Joaquim Cruz: doping é como a corrupção

Bruno Doro
Do UOL, em São Paulo
Tony Duffy/Getty Images
Joaquim Cruz (azul) disputa a final olímpica dos 800m em Los Angeles-1984: foi o primeiro ouro brasileiro em provas de pistas da história

“O doping sempre esteve à frente de quem faz o antidoping. E sempre vai estar. É como a corrupção. Quando você acha que governo faz a coisa certa, que ninguém está fazendo nada de errado, a corrupção está ali, caladinha, só armando, esperando a menor oportunidade para enganar as pessoas”.

A frase é de Joaquim Cruz, um dos nomes mais importantes do atletismo brasileiro. Campeão olímpico dos 800m rasos em Los Angeles-1984, ele foi o primeiro brasileiro a quebrar um recorde olímpico na modalidade – a marca durou 12 anos. Seu recorde brasileiro na distância, também de 84, dura até hoje: o tempo de 1min41s77 conquistado em Colônia, na Alemanha, pouco depois dos Jogos Olímpicos fazem do brasileiro, até hoje, o quinto atleta mais rápido da história da sua prova.

Radicado nos EUA há 30 anos, Joaquim trabalha com a elite do atletismo paraolímpico norte-americano atualmente, em um CT na Califórnia. E vive em um ambiente em que o doping está presente, apesar da luta intensa das autoridades do país.

“Está sendo investido muito dinheiro no combate ao doping, mas não é o suficiente. Quem quer, contrata médico particular. Existem médicos que só fazem isso e ganham muito dinheiro. Mas não temos de achar que todo mundo está dopado. Sempre existirão atletas legítimos, que têm uma filosofia e estão do lado de Deus. Querem competir e desafiar seus limites. Pra eles, é mais importante tentar a glória fazendo a coisa correta. Mas também sempre vamos ter atletas que querem burlar o sistema, que querem resultado rápido, que querem enriquecer. Esses estão trabalhando para escapar do doping”, conta o ex-corredor, hoje com 51 anos.

Segundo ele, antes da divulgação do escândalo de doping da Rússia, em que um documentário de uma TV alemã mostrou evidências de que 99% do atletismo russo usavam drogas proibidas, já existiam comentários de que alguns países estavam aproveitando brechas no sistema de controle antidoping. Além dos problemas russos, veículos de imprensa britânicos publicaram que a Iaaf, a federação internacional do esporte, tinha ignorado amostras sanguíneas com resultados alterados de mais de 200 atletas de 39 nacionalidades diferentes, sendo a maioria russos.

“Existia essa conversa sobre a Rússia. Mas, na maior parte das vezes, temos de confiar nas organizações antidoping. Esses atletas são testados. Não podemos ficar focados em quem está dopado e quem não está. Cada um tem de continuar fazendo seu trabalho. Eu sempre fui um defensor do combate. Como? Se prontificando, como voluntário, aos exames. Eu sempre fui a favor de exames de sangue, quando eu competia. Se eu tiro sangue para checar a saúde, por que não posso fazer isso para provar que estou limpo? Hoje, você deixa seu sangue por dez anos guardado, para ser testado de novo. Isso é importante porque quem está se dopando está dez anos à frente de quem está combatendo. É assim que se combate”.

Reprodução/Facebook
Joaquim Cruz e Rafael De Marco, autor da biografia do campeão olímpico: Matad

Joaquim esteve no Brasil na semana passada. Além de visitar seu projeto esportivo, o Rumo ao Pódio Olímpico, ele lançou sua biografia. O livro é chamado “Matador de Dragões” e foi escrito pelo jornalista Rafael De Marco.