Problemas e atrasos afetam 7 dos 8 compromissos olímpicos do governo do RJ
O governo do Estado do Rio de Janeiro assumiu oito grandes compromissos para ajudar a capital fluminense a se preparar para a Olimpíada de 2016. Faltando cerca de um ano e meio para o início dos Jogos, contudo, pelo menos sete deles são afetados por atrasos, pendências judiciais ou até mesmo pelo “esquecimento” de autoridades.
O governador Luiz Fernando Pezão afirmou na quinta-feira que tudo o que o Estado prometeu realizar até a Olimpíada será feito. Ministério Público, ambientalistas e membros do próprio governo já afirmaram, porém, que boa parte do que seria providenciado até os Jogos não estará pronto a tempo.
Veja abaixo como andam os projetos olímpicos do Estado:
Construção da linha 4 do metrô atrasou
A construção de uma linha de metrô entre Ipanema e a Barra da Tijuca é o projeto mais caro relacionado à Olimpíada de 2016, e está sob a responsabilidade do governo do Estado do Rio de Janeiro. A obra está orçada em R$ 8,7 bilhões. Começou em junho de 2010 e só deve acabar em maio de 2016, ou seja, cerca de três meses antes do início dos Jogos.
Tudo isso, porém, se novos atrasos não atrapalharem o cronograma da obra. Inicialmente, ela deveria acabar no final de 2015. O governador Pezão explicou que “a folga” que o projeto tinha até a Olimpíada acabou sendo eliminada por interrupções na construção e adequações no projeto da linha.
Uma das adequações foi o adiamento da entrega de uma das seis estações desta linha: a Estação Gávea. O governo do Rio de Janeiro já afirmou que essa estação só estará pronta em dezembro de 2016 --meses depois dos Jogos.
Mesmo com a mudança, o governador ressaltou o metrô vai, sim, chegar à Barra da Tijuca, conforme prometido ao COI (Comitê Olímpico Internacional). O COI já afirmou que a construção da nova linha do metrô é um dos projetos com cronograma mais apertados entre todos em execução para a Olimpíada. O comitê prometeu monitorar de perto a obra pois sabe que ela está sujeita a “problemas de última hora”.
Reforma do Parque Aquático Julio Delamare e do Maracanãzinho indefinida
Dois equipamentos esportivos anexos ao estádio do Maracanã receberão competições olímpicas: o ginásio do Maracanãzinho terá jogos de vôlei e o Parque Aquático Julio Delamare, de pólo aquático. Para que as partidas das modalidades possam ser realizadas nos espaços, ambos precisam de reforma.
A intenção do governo do Rio de Janeiro é que essas obras sejam bancadas pela concessionária que administra o Complexo Esportivo do Maracanã, a Maracanã SA. As adequações necessárias para a Olimpíada, inclusive, foram incluídas no contrato assinado pelo governo com a empresa.
Acontece que no final do ano passado, a concessionária enviou ao governo um pedido de renegociação desse contrato. A empresa quer reequilibrar financeiramente o acordo firmado com o Estado. Neste reequilíbrio, podem ser excluídas das obrigações da empresa as reformas necessárias para a Olimpíada.
O secretário estadual da Casa Civil, Leonardo Espíndola, afirmou a Maracanã SA vai, sim, ter que reformar o Maracanãzinho e o Julio Delamare para a Rio-2016. Essas obras, contudo, deveriam ter começado ainda 2014. Até agora, nada foi feito.
Reforma do Estádio de Remo da Lagoa Rodrigo de Freitas atrasou
O Estádio de Remo da Lagoa Rodrigo Freitas, reformado para os Pan de 2007, vai precisar de uma nova obra para receber competições olímpicas. O governo do Rio de Janeiro já sabe disso e chegou a licitar no final do ano passado um projeto R$ 4,4 milhões para adequação do espaço para a Olimpíada.
Uma empresa de engenharia, a Giver, venceu a concorrência. Até agora, porém, não foi convocada pelo governo para assinar o contrato. Sem contrato, obviamente, ela não iniciou a obra no estádio da Lagoa.
Por causa do atraso na assinatura do acordo para as obras, já se sabe que o estádio de remo estará em reforma durante o único evento-teste da modalidade, marcado para agosto deste ano: o Campeonato Mundial Junior de Remo. Isso porque as obras no local devem durar oito meses. Se começassem hoje, só terminariam em setembro.
Sabendo disso, o governo já declarou que vai adequar o cronograma da reforma para que a competição-teste da Olimpíada não seja afetada. A brasileira campeã mundial de remo de 2011, Fabiana Beltrame, lamentou o atraso na obra e declarou que o teste olímpico pode ser prejudicado. O Comitê Organizador dos Jogos Rio-2016 nega essa possibilidade.
Despoluição da Baía da Guanabara em xeque
Tratar 80% do esgoto que chega hoje à Baía de Guanabara é uma promessa do governo do Rio de Janeiro registrada no dossiê de candidatura da capital fluminense à sede da Olímpiada de 2016. No início do ano, porém, o novo secretário de Meio Ambiente, André Corrêa, declarou que a meta não seria cumprida: “Não vai acontecer”, afirmou.
