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Carta de 2009 contra Rio-2016 vira arma da oposição contra Ana Moser na APO

Edu Moraes/Record

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

A nomeação de Ana Moser para o comando da Autoridade Pública Olímpica parecia a solução para os problemas enfrentados pelo governo federal com os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. Mas uma carta escrita há quase seis anos pela própria medalhista olímpica do vôlei virou um obstáculo nesse plano.

Durante a eleição da cidade-sede dos Jogos de 2016, realizada em 2009, Ana Moser enviou um e-mail para os membros do Comitê Olímpico Internacional pedindo votos contra o Rio. No documento, a ex-jogadora diz que “o povo discorda dessa aventura de poucos” e que é o “governo federal quem vai pagar por isso [o custo da preparação para os Jogos]”. Também fala em evitar que “os poucos milionários do COB fiquem ainda mais ricos enquanto o povo não ganha nada”.

Esse texto circula no Congresso Nacional, impresso como panfleto, desde as últimas semanas. Virou a principal arma do grupo que não quer Ana Moser como chefe da preparação olímpica do Rio de Janeiro. O UOL Esporte apurou que existe rejeição no Congresso e no Rio de Janeiro.

O principal opositor é o prefeito do Rio de Janeiro. Eduardo Paes é o maior crítico da existência da APO (que, segundo ele, “não faz falta nenhuma”). Desde fevereiro, quando o general Fernando Azevedo e Silva pediu demissão do cargo, o espaço deixado foi ocupado pela prefeitura do Rio. Paes já era a figura central na maior parte da preparação para os Jogos, responsável pela construção de instalações esportivas e por obras de logística. Com um interino (Marcelo Pedroso) no comando da APO, seu poder só aumentou.

Nesse cenário, o governo federal admitiu que aumentou o trabalho para que a indicação seja aprovada. A postura crítica aos Jogos, porém, foi justamente o motivo da escolha de Ana para a função: Brasília considera vital ter uma voz forte na APO, com coragem e, principalmente, conhecimento de causa para questionar decisões nas demais esferas de poder.

Uma fonte ouvida pela reportagem disse que a campanha para a aprovação da ex-atleta vai envolver o convencimento justamente de seu maior opositor: Eduardo Paes. É bom ressaltar que Ana ainda não disse sim ao convite. Nas últimas semanas, porém, conversou com representantes do governo e sinalizou positivamente para ocupar o cargo.

O sim seria uma resposta lógica na postura pública da ex-jogadora nos últimos meses. Ela foi uma das maiores críticas ao governo federal quando o mineiro George Hilton, do PRB, foi nomeado ministro do Esporte, no fim do ano passado. Presidente da ONG Atletas pelo Brasil, ela divulgou uma carta em que ressaltava a falta de ligação com o esporte do novo ministro. Não faria sentido, portanto, rejeitar uma indicação quando o governo escolhe um nome do esporte.

Se aprovada, Ana terá de enfrentar oposição também dentro da APO. Existe outro movimento em andamento, agora dentro da entidade, para a manutenção do interino Marcelo Pedroso no cargo. A opção não é a preferida do governo federal, já que sem um presidente sabatinado pelo Senado a entidade perde ainda mais importância.

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