Satiro Sodre/CBDA

Estamos, oficialmente, a 500 dias dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Parece muito, e quem gosta da competição mais importante do esporte mundial deve estar contando os dias para que o calendário ande rapidinho até a hora da tocha ser acesa no Maracanã. Para aumentar ainda mais a sua ansiedade, o UOL Esporte resolveu reunir 16 histórias incríveis, que te farão torcer para o relógio acelerar.

Na lista abaixo, você relembra sustos, perrengues, porres e sensações de quem viveu a expectativa de brigar por uma medalha olímpica. Confira todos e comece a contagem regressiva para as primeiras Olimpíadas no Brasil:

1 - A aguardente grega e a bronca que os velejadores levaram

AFP PHOTO/MENAHEM KAHANA

“Eu e o Torben (Grael) chegamos na Grécia com um objetivo: a medalha de ouro olímpica. Estávamos muito focados nisso. Em Sydney-2000, perdemos o primeiro lugar no último dia e passamos quatro anos lamentando. O Torben, porém, foi escolhido para carregar a bandeira na cerimônia de abertura. Era uma honra para toda a delegação da vela. Então aproveitamos para comemorar. Na Grécia, eles tomam o Ouze, um dos destilados mais fortes do mundo. Só que a gente exagerou um pouco. E estávamos mais alegres do que o restante da delegação. E isso causou alguns inconvenientes... No dia seguinte, os dirigentes do COB nos chamaram para um conversa. Disseram que a vela não estava concentrada para as Olimpíadas, que tínhamos perdido o foco, que aquilo era inadmissível. Nós só ouvimos. Quando os Jogos terminaram, a vela era o esporte que mais medalhas tinham dado para o Brasil na história. E aqueles caras que tinham levado bronca acabaram com três pódios. Incluindo duas medalhas de ouro” 
Marcelo Ferreira (vela), Atenas-2004

2 - Jantar na Vila Olímpica livrou equipe de tênis de atentado

Getty Images

“Na noite que teve o atentado (no Centennial Olympic Parc, que vitimou duas pessoas e feriu 111) o pessoal da equipe de tênis ia sair pela primeira vez da Vila Olímpica para jantar e ia justamente neste parque. O time tinha a Vanessa Menga, Mirian D’Agostini o capitão Paulo Cleto e eu. Mas de última hora, o Cleto resolveu abortar a saída e ficamos ali pela Vila mesmo, justo no único dia que teríamos livre pois nenhum de nós teria jogo no dia seguinte. Fomos dormir cedo e quando acordamos ficamos sabendo que haviam explodido bombas lá. Foi uma coisa meio louca, estranha, procuramos nem pensar muito nisso. Mas realmente poderíamos estar lá quando teve o atentado. Foi uma neura enorme. No dia seguinte à explosão, o controle para sair da Vila era rígido. Pediram para sair de lá apenas quem fosse competir” 
Fernando Meligeni (tênis), Atlanta-1996

3 - Ouro de Rogério Sampaio quase foi para a Bolívia

Fernando Santos/Folha Imagem

“No ciclo olímpico de Barcelona, judocas criaram um grupo contrário à gestão de Joaquim Mamede na Confederação Brasileira. Eu, Aurélio Miguel, Rogério Sampio, José Tranquilini fazíamos parte desse grupo. Ninguém defendia o Brasil em competições internacionais. Por isso, começamos a negociar com outros países, para não perder os Jogos Olímpicos. Em 1991, o Aurélio estava conversando com a Espanha, já que tinha passaporte espanhol. Eu e o Rogério estávamos negociando com a Bolívia. Fomos até o país, conversamos com a Confederação, estávamos preparando os documentos. No fim do ano, o Bernard Rajzman conseguiu conciliar a briga. Chegou com um patrocínio do Banco do Brasil para o judô, o Mamede aceitou as nossas reivindicações e acabamos aceitando defender o Brasil. Ou seja: por problemas de gestão do esporte, o Brasil quase deixou um campeão olímpico defender outro país. O ouro que o Rogério conquistou poderia ter sido a primeira medalha olímpica da história da Bolívia” 
Wagner Castropil (judô), Barcelona-1992

