Sem mordomias, parentes de atletas e técnicos correm por ingresso para 2016
Fábio AleixoDo UOL, em São Paulo
Não é só o torcedor comum que está atrás de ingressos para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. As cobiçadas entradas para o evento também são alvo de disputas por parte de familiares e amigos de atletas e técnicos. Nem mesmo aqueles mais próximos a campeões olímpicos têm a certeza de que poderão acompanhar de dentro das arenas as disputas no ano que vem, mesmo porque o COB (Comitê Olímpico do Brasil) não conta com uma carga específica de tíquetes para distribuir para os membros da delegação.
Assim, pai, mãe, irmão ou filho estão tendo de fazer a inscrição no site oficial dos Jogos para participar do sorteio de alocação de tíquetes. A primeira fase de pedidos vai até quinta-feira e estão disponíveis cerca de 4,5 milhões de entradas.
No total, até o fim das vendas, serão disponibilizadas 7,5 milhões de bilhetes. Até agora, as cinco modalidades mais procuradas pelos brasileiros são: vôlei, futebol, basquete, ginástica artística e natação.
Quem estará em quadra, tentando conquistar uma medalha para o Brasil, já teve de se acostumar com o novo cenário. Um deles é o tricampeão olímpico José Roberto Guimarães, técnico da seleção feminina de vôlei.
“Em qualquer competição que minha família esteve presente, sempre se deu um jeitinho. Nunca ninguém ficou fora. Agora, o COB já passou a mensagem a todos os atletas e treinadores que não vai ter jeitinho. Vamos ter de entrar na fila. Espero que tudo dê certo. E sabemos que a procura pelo vôlei está muito grande”, disse em entrevista ao UOL Esporte.
Quem não tem tanta experiência olímpica também teve de entrar na fila.
“Minha família está ansiosa para a Rio-2016 e já pedi para minha mãe ficar de olho no sorteio", disse Aline Silva, vice-campeã mundial de luta olímpica.
“Minha família já está se esquematizando para comprar, mas ainda não foram os sorteios. Acho que a procura será grande em todos os esportes”, completou Gustavo Grummy, da seleção de polo aquático, que disputará no Rio de Janeiro a sua primeira Olimpíada.
Até agora, o COB (Comitê Olímpico do Brasil) não dá garantias de que contará com ingressos para os membros da delegação brasileira, mas está trabalhando para isso. A entidade ainda espera uma resposta do Comitê Organizador dos Jogos para definir a sua estratégia.
“Em Londres-2012 foi criado o programa Family & Friends pelo Comitê Organizador dos Jogos. Cada atleta tinha direito a comprar um ou dois ingressos (dependendo do evento) para as provas/eventos em que competia. Na ocasião, o COB adquiriu, em parceria com um patrocinador, todos esses ingressos e distribuiu para os respectivos atletas”, disse o COB, em comunicado oficial enviado ao UOL.
O Comitê Organizador dos Jogos informou que um programa similar ao de Londres será criado, mas os detalhes e a data de lançamento ainda não estão definidos.
"Eu acho que deveríamos ter pelo menos oito a dez ingressos. Se meus pais e meus irmãos forem, alguém já vai ficar de fora. O que a gente pede não é nem para ter ingresso de graça, mas para ter uma situação diferenciada para comprar. Pelo menos seis deveríamos ter", disse a central Fabiana, da seleção de vôlei.
O assédio em cima dos atletas por parte de amigos e familiares é uma das principais preocupações do COB para a Olimpíada do ano que vem. Dirigentes da entidade dizem que isso pode acabar tirando o foco dos atletas na hora da disputa por medalhas.
Por isso, atletas como o campeão olímpico da ginástica, Arthur Zanetti, estão se preparando de uma maneira diferente. O ginasta, por exemplo, está usando um evento em São Paulo, a etapa brasileira da Copa do Mundo da Federação Internacional, para descobrir quem vai pedir uma entrada e como dizer não para quem quer se aproveitar da amizade.
“As pessoas ainda não começaram a ligar, mas sempre que encontro alguém, o tema ingresso aparece. Perguntam se eu vou ganhar ingressos e eu sempre digo que não é comigo. Eu não vendo e não consigo ingressos. Eu passo os meios para conseguir. A etapa de São Paulo da Copa do Mundo (entre 1º e 3 de maio) vai ser boa até para se acostumar com esse tipo de assédio. Já estou ouvindo pedidos e explicando. Tento ajudar, mas não dá para agradar todo mundo”, disse.