ONG dos Grael diz não e governo do Rio fará nova licitação para limpar baía
Bruno Doro e Vinícius Konchinski*Do UOL, em São Paulo
O secretário estadual do meio-ambiente do Rio de Janeiro, André Corrêa, anunciou na tarde desta segunda-feira que fará uma licitação para o programa de coleta de lixo flutuante na Baía de Guanabara. Pela manhã, o Instituto Rumo Náutico, criado pelos velejadores da família Grael, confirmou que não aceitaria o acordo com o governo do Estado do Rio de Janeiro para conduzir a ação.
O conselho diretivo da entidade se reuniu para discutir o contrato emergencial proposto pela Secretaria de Estado do Ambiente para que o IRN fosse o gestor do projeto de coleta de lixo, parado desde o início do mês. A decisão de não assinar o acordo foi unânime. O convênio teria o valor de R$ 20 milhões, válido por 18 meses, em regime emergencial e sem a necessidade de licitação. O plano envolveria a construção de cinco novas barreiras para segurar o lixo que chega à Guanabara em rios e recolocar em circulação dez barcos equipados para coletar objetos que permanecem boiando.
“Eu fiquei surpreso. Estava discutindo o acordo há 60 dias. Eu imaginava que poderia fazer parceria. Provavelmente, o clima político no Brasil, em que todo mundo é suspeito, assustou os Grael e eles resolveram voltar atrás”, afirmou o secretário ao UOL Esporte. “Entendo a decisão. Isso mostra que são pessoas sérias e que não querem se aproveitar. Mas ainda quero contar com a colaboração do Projeto Grael. Não teremos um convênio, mas eles têm conhecimentos técnicos da Baía de Guanabara que ninguém tem”, completa.
Segundo o secretário, o não da ONG vai atrasar o reinício do processo de limpeza do local. Ele informou que serão necessários entre 60 e 70 dias para criação do edital de licitação e mais dois meses para que o processo seja concluído. O problema é que o evento-teste da raia olímpica está marcado para agosto. "Não estou tranquilo em relação à limpeza da raia que será usada até lá. Podemos tentar outras medidas emergenciais”, admite.
O não dos Grael
O acordo entre o Instituto Rumo Náutico, gestor do Projeto Grael, que promove educação ambiental e capacitação esportiva e profissional para crianças carentes, foi anunciado na quarta-feira passada pela Secretaria de Estado do Ambiente. Na sexta-feira, porém, membros do conselho diretor se manifestaram contra uma contratação, principalmente sem licitação. O temor era de que o nome dos velejadores (presidente do Instituto, Torben é bicampepeão olímpico e seu irmão, Lars, que faz parte do conselho, é duas vezes medalhista nos Jogos) fosse usado para justificar fracassos no processo de limpeza.
Por isso, o IRN decidiu não assinar o contrato. Os responsáveis, porém, dizem que o Instituto teria condições de gerir o projeto, que foi criado com consultoria do mais velho dos irmãos Grael, Axel, engenheiro ambiental e, atualmente, vice-prefeito de Niterói. “O Projeto Grael já deu deu uma grande contribuição para a limpeza do lixo flutuante ao elaborar o projeto. Mas, embora tenhamos a expertise para gerenciar o programa, não compete ao Projeto Grael fazer esse trabalho no momento. E o risco institucional era grande. Não valia a pena neste momento”, explicou Torben Grael ao UOL Esporte.
O projeto foi desenvolvido depois que o ex-secretário do meio-ambiente do Rio, Antônio da Hora, criticou ecobarreiras e ecobarcos, dizendo que eram ineficientes. Ele anunciou, no dia 3 de março, a suspensão do investimento nos equipamentos e declarou em nota que a ação dos ecobarcos era "para inglês ver".
O novo plano conta com o auxílio de tecnologia holandesa para prever a movimentação do lixo flutuante e promete uma maior eficiência na ação dos ecobarcos e das ecobarreiras para monitorar a situação das áreas que serão usadas durante os Jogos Olímpicos. “A ação do Projeto Grael não seria despoluir a Baía de Guanabara, mas uma medida para oferecer uma raia mais justa e igualmente competitiva para os atletas. Não é a nossa principal vocação gerir o projeto de coleta de lixo flutuante, mas nos manteremos à disposição do Estado, em prol de uma Baía mais digna para todos os usuários”, fala Lars Grael.
No meio da polêmica, Axel Grael disse que apoiou a decisão do conselho da entidade. "Comecei a minha vida de militância ambientalista há 40 anos, lutando pela Baía de Guanabara, e continuarei fazendo. O Projeto Grael tem sido um importante canal de contribuição para isso e é importante que continue a motivar os seus alunos a se engajarem nessa luta e que contribua sempre com as iniciativas de despoluição. Mas, isso deve ser feito dentro das vocações e das limitações institucionais da nossa organização. A decisão do Conselho Diretor do Instituto Rumo Náutico é prudente e correta”.
* Atualizado às 17h30