Ativistas encaram um mês de acampamento contra campo de golfe da Olimpíada
Taís Vilela e Vinicius KonchinskiDo UOL, no Rio de Janeiro
Um acampamento improvisado na Barra da Tijuca, bairro nobre do Rio de Janeiro, virou ponto de encontro --e até moradia— de uma dezena de manifestantes contrários a um dos maiores e mais polêmicos projetos em execução na capital fluminense: a construção do campo de golfe da Olimpíada. Instalados debaixo de uma árvore exatamente em frente à obra olímpica, ativistas tramam diariamente estratégias para barrar a construção milionária e ao mesmo tempo essencial para os Jogos de 2016.
Reunidos no entorno de uma caixa de livros, instrumentos musicais e alguns mantimentos, os acampados formam o Ocupa Golfe. O movimento surgiu no final do ano passado e, há mais de um mês, fincou o pé no canteiro central de uma das maiores avenidas cariocas para tentar embargar a construção de um dos locais de competição da Rio-2016.
“Estamos aqui para chamar a atenção da população para esse projeto, que não atende os interesses da cidade”, afirma Ian Miranda, estudante de 19 anos e integrante do Ocupa Golfe. “Cheguei há mais de um mês, fico quase 24 horas por dia, e só saio depois que conseguir embargar essa obra.”
Ian é um dos ativistas que praticamente mora no acampamento montado por causa do campo de golfe. Ele come refeições vindas de doações, dorme em colchões levados à Barra por apoiadores do Ocupa Golfe e toma banho a cada dois ou três dias, quando ele vai para casa buscar uma muda de roupa limpa.
Ele conta com o apoio de outros ativistas que frequentam o acampamento diariamente, mas não dormem no local. Um deles é o biólogo Marcelo Mello, de 49 anos, outro membro do Ocupa Golfe. “Eu participo das reuniões, trago comida e ajudo na conscientização da população. Não durmo porque não posso”, disse ele, durante uma visita ao acampamento.
Campo em área de preservação ambiental
Morador da Barra da Tijuca, Mello é contra o campo de golfe por diversos motivos. Para ele, a construção é prejudicial ao Rio porque a cidade tem outros campos disponíveis para a Olimpíada; porque o espaço não terá utilidade após os Jogos; e principalmente porque ele ocupa uma área de preservação ambiental. “Animais e plantas estão sendo exterminados”, disse.
O MP-RJ (Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro) chegou pedir na Justiça a paralisação da obra do campo de golfe por conta dessa questão ambiental. O pedido de liminar feito por promotores, entretanto, foi negado no ano passado e a obra prossegue normalmente.
A mobilização de ativistas contra o campo, contudo, aumentou. Foi depois de a Justiça decidir que o projeto do golfe olímpico pode continuar que o Ocupa Golfe começou. No início deste ano, a Guarda Municipal do Rio de Janeiro até tentou desmontar o acampamento. A ocupação resistiu.
“Os guardas me derrubaram no chão, me machucaram, mas sigo aqui”, disse Daniele Fontes, de 35 anos. “A ocupação vai continuar. Não vamos desistir”
Prefeitura defende o projeto
A Prefeitura do Rio de Janeiro já declarou que a construção do campo de golfe não traz riscos ao meio ambiente. Segundo o prefeito Eduardo Paes, inclusive, a obra olímpica vai ajudar a preservar e recuperar o terreno do campo, o qual esteve abandonado por anos.
De acordo com a prefeitura, a construção do campo de golfe vai custar R$ 60 milhões. Tudo isso será bancado por recursos privados.
O Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio-2016 informou que confia no projeto da prefeitura do Rio. Informou também que a obra é essencial para a realização da Olimpíada do Rio.
Procurada pelo UOL Esporte, a Guarda Municipal, que tentou desmontar o acampamento de ativistas, declarou que só agiu por que é proibida “a fixação de a ocupação irregular do espaço urbano [do Rio], incluindo objetos que caracterizem a transgressão”. Segundo o órgão, denúncias de violência por parte dos guardas serão apuradas.
“Sobre a denúncia de truculência, a Guarda Municipal informa que não tolera casos de violência praticados por seus agentes”, informou o órgão. “Eventuais excessos relatados têm sido investigados pela Corregedoria, e casos de conflito estão sendo devidamente registrados na delegacia da região.”