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Problema com projeto de limpeza aumenta risco de vela no lixo na Rio-2016

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

“Hoje, a Baía de Guanabara está mais suja do que eu jamais vi. Em relação ao lixo flutuante, a situação é crítica”. A frase é de Torben Grael. Dono de cinco medalhas olímpicas, duas delas de ouro. Ele aprendeu a velejar nas águas do principal sistema fluvial do estado do Rio de Janeiro e sabe o quanto pode custar, em uma competição, lixo na raia.

A Baía de Guanabara vai receber a competição de vela dos Jogos Olímpicos do Rio, no ano que vem. Antes disso, a elite dos velejadores de todo o planeta se reunirão no local para um evento teste, na segunda quinzena de agosto. Será a segunda vez que o evento será realizado. O primeiro, no ano passado, funcionou sem grandes problemas. O segundo, porém, dificilmente repetirá o êxito.

“A condição atual é terrível. Em agosto do ano passado, uma conjuntura de fatores favoráveis aconteceu e acabou dando tudo certo. Mas foi uma sequência de fatores para que isso acontecesse. Eu acho que não é fácil que aconteça duas vezes. Ou três vezes, que é o que precisaríamos para 2016”, explica o velejador, que hoje é o técnico do time brasileiro de vela.

No ano passado, o estado do Rio sofreu com poucas chuvas no meio do ano. Com isso, o volume de lixo flutuante arrastado até a baía foi menor do que o normal. Além disso, o esquema de coleta dos detritos no local foi aumentado no período que antecedeu a competição. Hoje, a coleta corre o risco de nem mesmo estar em funcionamento até agosto. O projeto foi interrompido no começo de março e ainda não existe previsão para sua retomada.

Na segunda-feira, o Instituto Rumo Náutico, do qual o próprio bicampeão olímpico é presidente, anunciou que não aceitaria o contrato, sem licitação, que o governo do Estado do Rio de Janeiro oferecia para gerir um novo plano de limpeza de detritos flutuantes na Baía de Guanabara. O projeto foi feito com a consultoria do irmão mais velho de Torben, Axel Grael, engenheiro ambiental que hoje é vice-prefeito de Niterói.

As ações previam a construção de novas ecobarreiras, que evitam que lixo de rios e canais cheguem ao curso principal de água da baía, e o uso de dez ecobarcos para recolher detritos. Os locais de implantação das ecobarreiras e a rota que as embarcações seguiriam seriam ditadas por um software holandês, que prevê a movimentação do lixo flutuante levando em contas as marés.

Os Grael acreditavam que o projeto poderia ajudar a tornar a raia olímpica velejável, pelo menos em 2016. Mas rejeitaram a gestão do projeto por não concordarem com o sistema de contratação sem licitação – seria um convênio de R$ 20 milhões por 18 meses de trabalho. A questão, porém, é que a contratação normal, com licitação, já não é mais possível, pelo menos para agosto.

Segundo o secretário do meio-ambiente, André Correa, são necessários quase cinco meses entre o desenvolvimento da licitação, o processo de escolha da empresa responsável e o início do recolhimento do lixo propriamente dito. Fazendo as contas, na melhor das hipóteses, o lixo passará a ser recolhido dias antes do início do evento teste.

Nesse cenário, o Brasil terá de torcer, e muito, para não colocar a elite de um dos esportes mais tradicionais dos Jogos Olímpicos competindo no meio do lixo.

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