estaria garantida para o Brasil. Mas uma derrota na semifinal, de virada, para as americanas Ross e Kessy adiou o sonho da primeira colocação olímpica. Veio o bronze e a percepção: “Olimpíada é diferente”.

“Joguei uma Olimpíada e não é um torneio qualquer. Fui oito vezes campeã do Circuito Mundial, campeã mundial. Duas vezes vice-campeã mundial; uma vez bronze; e duas vezes campeã Pan-Americana. Antes de 2012 algumas pessoas me falavam ‘Juliana, Olimpíada é Olimpíada, diferente’. E eu respondia que era sacanagem pensar daquele jeito, que eu tinha um monte de mundial. Falava que Olimpíada era sacanagem. Mas depois eu vi: realmente, Olimpíada é Olimpíada”, relembra de forma séria.

Atual campeã do Circuito Mundial de vôlei de praia ao lado da parceira Maria Elisa, Juliana é uma das atletas de elite do Brasil que começará a partir de 26 de maio a disputa de um novo Circuito Mundial. Dessa vez vale mais que outro título. Vale a vaga olímpica.

O Brasil tem duas vagas no vôlei de praia feminino e duas no masculino. A melhor dupla no Circuito Mundial se credencia para uma das vagas de cada. A segunda dupla será escolhida pela Confederação Brasileira de Vôlei (CBV). 

*A repórter Karla Torralba viaja a convite da CBV