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Austrália é quem mais se queixa publicamente do Rio-2016. Saiba os motivos

Daniel Brito

Do UOL, de Brasília

O Comitê Olímpico da Austrália classifica como “desafiadora” a condição de tentar ficar entre os cinco primeiros nos Jogos do Rio-2016 com a falta de “estrutura esportiva de qualidade” que a cidade do Rio de Janeiro oferece. A opinião é da Chefe de Missão australiana para 2016, Kitty Chiller, e está registrada no plano estratégico do AOC (sigla em inglês para  Comitê Olímpico da Austrália), na página da entidade na internet desde outubro de 2014.

“Um desafio da preparação do nosso time de 2016 é a falta de locais de treinamento de alta qualidade no Brasil”, escreveu Kitty, 50. “Na tomada de decisões sobre a melhor forma de utilizar a fase de treinamentos anterior ao início dos Jogos, deve-se considerar a qualidade de treinamento e instalações auxiliares, aclimatação, mudanças de fuso horário e tempo de viagem para o Rio”, completou a dirigente.

Este foi só um dos diversos posicionamentos críticos que os australianos já tornaram público sobre os Jogos no Brasil. E eles têm conhecimento de causa. Receberam por duas oportunidades o evento: Melbourne-1956 e em Sydney-2000. Ambas com grande sucesso.

Kitty competiu nos Jogos-2000 no pentatlo moderno e terminou na 14ª colocada. Hoje, é o braço de direito de John Coates, presidente do Comitê Olímpico Australiano e vice-presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional). Partiram de Coates as primeiras queixas mais ácidas sobre a preparação do Brasil e do Rio.

Em abril de 2014, Coates afirmara que tratava-se da pior avanço dos trabalhos pré-Jogos em todos os tempos. Em agosto, contudo, Coates regressou ao Brasil e anunciou à imprensa internacional que já estava satisfeito com os avanços nas obras à aquela altura. E esta opinião foi ratificada pelos demais membros do COI na comitiva.

Bases de treinamento
A Austrália está encontrando dificuldades de replicar no Brasil o modelo de infraestrutura de treinamento adotada em Londres-2012 e Pequim-2008. Os atletas puderam contar com cinco ou seis locais de treinamento nas edições anteriores dos Jogos.

Já no Rio, o máximo que conseguiram foi anunciar à imprensa de seu país de que utilizará um espaço para festas na zona oeste, localizado a pouco mais de 1km de distância da entrada do Parque Olímpico, na Barra. A estrutura está longe de se enquadrar em padrões olímpicos: dois campos de futebol society, meia quadra de basquete, uma piscina de 20 metros e piscina de massagem. Mas três grandes halls que, até então, eram usados em festa de casamento. “Não é uma instalação para treinamentos. Será utilizada para administração, e uma espécie de centro médico para atendimentos a lesões menos complicadas”, afirmou Mike Tancred, diretor de comunicação do Comitê Olímpico Australiano ao UOL Esporte.

Por este motivo, Tancred informou que diversas modalidades farão a última etapa de treinamento antes dos Jogos, conhecido como “Pre-Games” (Pré-Jogos, em inglês) em outros países, seja da Europa, nos Estados Unidos e até na América do Sul, como é o caso da Argentina, que abrigará os times de hóquei na grama australianos.

“Não somos nós, do Comitê Olímpico Australiano, que determinamos para qual lugar as modalidades devem passar o período Pre-Games. Claro que todas terão um período no Rio antes dos Jogos, mas algumas chegarão já para as disputas”, disse Tancred.

No plano estratégico assinado por Kitty há outras críticas, ainda que veladas, principalmente no que diz respeito a aclimatação em terras cariocas. “Serão limitadas as oportunidades de participação da Austrália nos eventos teste, porque muitas dessas competições serão realizadas em nível nacional [limitadas a brasileiros] ou por convites”, diz o relatório.

No documento, Kitty Chiller considera o Brasil e a cidade do Rio de Janeiro com uma baixa frequência de eventos de grande porte. “Para muitas modalidades, Rio e o Brasil serão um ambiente pouco familiar, já que foram relativamente pouco testados em eventos de grande porte”, afirmou.

A assessoria de imprensa do Rio-2016 afirmou que o AOC jamais queixou-se ao Comitê Organizador dos Jogos e não quis comentar o teor das críticas australianas no relatório assinado por Kitty Chiller.

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