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1ª brasileira medalhista olímpica individual admite: Não estava preparada

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Ketleyn Quadros com a medalha de bronze de Pequim: recomeço sete anos depois imagem: Caio Guatelli/Folha Imagem

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

“Eu fui para Pequim pronta para subir ao pódio olímpico. Mas em nenhum momento fui preparada para o que significava ser medalhista olímpica”. Ketleyn Quadros é uma pioneira do esporte brasileiro. Sua medalha de bronze no judô em Pequim-2008 foi a primeira de uma brasileira em provas individuais na história dos Jogos Olímpicos – seu terceiro lugar na categoria 57kg veio 11 dias antes do ouro de Maurren Maggi no atletismo.

A maior conquista da vida da judoca, porém, marcou também o início de uma queda livre. Desde 2008, ela sofreu com lesões, perdeu o foco dos treinamentos e nunca mais conseguiu repetir o desempenho que a levou para o pódio na China. “Fui a primeira medalhista individual do esporte brasileiro. Mas tinha só 20 anos. Não tinha nenhum tipo de preparação para o que acontece depois. Demorei para aprender o que tudo isso significava”, conta.

“Entre 2009 e 2010, minha vida mudou. Do nada, tudo era diferente. Eram entrevistas a toda hora, eventos a que eu tinha de comparecer, compromissos com patrocinadores. Fui perdendo o foco. As lesões foram aparecendo. Eu não sabia qual era o limite para tudo isso. Até onde poderia ir. Algumas vezes, não conseguia treinar de tantos lugares que tinha de ir”, admite.

Nesse cenário de caos para um atleta, surgiu Rafaela Silva. A jovem revelação vinda da Cidade de Deus, no Rio Janeiro, dominou a categoria de Ketleyn. Venceu um Mundial Júnior no fim de 2008. Foi quinta no Mundial adulto de 2009. Dois anos depois, já era vice-campeã mundial e a dona da indicação brasileira para os Jogos de Londres, em 2012. Em 2013, se tornou a primeira judoca do país a ser campeã mundial.

Sete anos depois de sua medalha, Ketleyn se viu, virtualmente, fora da disputa por uma vaga nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em sua categoria. Restou, então, a reinvenção. E o maior passo para isso é uma nova categoria: 63kg.

“A situação dos leves (57kg) estava praticamente definida. Perguntamos para a Ketleyn se ela queria continuar brigando com a Rafaela ou se queria subir para o meio-médio (63kg). Ela falou em subir. Isso não dá a vaga automática. Dissemos que ela precisa brigar. E deixamos claro que ela chegava bem atrás das outras duas, por ter começado depois. Mas esse ingrediente na corrida olímpica vai ser muito benéfico. A Ketleyn vai crescer e quem já estava na categoria vai crescer”, explica Ney Wilson, coordenador da Confederação Brasileira de Judô.

Mudando de categoria, ela precisou mudar, também, seu estilo de treinamento. Seu cardápio. Seu jeito de lutar. “As meninas são muito mais fortes e preciso ter corpo para segurar e ter como dar um contragolpe. Sou mais rápida, mas não adianta se a menina conseguir passar por cima usando a força. Estou ganhando um pouco de peso”, admite Ketleyn.

Ketleyn Quadros

  • Fernando Maia/UOL

    Eu não queria mais lutar ponto a ponto com a Rafaela pela vaga. Não queria torcer contra. Agora, nos 63kg, a disputa é mais aberta. Depende só dos meus resultados

    Ketleyn, sobre Rafaela Silva
  • Flávio Florido/UOL

    Uma das coisas que achei bem legal é que apoio que tenho não veio porque gostam de mim. É porque acreditam no meu potencial. E todos os atletas de potencial têm apoio para tentar a vaga

    Ketleyn, sobre as chances de ir ao Rio-2016

Não só isso: nos 63kg, além de mais pesadas, as atletas são também mais altas. “E isso influencia no ângulo dos golpes. Além disso, com seis quilos a mais, muda também o centro de gravidade. Não dá para esperar resultados imediatos”, avisa Wilson.

Ketleyn tem duas competições internacionais até agora no novo peso. Foi terceira colocada nos Abertos de Buenos Aires, na Argentina, e Montevidéu, no Uruguai. Nas duas, a campeã foi Mariana Silva, a melhor brasileira da categoria – é a 16ª no ranking mundial. Mariana Barros, campeã de três Grand Slams no atual ciclo olímpico, é a 33ª, mas não compete desde o meio do ano passado, por causa de uma cirurgia no ombro.

“Eu não queria mais lutar, ponto a ponto, com a Rafaela pela vaga. Não queria torcer contra. Agora, nos 63kg, a disputa é mais aberta. Depende só dos meus resultados. E eu sou uma atleta muito mais madura, bem diferente daquela que foi para Pequim, em 2008, aos 45 minutos do segundo tempo”.

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