4 - Um bebê olímpico

AP Photo/Dmitry Lovetsky

“Antes dos Jogos de Inverno de Vancouver-2010, eu e meu marido (que também era meu treinador) decidimos tentar engravidar depois que a temporada acabasse. Eu estava muito magra, em uma fase de treinamento bastante intensa. Acreditava que iria demorar um pouco. Embarcamos para Vancouver alguns dias antes da abertura oficial, para já começar a adaptação com o fuso horário e estudar o percurso. Eu e a Isabel Clark estávamos no mesmo quarto neste início. Depois, ela iria para outra Vila, mais próxima da competição dela. Como nós duas somos casadas com nossos treinadores, naturalmente a Isabel me pediu para trocar de quarto. 'Jaque, eu gosto muito de você, mas prefiro dormir com o meu marido. O que você acha?'. Trocamos de quarto e, por incrível que pareça, este dia foi o dia D! Competi em Vancouver grávida de poucos dias. Nove meses mais tarde, o meu filho Ian nasceu. Coincidentemente, o dia do aniversário do Ian é o mesmo dia da Isabel!” 
Jaqueline Mourão (cross country), Vancouver-2010

5 - Vila de Barcelona tinha sua própria versão do Tinder

AP Photo/Cliff Schiappa

“A Vila Olímpica de Barcelona tinha uma atração especial: uma rede de computadores interligados. Naquela época, não havia internet ou celular. E aquilo foi uma grande sensação entre os atletas. Acho que ninguém tinha visto nada parecido com aquilo até então. Pelo que me lembro, você acessava o computador, buscava pelo nome e apareciam as mensagens. Se eu quisesse, poderia mandar recados para qualquer atleta, brasileiro ou de outras delegações. Era muito bacana e divertido. Antes de competir, sempre apareciam umas mensagens de apoio e incentivo dos colegas. Eu era a única ginasta da delegação em 1992, a mais novinha e a mais baixinha. Então, virei a mascote do Brasil. Muita gente me mandou mensagem de 'boa sorte'. Mas eu também mandei para o pessoal do basquete, do atletismo. Aliás, dava até para marcar encontros por ali. Mas isso eu não fiz...” 
Luisa Parente (ginástica), Barcelona-1992

6 - Raquete de Djokovic como presente olímpico

Mark J. Terrill/AP

“Antes dos Jogos de Londres, eu estava assistindo ao Campeonato Europeu de vôlei, na Sérvia, pela televisão. Na semifinal, vi o Novak Djokovic na plateia. Eu me perguntei: 'mas o que ele está fazendo na plateia?'. Na final, Sérvia e Alemanha, ele estava de novo na área vip. Prometi que, quando encontrasse o técnico da Sérvia, o Terzic Zoran, perguntaria o que estava acontecendo. Na primeira oportunidade, ele disse que o Djokovic tinha sido convocado. 'Mas foi convocado por quem? Pelo presidente da Sérvia?'. 'Não, ele é meu sobrinho, filho da minha irmã. E eu pedi para ele dar palestra para as meninas. Ele chegou lá, todo mundo se surpreendeu e foi impacto muito positivo'. Quando descobri isso, fui logo avisando: 'Você vai fazer um favor para mim. Quero uma raquete dele, usada em qualquer torneio que tenha participado'. Chegando à Olimpíada, o encontrei na Vila e o presente estava lá" 
José Roberto Guimarães (vôlei), Londres-2012

