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Conheça os cartolas olímpicos que estão no poder desde o século passado

Vinícius Segalla

Do UOL, em São Paulo

Quando Coaracy Nunes fundou e assumiu a presidência da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), em 1988, o presidente do Brasil era José Sarney e a inflação chegava a 993,28% ao ano. Ayrton Senna conquistava seu primeiro título na Fórmula 1 e fazia propaganda dos cigarros Marlboro. Na Alemanha, um muro dividia a cidade de Berlin em duas. Na Coreia do Sul, o judoca Aurélio Miguel ganhava a primeira medalha de ouro olímpica da história do judô brasileiro, nos Jogos de Seul.

De lá para cá, o Brasil teve mais cinco presidentes, a inflação foi posta sob controle e já não ultrapassa os 7%, Ayrton Senna conquistou mais dois títulos mundiais antes de morrer em trágico acidente, o Muro de Berlin foi derrubado e o judô brasileiro conquistou mais 14 medalhas olímpicas. Uma coisa, porém, não mudou: Coaracy Nunes segue presidindo a CBDA.

São 27 anos à frente da natação, do pólo aquático, dos saltos ornamentais e do nado sincronizado brasileiros. "Sou um vitorioso na minha confederação. Sempre fui reeleito por unanimidade pelos meus presidentes (das federações estaduais), então estou absolutamente tranquilo com a minha trajetória", diz Coaracy, quando questionado se não vê problemas na falta de alternância no poder da CBDA.

O cartola dos esportes aquáticos é o caso mais extremo, mas está longe de ser um fato isolado dentro da realidade do esporte brasileiro (veja tabela abaixo). Entre as 27 confederações de esportes olímpicos no Brasil, três são dirigidas pelo mesmo cartola há mais de 20 anos, e 12 possuem o mesmo presidente há, pelo menos, dez anos.

Esta lista seria ainda maior se alguns cartolas não tivessem deixado recentemente o comando de suas confederações, enquanto enfrentavam denúncias de corrupção ou crises de confiança.

É o caso, por exemplo, da CBV (Confederação Brasileira de Vôlei). Ela foi controlada por Carlos Arthur Nuzman de 1975 a 1995. O cartola só deixou o cargo para assumir a presidência do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), cargo que ocupa até hoje. Em seu lugar, assumiu, em um mandato provisório, Walter Pitombo Larangeiras, conhecido como Toroca.

Já em 1997, assumiu a confederação o ex-jogador Ary Graça Filho, que por lá ficou por 17 anos, até o ano passado. Em março de 2014, porém, o site da ESPN revelou a existência, dentro da CBV, de um esquema de pagamentos irregulares de comissões em contratos assinados com o Banco do Brasil, principal patrocinador da confederação, na casa das dezenas de milhões.

O cartola, que nega todas as acusações, então, renunciou ao cargo, dias após assumir o comando na Federação Internacional de Volêi. Na CBV, deu lugar ao mesmo Walter Pitombo Larangeiras que assumira em 1995. 

Outro dirigente esportivo recentemente alijado do centro de poder de sua confederação é Ricardo Teixeira, que comandou a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) por 23 anos, até março de 2012. Ele renunciou ao cargo alegando problemas de saúde após uma série de denúncias e investigações que recaíam sobre a sua administração.

Ao renunciar, Teixeira deixou em seu lugar José Maria Marin, que desde o início afirmou que faria uma "gestão de continuidade". Ao contrário do que fez Pitombo, da CBV, José Maria Marin, ex-governador de São Paulo levado ao cargo em 1979 por indicação da Ditadura Militar que governava o Brasil e cartola do futebol desde a década de 80, não prometeu investigação nenhuma. 

Mudança no horizonte

Em 2013, entrou em vigor uma lei federal (12.868/2013) que proíbe que dirigentes esportivos comandem uma federação ou confederação por mais de oito anos consecutivos. A norma, porém, tem validade a partir de 2013, e só a partir de então é que passa a contar o período de oito anos. Assim, caso não haja uma mudança na legislação, a partir de 2020, não haverá mais cartolas se perpetuando no cargo no Brasil. 

Coaracy Nunes, o decano há 27 anos presidindo a CBDA, a quem o nadador medalhista olímpico César Cielo já acusou de fazer pressão e até de ligar na casa de seus pais para que o atleta agisse de acordo com os interesses da confederação, é crítico à lei federal, embora faça elogios rasgados à presidente da República, Dilma Rousseff.

"Só continua (dirigindo por muitos anos uma confederação esportiva) quem tem sucesso. Os que não têm, ou os que passam por escândalos e denúncias, esses não têm chance de continuar. Não é o meu caso, eu tenho a solidariedade de toda a minha comunidade. Esta lei foi feita por deputados que deveriam se preocupar em limitar os mandatos deles próprios, e não de nós, dirigentes", diz Coaracy. 

Uma confederação esportiva, porém, mostra ter um ponto de vista diferente. A CBB (Confederação Brasileira de Basquete) se adiantou à validade da nova lei, e transformou em norma de seu estatuto a proibição de dirigentes se reelegerem indefinidamente.

 Carlos Nunes, no comando da confederação desde 2012, opina: "Acredito que a regulamentação do esporte está passando por um momento de transformação na busca da evolução. Existem preocupações com a gestão das entidades e essa alteração reflete a procura por um modelo, que não sei se já foi alcançado."

Sobre a decisão de CBB de limitar em seu estatuto os mandatos dos dirigentes, ele explica: "Oito anos são, em tese, suficientes para desenvolver o trabalho e fazer uma administração de qualidade".

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