Líder de grupo crítico, Ana Moser elogia novo ministro: "abriu diálogo"
Bruno DoroDo UOL, em São Paulo
Quando o mineiro George Hilton foi anunciado como o novo ministro do Esporte, em dezembro do ano passado, um grupo formado por nomes influentes do setor se posicionou firmemente contra a indicação. O Atletas pelo Brasil, entidade não-governamental que “trabalha pela melhoria da política esportiva no Brasil”, afirmou em comunicado que “a Presidente Dilma abriu mão de uma oportunidade de melhorar a gestão do esporte. Decepcionou todo um setor de atletas, jornalistas, empresários, organizações, trabalhadores e amantes do esporte em geral”.
Pouco mais de um mês depois, o discurso começa a mudar. Em entrevista ao UOL Esporte, Ana Moser, líder do movimento, admitiu que a postura de Hilton, inicialmente, é positiva. As críticas ao nome do pastor da Igreja Universal, porém, não foram esquecidas. A afirmação de que um nome sem qualquer proximidade ao esporte representa um desprestígio e custará tempo e recursos ao Ministério segue válida. Mas a abertura ao diálogo, sinalizada pelo convite a nomes com experiência no assunto, como Lars Grael na Comissão Nacional de Atletas, chega como boa notícia.
Origem das críticas à indicação de George Hilton
“O novo ministro é um nome desconhecido do esporte. E o PRB era um partido da base governista. A imagem que ficou é que o (Ministério do) Esporte entrou na cota dos partidos da base. Vimos uma estratégia política, não uma visão ideológica para a pasta. Para nós, foi uma falta de cuidado, um desprestígio”.
“Como uma pasta que está tão em evidência, responsável por entregar, em um ano e meio, os Jogos Olímpicos, pode ser tratada assim? O responsável precisa ter um mínimo de vivência no esporte. Não precisa ser atleta, técnico ou dirigente, mas tinha de ter histórico. Quando isso não acontece, tudo começa do zero. E começar de novo é custoso. Aprender envolve tempo e recurso. Não existiu uma visão estratégica. Comparando com a Cultura, a diferença é grande. O Juca (Ferreira) já tinha sido ministro. As pessoas podem considerar a visão dele sobre o assunto boa ou ruim. Seu nome pode agradar ou desagradar. Mas existe uma maneira de pensar a cultura. No esporte, isso não aconteceu”.
Postura do ministro agrada
“O que o ministro vem fazendo é se abrir para conversar. Tentando entender o contexto. Se por um lado o esporte reagiu com indignação ao seu nome porque não era do setor, por outro, existe um diálogo maior do que existia. Ele vem fazendo o que deveria fazer: aprender sobre o tema e conversar com quem está nesse mundo”
Esperança de diálogo maior
“O Ministério entrou em contato comigo. Devemos conversar. É o momento de retomar o contato. Se entrou alguém sem bagagem, se ele é novo, abre-se uma possibilidade de um novo procedimento. Com o Aldo (Rebelo), existia diálogo, mas as ações estavam completamente voltadas para a realização da Copa. E para políticas autorais. Foram feitos investimentos muito altos em centros de treinamento e no financiamento das equipes olímpicas. Não foi dada continuidade às questões que tínhamos sugerido nas Conferências do Esporte (encontros oficiais, previstos em lei, para discutir a políticas esportivas para o país)”
Foco no alto rendimento não cria legado
“O Brasil tem recursos limitados em todos os sentidos. Temos de otimizar isso com uma boa gestão. Definir melhor as responsabilidades de cada setor. Temos Lei de Incentivo, convênios diretos, Lei Piva, patrocínios estatais... Tudo voltado para o COB e para as Federações, com mais de 70% da verba da Lei de Incentivo indo para o alto rendimento. E não existe nenhuma corresponsabilidade para estruturar o esporte em outras dimensões. Só cuidam da ponta e esquecem a base da pirâmide do esporte. Não cuidam de campeonatos menores, dos clubes onde são criados os atletas ou dos recursos humanos”.
Sonho é criação de um projeto esportivo integrado
“Existem prefeituras, entidades não-governamentais e empresas fazendo bons trabalhos. Mas nada alinhado. É um salve-se quem puder. Não há controle, por exemplo, de quantas horas cada criança faz educação física nas escolas públicas. A OMS fala em 75 horas por semana. E temos sedentarismo e obesidade batendo à porta, criando custos de milhões de reais na saúde. O que esperamos do Ministério? Um esforço para se criar um plano conjunto entre esporte, educação e saúde, e incluir a sociedade civil, para abordar o tema”.
“É possível pensar em chegar a 2016 com um sistema esportivo implantado. Temos estrutura, mas para isso, precisamos unir todas as pontas. Temos prefeituras bancando equipes de alto rendimento, governos estaduais bancando alto rendimento, o governo federal bancando a mesma coisa. Será que isso é função de todos? Temos de deixar claro qual a função de cada área. Se as prefeituras souberem que a função delas é fomentar o esporte escolar, ela poderá fazer um plano muito mais concreto de investimento”.
“Nós rodamos o Brasil com os projetos do Atletas e do IEE (Instituto Esporte e Educação) e sabemos que existem boas iniciativas. É preciso ordenar tudo. A sociedade brasileira está pronta para isso. Conversamos com várias instituições, como o Sesi, e secretarias estaduais e municipais e todos enxergam a demanda de um plano nacional do esporte. Hoje, ninguém sabe quem resolve, quem aponta qual o caminho para se trabalhar. E essa é uma função do Ministério”.