Protegida dos Hypolitos, "nova Daiane" aumenta fenômeno teen da ginástica
Bruno DoroDo UOL, em São Paulo
Diego Hypolito estava em São Bernardo, na grande São Paulo, no domingo de Páscoa. Ainda assim, comemorou muito uma medalha conquistada a milhares de quilômetros do Brasil, em uma etapa da Copa do Mundo na Eslovênia. Aos 16 anos, Lorrane dos Santos Oliveira foi prata na trave, na primeira vez em que subiu ao pódio no circuito mundial da Federação Internacional da modalidade. “É como se fosse um resultado meu”, disse o bicampeão mundial.
Essa alegria é fruto de uma relação muito próxima de Lorrane com Diego e sua irmã, Daniele. A nova sensação teen da ginástica brasileira conheceu os Hypólitos, icones da modalidade por aqui, ainda menina, quando dava seus primeiros passos no esporte. De origem humilde, a garota demorava horas para ir de casa, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, para o ginásio do Flamengo, na Gávea, na zona sul do Rio.
“Conhecemos a Lorrane ainda muito nova. A família é de uma raiz muito, mas muito pobre. Viviam em um cômodo, muito longe do ginásio. Era uma realidade muito difícil”, contou Diego. Os dois irmãos passaram, então, a ajudar a garota como podiam. “A Dani estava sempre na casa dela. Ela se tornou uma parte da nossa família”.
As duas foram juntas, por exemplo, para Curitiba, onde treinaram, sob os olhares de Oleg Ostapenko, no Cegin – antigo centro de treinamento da ginástica brasileira, agora coordenado pela Federação Paranaense. Para o ucraniano, considerado o responsável pela explosão da ginástica feminina nacional nos anos 2000, em um período em que foram reveladas Daiane dos Santos, Laís Souza e Jade Barbosa, o potencial da garota é muito grande. “Ela tem a mesma potência da Daiane. Se tiver a sorte de não se machucar, pode conseguir grandes resultados”, declarou o treinador ao jornal curitibano Gazeta do Povo.
A entrevista de Ostapenko é de 2013. Desde então, porém, ela se machucou. Já foram duas cirurgias, a última no ombro, que a tirou do Mundial da China do ano passado. A medalha na Eslovênia foi uma espécie de renascimento. “Estou muito orgulhosa de ver uma menina tão dedicada quanto ela brilhar em uma etapa de Copa do Mundo. Eu a vi crescer na ginástica, dar a volta por cima depois de duas cirurgias e agora trazer uma medalha para o Brasil”, comemorou Daniele.
Nesse período afastada, a “nova Daiane” saiu do centro das atenções, dando lugar a outras duas adolescentes. Hoje, as sensações teens da equipe nacional são Rebeca Andrade e Flávia Saraiva, ambas de 15 anos. A primeira já foi campeã brasileira adulta (ganhando de Daniele Hypolito e Jade Barbosa, por exemplo). A segunda tem três medalhas nos Jogos Olímpicos da Juventude. Coincidentemente, Rebeca também conquistou sua primeira medalha em Copas do Mundo na Eslovênia, um bronze nas barras assiméticas.