Atleta come quatro vezes mais do que você. E pode perder 4kg dormindo
Bruno DoroDo UOL, em São Paulo
Sorvete é uma delícia. Mas a combinação de açúcar e leite, uma bomba de gordura, é vilã de qualquer dieta. Mas não para aquela adotada por um atleta olímpico que sonha com uma medalha nos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016. Para Fernando Reis, potes da guloseima são sempre bem-vindos. “Eu gosto muito de sorvete. Porque é absorvido rápido. Vira caloria direto”, explica.
A busca por calorias do atleta é diária. E tão importante quanto os treinos que faz. Fernando pratica levantamento de peso. E é um dos melhores do planeta. No Mundial do ano passado, terminou em nono lugar - já tinha sido sétimo, na edição anterior do torneio. O objetivo deste ano é melhorar ainda mais. Chegar aos quatro melhores. “Dei que uma medalha é possível”.
Entre o brasileiro e o pódio, porém, está um aumento de peso significativo. Há três anos, Fernando era “magro”: tinha entre 110kg e 115kg. Quando conversou com o UOL Esporte, pesava 148kg. São mais de 30kg ganhos em uma dieta para poucos. Em um dia normal, ele faz seis refeições, come porções jumbo de arroz, feijão e batatas e bifes. Muitos bifes. Além de ovos, pães, frutas, sucos e os sempre presentes shakes de proteínas. Ele ingere pelo menos oito mil calorias por dia. Uma pessoa normal, como você, come entre duas e 2,5 mil calorias.
“É uma rotina difícil. Você perde o prazer de comer. Para mim, virou parte do treinamento. É combustível. Eu não penso mais em sabor, mas em calorias. Em quantas calorias estou ingerindo em cada refeição. Acho que a última vez em que tive prazer ao comer foi quando estava leve, com 110kg”, conta.
Toda essa comilança não é exagero. Levantamento de peso é um dos esportes mais completos do currículo olímpico. É a base de treinamentos da maioria das modalidades rivais. Atletas de judô usam para aumentar força. Jogadores de futebol aproveitam para ganhar agilidade. Nadadores usam para aumentar a potência das braçadas. O custo em energia de uma sessão de treinamentos é enorme.
Fernando, por exemplo, treina entre cinco e seis horas por dia. Atualmente, levanta 40 toneladas por dia. Em época de treinamento pesado, esse número sobe, podendo chegar às 60 toneladas. “Se eu não comer, eu me machuco. E se pular uma refeição, perco peso. Quando estou muito cansado e só faço o jantar, pulando a última refeição, que pode ser um shake de proteínas, frutas e sorvete, acordo com três, quatro quilos a menos”.
O esforço envolve uma troca de categorias. Quando começou o processo de ganho de peso, Fernando passou dos pesados para os super-pesados, em que os medalhistas olímpicos pesam entre 155kg e 165kg. “Ganhar peso também vai me permitir ganhar massa muscular. E, com isso, aumentar o que eu posso levantar. Hoje, levanto, somado, 420kg. Para pensar em medalha, preciso chegar aos 440kg, no mínimo”.
Um dos maiores testes do atleta será o Pan-Americano de Toronto, no meio do ano, quando vai defender sua medalha de ouro de quatro anos atrás. “É como um projeto empresarial, com objetivos, metas e etapas. O Pan é nosso primeiro teste. Estabelecemos uma meta e o Pan é a primeira etapa. Se tudo der certo, é o indicativo que estamos no caminho certo e que o trabalho deve ser mantido até 2016. Se algo der errado, é voltar para a etapa de planejamento, encontrar o ponto que não funcionou, fazer os ajustes e começar de novo”.
Essa mentalidade empresarial faz parte da vida de Fernando desde 2009, quando foi fazer faculdade nos EUA. Se formou em administração, como aluno-atleta. Hoje, usa os conhecimentos em sua própria academia. Ele inaugurou, há pouco menos de dois meses, o CT F.Reis, o primeiro centro de levantamento de peso olímpico aberto ao público no país. “Vimos que existia mercado, mas não havia conhecimento da modalidade. Então, eu entrei com know how. Minha família investiu uma parte do dinheiro e amigos fizeram o restante do investimento”. Com cinco campeões mundiais de jiu-jitsu treinando no local, o atleta olímpico pode se orgulhar: pelo menos nos negócios, ele já está ganhando uma medalha.