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Um homem liga Ricky Martin, É o Tchan e Roberto Carlos ao polo aquático

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

No fim dos anos 80, um brasileiro era presidente da gravadora Sony, no México, quando um ex-integrante da banda Menudo lançou sua carreira solo. Esse cantor era Ricky Martin. No mesmo período, a carreira um fenômeno da música verde-amarela se reergueu no mercado latino, com direito a um prêmio Grammy. Desta vez, era Roberto Carlos.

Em comum, as duas histórias têm o paulistano Marcos Maynard. A lista de nomes que ele influenciou é muito, mas muito, maior. Chitãozinho e Chororó, É o Tchan!, Ivete Sangalo, Balão Mágico, Falamansa, Simone, Caetano Veloso, Julio Iglesias, Chico Buarque, Restart...

Agora, é o universo do esporte olímpico que está recebendo a atenção de Maynard. Nem todos sabem, mas Maynard, além de sua rica história com a música, é também jogador de polo aquático. Foi campeão sul-americano em 1973 com a seleção brasileira e até hoje defende o país: em 2012, jogando por um time do Rio de Janeiro, terminou em quarto lugar na categoria abaixo de 55 anos.

Mais do que jogar, hoje ele é diretor da modalidade na Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos. É o homem por trás de um plano ambicioso: conquistar uma medalha olímpica para um esporte em que o Brasil tem muito pouco destaque. E o convite para assumir essa posição veio, ironicamente, mais pela música, do que pelos feitos na água.

“Eu trabalhava nos EUA e fui assistir a uma partida da seleção brasileira de polo em Miami. Conhecia os jogadores, que me apresentaram ao Coaracy Nunes, o presidente da CBDA. A primeira coisa que ele disse quando descobriu que eu trabalhava com música era que adorava Bossa Nova. Eu, então, mandei uma caixa de CDs para ele”, lembra Marcos.

Os dois se tornaram amigos, trocando informações sobre música. O presidente da CBDA, aliás, até virou “olheiro” de Maynard: “Um dia, ele ligou e falou sobre uma série de shows que estavam acontecendo na Lagoa, de Bossa Nova. Eu peguei o contato do produtor e fizemos um DVD. Tudo graças ao Coaracy”.

O convite veio no ano passado e Marcos aceitou o desafio. Os primeiros tijolos do projeto olímpico do polo aquático já estavam lá: o canadense Pat Oaten (duas medalhas em Mundiais e um título mundial júnior pelo Canadá), para a seleção feminina, e o croata Radko Rudic (tetracampeão olímpico com três seleções diferentes), para o time masculino, já tinham sido contratados. Restava estruturar a modalidade para que eles pudessem trabalhar.

“Quando o Coaracy (Nunes, presidente da CBDA) fez o convite, pensei em como eu poderia ajudar. O foco é 2016 e os Jogos Olímpicos, mas quero fazer um trabalho maior, para além de 2017, algo que dure mais”, explica Marcos. “A primeira coisa que fiz foi chamar os clubes para conversar e acertar o calendário. Agora, estamos cuidando da seleção. Estou correndo atrás de patrocínios, principalmente para bancar o time masculino na Liga Adriática”, completa.

Essa liga é um dos pontos chaves da preparação do Brasil para 2016: é um campeonato de clubes, considerado o mais forte do mundo, com times de países dos Balcãs – onde o polo aquático é muito forte. A seleção brasileira masculina foi convidada para o torneio, mas ainda faltam detalhes para confirmar a participação. “Se conseguirmos essa confirmação, daremos um grande passo para ter um bom resultado. Sem isso, ficará muito mais difícil”, avisa o técnico Rudic.

Só para terminar: se a música levou Maynard a assumir um papel tão importante no esporte brasileiro, foi o esporte que abriu a primeira porta para que ele trabalhasse com música. Nos anos 60, a primeira banda de Marcos tinha um integrante negro. “O Zeca, que foi minha inspiração para começar a tocar violão”. Por causa disso, seus pedidos para tocar na domingueira do clube Pinheiros, onde treinava, eram sempre negadas.

“O Polé (Paulo Carotini) tinha acabado de ser campeão pan-americano, era uma das estrelas do clube, tinha até faixa homenageando a medalha, com o nome dele. E era meu amigo. Um dia, ele me viu triste. Eu contei que estava assim pelas negativas do clube para a banda. Então, ele foi até a diretoria e disse que se minha banda não tocasse, não tinha domingueira”.

Deu certo: Marcos, Zeca e sua banda foram convidados para tocar, acabaram aprovados para o público e voltaram em outras datas. Adeus preconceito no clube, olá carreira na música. “O polo e a música não tem nada a ver. Mas, na minha vida, tem tudo a ver. Os caminhos estão sempre se cruzando”.

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