Atletas apelam a "cepacol" e banho de água mineral contra poluição olímpica
Bruno DoroDo UOL, em São Paulo
Tomar banho com água mineral pode parecer um luxo exagerado. Mas essa deve ser uma das estratégias que atletas estrangeiros usarão para tentar sobreviver aos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. Tudo por causa da poluição extrema das águas da cidade.
A Baía de Guanabara, que vai receber as provas de vela, sofre com o despejo de esgoto em seus afluentes. É comum para quem está treinando para as Olimpíadas no local chocar seus barcos com sofás que fluatuam pela água ou ver sacos de lixo ficarem presos a quilhas, diminuindo a velocidade. Mas não é só na vela que os atletas estão preocupados. As provas de triatlo e águas abertas serão disputadas em Copacacabana, já fora da baía. Mas as condições da água por lá também não é das mais confiáveis.
Nos últimos meses, atletas olímpicos, dirigentes e jornalistas têm mostrado preocupação com o assunto. As maiores críticas foram feitas em dezembro, quando uma superbactéria, presente em lixo hospitalar e resistente a antibióticos, foi encontrada na praia do Flamengo por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz. Segundo a BBC, o índice de mortalidade do micro-organismo encontrado, chamado KPC, era de 50%.
Nesse cenário, medidas emergenciais já estão sendo tomadas. O Comitê Olímpico da Austrália, um dos mais críticos em relação ao Rio de Janeiro, montou um esquema médico especial para seus atletas, envolvendo consumo de vitaminas e vacinas, incluindo para febre amarela e hepatite. Além disso, estão sendo desenvolvidos chuveiros portáteis abastecidos por água mineral, que serão levados para os locais de competição, para uso dos atletas.
“Atletas das provas de águas abertas e do triatlon estão em risco, já que estão em contato direto com a água”, afirmou Kitty Chandler, chefe do time olímpico australiano. “Qualidade da água é um problema muito grande para o comitê organizador, já que os locais de competição precisam ser seguros. Sei que a pista para os 100m rasos não terão buracos e a canoagem não deverá ter de desviar de rochas no rio. Então, nas águas abertas, o mínimo que esperamos é um ambiente higiênico”, completou, em entrevista ao Sydney Morning Herald.
Quem também está preocupado é o time de vela da Grã-Bretanha, um dos mais tradicionais da modalidade. Velejadores treinam nas águas do Rio de Janeiro desde o ano passado e já usam medidas inusitadas contra a poluição. Segundo a BBC, velejadores levam, dentro do barco, enxaguante bucal, em caso de contato com água suja. Além disso, garrafas de água que vão a bordo não são reutilizadas. Até mesmo tomar refrigerante de cola, proibido para atletas, é incentivado.
No primeiro evento-teste da vela, disputado em agosto do ano passado, um dos velejadores do time voltou doente para a Inglaterra. Nick Thomson, da classe Laser, a mesma do bicampeão olímpico brasileiro Robert Scheidt, perdeu um mês de sua preparação para os Jogos por causa do problema. “Qualidade da água é minha maior preocupação. Eu estou tomando suplementos alimentares e até óleo de peixe para aumentar a resistência do meu sistema digestivo”, admitiu.
Para quem acha que as preocupações são exageradas, a história da norte-americana Kalyn Keller serve como alerta. Medalhista de bronze na maratona aquática nos Jogos Pan-Americanos de 2007, ela afirma ter desenvolvido Síndrome de Crohn, uma doença crônica do sistema digestivo, pelos efeitos da competição na praia de Copacabana. É bom ressaltar, porém, que médicos norte-americanos afirmam, também, que é impossível afirmar com certeza que a doença tenha ligação com a competição no Rio. Kalyn, porém, estava entre as melhores de seu país até 2007. Depois do Pan, nunca mais conseguiu se classificar para os Jogos Olímpicos, por exemplo.