7 - O dia em que um campeão olímpico me carregou para a Vila

Arquivo/Folhapress

“A seleção de futebol já tinha perdido a final para União Soviética. Ficamos com a prata em Seul. E seguimos mais uns dois dias na Coreia. Nesse período, almocei na Vila Olímpica só com os monstros sagrados do esporte. Na minha mesa tinha o Carl Lewis do atletismo, a equipe alemã de ciclismo, o Matt Biondi da natação... Aquilo impressionava. Mas na noite em que o Aurélio Miguel conquistou o ouro no judô, resolvemos comemorar com a turma do judô. Balada pesada mesmo! Conforme bebíamos, as meninas ficavam maravilhosas. Descobri que cerveja coreana é um dos melhores embelezadores do mundo... Na volta, mal conseguia andar. O Aurélio teve que me carregar nas costas. Foi a forma que encontramos de extravasar os vários dias que ficamos concentrados para a competição” 
Neto (futebol), Seul-1988

8 - A decepção por contar uma novidade que todo mundo já sabia

AFP

“Depois de ganhar a medalha de prata em Sydney-2000, fui rápido ligar para o meu pai. Liguei para contar uma super novidade, a conquista da medalha de prata olímpica. Ele respondeu: “Claro que já estou sabendo, o Brasil inteiro está sabendo…”. Eu era um garoto e não sabia o tamanho da repercussão de uma medalha olímpica até então. E os Jogos de Sydney foram de madrugada no Brasil, a internet ainda não era tão forte como hoje. E foi inesquecível também quando voltei para a casa em que estava hospedado na Vila Olímpica. Tive a sorte de ficar na mesma casa que Gustavo Kuerten, o Guga, nosso maior ídolo da época. Naquele ano, ele já era bicampeão de Roland Garros, e estava disputando sua primeira olímpiada. Eu também estava na minha estreia. Era o mais jovem da delegação. Foi muito bacana esse convívio, quando cheguei em casa com a medalha de prata me deparei com um cartaz dele me dando os parabéns. Foi o máximo pra mim, tudo parecia surreal” 
Tiago Camilo (judô), Sydney-2000

9 - Faltou dinheiro para o táxi da comemoração

Chen Yehua/Xinhua

“Entre bater na borda e subir ao pódio, abracei um monte de gente. Até quem eu não conhecia. Eu não parei. Lembro que fui receber a medalha ainda com o maiô embaixo do agasalho. Quando levantei a mão, percebi as alças do maiô para baixo. Naquela época, os maiôs tecnológicos, ainda permitidos, eram de corpo inteiro. No dia seguinte, já tínhamos de sair da Vila Olímpica. Saía o pessoal da natação, entrava o atletismo. Mas a gente ainda estava no clima de comemoração. Não daria tempo para ir conhecer a Muralha da China, mas dava para ir até a Cidade Proibida. Pela manhã, eu e o Albertinho (Alberto Silva, seu técnico) resolvemos ir na raça, sem guia ou intérprete. Virou uma aventura: acertamos o preço antes e o motorista de táxi cobrou cem dólares pelo passeio. O problema é que saí sem dinheiro ou telefone. Tive de pedir um celular emprestado para telefonar e pedir ajuda” 
Cesar Cielo (natação), Pequim-2008

10 - Seleção de handebol não conseguia ficar acordada nos treinos

AFP PHOTO/Odd ANDERSEN

“Para as Olimpíadas de Sydney, fizemos nossa aclimatação em Camberra. A diferença de fuso horário era muito grande, de 12 horas. Então, estávamos trocando o dia pela noite, literalmente. Quando chegamos aos quartos, descobrimos que eram individuais. Cada atleta ficaria sozinha. Pode parecer bom, mas para adaptação ao fuso, não era. Não conseguíamos dormir a noite e, durante o dia, todo mundo acabava cochilando. Nos treinos, era engraçado demais. Todo mundo sonolento, mais devagar, sem conseguir dar o máximo. O pior era quando chegava a hora das instruções técnicas. Tinha jogadora que dormia quando o técnico falava... Quando a gente olhava uma para a outra, sabia quem estava dormindo, quem estava com sono, quem estava alerta. Era muito engraçado. Acho que o técnico não percebeu, mas tenho certeza que a gente foi e voltou da Austrália sem se adaptar ao fuso” 
Meg Montão (handebol), Sydney-2000

