Velejadoras querem políticos navegando na Baía de Guanabara: "vão ver lixo"
Fábio Aleixo e Pedro Ivo AlmeidaDo UOL, no Rio de Janeiro
Vencedoras do Prêmio Brasil Olímpico entre as mulheres, as velejadoras Martine Grael e Kahena Kunze aproveitaram os holofotes para reforçar uma reivindicação antiga: a despoluição da Baía de Guanabara.
E desta vez, as iatistas aproveitaram para fazer um desafio às autoridades que administram a cidade e o estado do Rio de Janeiro.
"Eles estão convidados para irem lá um dia navegar com a gente e ver a situação em que se encontra água. Tem muito lixo, peixe morto. É só eles aceitarem, quando quiserem", afirmou Martine Grael, filha do multimedalhista olímpico Torben Grael.
"Nós estamos treinando lá praticamente todos os dias e a situação parece estar cada vez pior. Já reclamamos muito, mas nada mudou. Então seria bom se eles fossem", disse Kahena.
Ao subirem no palco para receberem o troféu de destaques de 2014, as velejadoras foram recebidas pelo presidente do COB (Comitê Olímpico do Brasil), Carlos Arthur Nuzman, pelo ministro do Esporte, Aldo Rebelo, e o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão. Apesar de estarem frente às autoridades, evitaram fazer cobranças mais fortes.
"Aquele era um momento de festa e celebração. Mas o recado que precisamos passar, passamos pela empresa. Eles também não comentaram nada conosco, devem ter ficado com vergonha", afirmou Kahena.
Na terça-feira, pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) informaram que descobriram nas proximidades da Baía de Guanabara, mais precisamente na praia do Flamengo bactérias resistentes a remédios. As "superbactérias" são normalmente encontradas em lixo hospitalar e fabricam uma enzima, KPC, resistente a antibióticos. A "superbactéria" pode causar infecções urinária, gastrointestinal e pulmonar.
"Se a gente toma banho nestas águas, existe o risco de contrair doenças, que não são mais graves que as causadas por outros micro-organismos. O problema é que, no caso de uma eventual infecção, é possível que o tratamento exija uma abordagem de internação hospitalar", explicou à agência Associated Press a microbiologista Ana Paula d’Alincourt, coordenadora do estudo.
O fato gerou repercussão em veículos de expressão internacional, como os britânicos BBC e Daily Mail, e o americano New York Times.
Esta não é a primeira vez que a poluição no local das competições de vela da Olimpíada de 2016 vão parar no noticiário internacional. Várias reportagens foram produzidas ao longo dos últimos meses destacando os problemas enfrentados por quem treina e compete no local.
Em agosto, um evento-teste para a Olimpíada foi realizado no local em meio a muita sujeira.
Diante dos novos problemas no local, o Comitê Organizador do Jogos afirmou que criou uma força-tarefa para tentar solucionar a questão da superbactéria.
“Fomos alertados para uma possível presença de bactérias produtoras de enzima KPC em alguns pontos do Rio Carioca em setembro de 2014. Conversamos com especialistas do governo e da Fiocruz e, desde então, monitoramos o tema. O Comitê Rio 2016 criou uma força tarefa para cuidar deste assunto e o grupo seguirá acompanhando muito de perto sua evolução. Grande parte do trabalho é discutir com o governo e com especialistas soluções para evitar a contaminação da água e continuar garantindo a segurança dos atletas. Essa questão não impõe nenhuma mudança no nosso planejamento de eventos-testes e competições”, disse o Comitê em nota.