Dias depois, contudo, o governo do Rio de Janeiro voltou atrás. Informou que Corrêa havia sido mal interpretado e ratificou que a meta de despoluição será cumprida conforme a promessa feita ao COI. Muitos ambientalistas e até atletas, entretanto, já não acreditam que a meta de tratamento de esgoto será alcançada.
Segundo o governo, em 2007, 11% do esgoto que chegava à baía era tratado. Hoje, já são pelo menos 51% do esgoto.
Acontece que o governo tinha prometido investir R$ 2,5 bilhões na limpeza da baía. No orçamento dos Jogos Olímpicos, porém, ele eservou menos de R$ 200 milhões para obras de limpeza do espaço.
Limpeza das lagoas da Barra e de Jacarepaguá paralisada
Outro compromisso olímpico do governo do Rio de Janeiro é a limpeza das lagoas Barra da Tijuca e Jacarepaguá, espaços que ficam exatamente ao lado do Parque Olímpico da Rio-2016. As obras necessárias para que isso estão atrasadas mais de um ano e meio. Segundo o MP (Ministério Público do Rio de Janeiro), não ficarão prontas até os Jogos Olímpicos.
Todo o atraso começou porque as empresas que ganharam a concorrência para executar as obras necessárias para limpeza das lagoas (Queiroz Galvão, OAS e Andrade Gutierrez) foram acusadas de terem combinado preços para cobrarem mais do governo. O governo, então, anulou o resultado da concorrência.
Quase um ano depois, ele voltou atrás. Resolveu contratar as empresas por R$ 673 mil para que elas executassem as obras nas lagoas. Foi aí então que o MP resolveu barrar o projeto. O órgão viu problemas no licenciamento ambiental das obras. Exigiu do governo adequações do projeto. Até agora, não liberou o início da limpeza das lagoas.
Segundo o próprio MP, o trabalho nos lagos deve durar 22 meses. Como só faltam 18 meses para o início da Olimpíada, é grande a chance de que as lagoas não estejam limpas para os Jogos.
Plantio 34 milhões de árvores foi esquecido
Ainda pensando na Olimpíada de 2016, o governo do Rio de Janeiro prometeu plantar 34 milhões no Estado para compensar emissões de gases causadores do efeito estufa relacionadas com o evento. A meta foi anunciada em 2012, pelo então secretário estadual do Meio Ambiente, Carlos Minc, e pela ex-vice-presidente do Inea (Instituto Estadual do Ambiente), Denise Rambaldi.
Anos depois, contudo, a meta foi “esquecida”. Ainda em setembro de 2014, o próprio governo anunciou que iria recalcular a promessa já que as emissões de gases relacionadoas à Olimpíada seriam reduzidas por ações de sustentabilidade que devem ser postas em prática pelo Comitê Organizador dos Jogos Rio-2016.
O comitê já lançou seu plano de sustentabilidade. O governo, porém, ainda não anunciou quantas árvores pretende plantar até a Olimpíada.
Desde 2012, 5,5 milhões de mudas já foram plantadas. Essa quantidade é a mesma registrada em setembro de 2014.
Projeto de legado esportivo e social suspenso
Pensando no legado que a Olimpíada de 2016 pode deixar, o governo do Rio de Janeiro criou um grande projeto social e esportivo ainda em 2007. Passou a oferecer aulas de futebol, natação, atletismo e outros esportes para 300 mil pessoas em comunidades carentes de todo Estado.
Faltando um ano e meio para a Olimpíada, porém, o projeto foi suspenso. Envolto em um crise financeira, o governo resolveu paralisar as aulas para poder redimensionar a iniciativa que ele afirmou ser o "maior legado social" dos Jogos.
A suspensão foi anunciada em janeiro pela Secretaria Estadual de Esporte, Lazer e Juventude, hoje comandada por Marco Antônio Cabral, filho do ex-governador Sergio Cabral. Em setembro de 2013, o governo já havia paralisado o projeto pela primeira vez causando reclamações principamente de professores, que alegaram ter ficado sem salários.
Reforma de estações de trem em dia
O projeto olímpico de reforma de seis estações de trem do Rio é o único que não tem problemas até agora. Segundo o governo, um acordo fechado com a empresa responsável pela operação dos trens na Região Metropolitana do Rio, a Supervia, prevê que as obras sejam realizadas pela própria companhia.
Ao todo, R$ 250 milhões serão investidos nas estações São Cristóvão, Engenho de Dentro, Deodoro, Vila Militar, Magalhães Bastos e Ricardo de Albuquerque. Todas ficam em regiões próximas aos locais de competição da Rio-2016.
De acordo com o secretário de Transporte do Estado, Carlos Osório, os investimentos e os prazos para as obras estão garantidos. A obra a mais complexa, a de São Cristóvão, está em execução. Tudo deve estar pronto até março de 2016.