11 - Nadador perdido ficou dois na sala de videogame da Vila Olímpica

Orlando Kissner/AFP

“Recebemos muitos conselhos e orientações do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) para evitar aquela sensação de deslumbramento quando chegássemos à Vila Olímpica, em Atenas-2004. Mas quando chegamos lá, não teve jeito. Não tinha como ficar indiferente naquele ambiente. Houve um menino da delegação de natação que sumiu por dois dias, foram encontrá-lo na sala dos vídeos games. Tem de tudo na vila. Eu fiquei muito curiosa e peguei uma bicicleta para conhecer tudo e todos. Andei um monte, percorri aquela vila toda, parecia uma cena do filme “A Fantástica Fábrica de Chocolates”. Eu vi gente alta, baixa, anão, gigante, gordinhos, vi várias estrelas do esporte, gente famosa e milionária lá, convivendo com os demais atletas. Foi impressionante. Passei quase o dia inteiro andando de bicicleta. Na volta, quando cheguei ao local onde estávamos hospedados, levei uma bronca da comissão técnica, porque tinha que evitar ficar fazendo esforço além da conta andando de bicicleta” 
Rebeca Gusmão (natação), Atenas-2004

12 - Balança errada e sauna para perder excesso de peso

Maurício Dehò/UOL

“Uma coisa curiosa que aconteceu conosco no México e que causou transtorno foi na pesagem. Não sei se por falta da experiência do time ou por desatenção. No dia da pesagem, tinha duas balanças. Uma para você se pesar de forma extra-oficial para ver se precisva perder peso e outra que já valia para a competição. Subimos direto na balança oficial e passei alguns gramas do peso. Foi um transtorno tremendo. Apelamos com os membros do COI, com os organizadores dos Jogos e aí deram mais tempo para poder tirar o peso. Fui para a sauna e consegui perder o que faltava” 
Servílio de Oliveira (boxe), México-1968

13 - O hino nacional cantado na Cerimônia de Abertura

REUTERS/Mike Segar

“Com certeza, um dos momentos mais especiais que tive em Londres-2012 foi a cerimônia de abertura. É uma história que vai ficar na minha memória pra sempre e eu não posso deixar de contar. Eu era muito nova e estava completamente encantada com tudo à minha volta. Uma experiência inexplicável. Eu contava os dias para chegar a abertura dos Jogos Olímpicos. De repente lá estava eu, fizemos uma caminhada com todos os atletas, da vila olímpica até o estádio da cerimônia. Dava pra sentir na pele a emoção dos atletas, todo mundo em uma harmonia, uma união que eu nunca tinha visto antes. Do nada, sem combinar, todos os atletas brasileiros começaram a cantar o hino nacional, mais e mais alto, mostrando para o mundo inteiro como era grande o nosso orgulho de ser brasileiro, de defender nosso país naquele momento. Foi neste instante que eu parei para ver o quanto é imenso o espírito olímpico e como ele tem o poder de tornar as pessoas mais unidas” 
Ana Sátila (canoagem), Londres-2012

14 - Medalha de prata veio com uniforme remendado

Arquivo/Folhapress

“O momento da seleção feminina, em 1996, era muito bom. Finalizamos a preparação no Canadá e chegamos a Atlanta empolgadas. Quando recebemos os pacotes com os uniformes e abrimos as caixas, porém, veio a decepção: tinham mandado roupas masculinas. O que a gente poderia fazer, a poucos dias da estreia nos Jogos Olímpicos? Foi uma loucura. Saímos atrás de alguém que pudesse fazer a adaptação e acabamos encontrando uma costureira brasileira que estava radicada nos EUA que podia resolver o problema. Ela fez os ajustes, apertou peça por peça e conseguimos competir. A medalha de prata veio assim, com uniformes improvisados, mas que aguentaram a Olimpíada inteira” 
Paula (basquete), Atlanta-1996