Com 1,33 de altura, Flávia Saraiva mostra que estrela não tem de ser grande
Bruno DoroDo UOL, em São Paulo
Flávia Saraiva tem apenas 1,33m de altura. Ela é baixinha até para um esporte em que as atletas de ponta nunca passam dos 1,60m. Mas quem a vê em ação, em cima do tablado em que as ginastas fazem suas performances de solo, se surpreende. Ela ganha projeção com seus saltos seguidos de piruetas que poucos humanos são capazes de fazer.
Mesmo pequenina, Flávia é uma gigante em ascensão no mundo da ginástica. No ano passado, ela se tornou a primeira campeã olímpica da ginástica artística feminina. Foi ouro no solo nos Jogos Olímpicos da Juventude – e ainda ganhou mais duas pratas, na trave e no individual geral. No fim do ano, foi eleita a atleta da torcida no Prêmio Brasil Olímpico.
Nesta sexta-feira, em pleno feriado do Dia do Trabalho, ela mostrou que une, como poucos, sucesso esportivo com carisma. No ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, ela disputa, pela primeira vez, uma etapa de Copa do Mundo. Não precisou de muito tempo de adaptação: ao subir ao tablado montado no ginásio do Ibirapuera, o público começou a aplaudir. A cada salto, seu técnico, Alexandre Carvalho, pedia palmas, comandando o público.
“A Flavinha tem um carisma que não dá para explicar. A gente vê, fica com vontade de apertar e levar para casa”, diz Diego Hypólito, ele mesmo dono dessa característica que transforma em estrelas aqueles que se destacam no esporte.
Fora de competição, ela ainda carrega a timidez infantil. Ela pode ter 15 anos e competir entre adultos. Mas ainda não fez a transição da infância para a adolescência. Menina, ainda responde com monossílabos quando um microfone aparece pela frente. Não sabe bem como responder às perguntas da imprensa. Mas ao tratar com o público, abre o sorriso e se diverte com a situação.
Tanta expectativa sobre alguém tão jovem tem seus perigos. Não é incomum ver talentos precoces perdidos pelo estrelismo. Por isso, Flávia já tem acompanhamento psicológico, em uma parceria do Comitê Olímpico do Brasil (COB) com a confederação de ginástica. “A Flávia está na transição da infância para a adolescência. Mas é uma garota muito focada. No Brasil, gostam muito da palavra promessa. Eu não vejo dessa forma. É preciso muito trabalho para formar uma atleta. E a Flávia está nesse processo. Temos uma grande equipe trabalhando conosco, o que facilita as coisas”, fala Alexandre.
O processo é o mesmo que está sendo feito por outra pérola da modalidade no país, Rebeca Andrade. “Foi algo que eu pedi. Eu sei que a transição da infância para a adolescência pode ser muito complicada. É nessa época que as meninas podem ficar rebeldes, questionar o que estão fazendo”, explica Keli Kitaura, que trabalha com Rebeca.
Aos 15 anos, as duas só atingiram agora, em 2015, a idade necessária para serem incluídas no mundo adulto de sua modalidade. “Eu sou a favor desse limite. As meninas podem estar prontas fisicamente para competir, mas ainda não são maduras para lidar com tudo o que envolve a competição. Imagina colocar uma menina de dez, 12 anos nesse ginásio, com torcida gritando. Ela não pode lidar com essa pressão”, analisa a ginasta de 30 anos, que não foi convocada para o torneio em São Paulo.
A pressão no Ibirupuera, porém, promete ser grande. Atletas e técnicos não cansam de repetir que essa convivência com o público em uma competição de ponta dará bagagem para o que vai acontecer no Rio-2016. Para Flávia, porém, toda essa situação, que une estreia, torcida e pressão, é resumida com facilidade. “Estou bem. Confiante. Vai dar tudo certo”.