Denúncia e investigação levaram ao flagrante de doping de atleta "rebelde"
Daniel Brito*Do UOL, de Brasília
O exame antidoping que flagrou a corredora paranaense Vanda Gomes, 26, foi direcionado para ela. A partir de uma denúncia e investigações, ela foi submetida a um teste de urina em 25 de setembro, no qual foi encontrada a substância anastrozole (hormônio e modulador metabólico), proibida pela Agência Mundial Antidoping (Wada). Ela foi suspensa preventivamente até o julgamento, ainda sem data.
“Temos um trabalho de inteligência, que fica atento a possíveis focos de dopagem. Atuamos por meio de denúncia ou por indícios de que os resultados dos atletas estejam fora do comum”, explicou ao UOL Esporte Thomaz Mattos de Paiva, presidente da Conad, a Comissão Nacional de Antidopagem da CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo), responsável pelo teste. Ele disse não poder revelar a origem da denúncia e nem os métodos utilizados pelo “serviço de inteligência”. “Que bom que foi agora. Imagina se fosse flagrada durante uma competição lá fora e mancha a imagem do Brasil?”, comentou o superintendente de Alto Rendimento da CBAt, Antônio Carlos Gomes.
A paranaense é medalhista de ouro no revezamento 4x100m no Pan-2011 e protagonizou uma cena triste na final da mesma prova no Mundial-2013, em Moscou. Ela não conseguiu pegar o bastão da mão da colega de time Franciela Krasucki nos últimos 100m e o Brasil foi eliminado. Na saída da prova, apontou os culpados. "Ficamos 40 dias fora de casa, comendo mal, dormindo mal. É reflexo da preparação. Eu errei, a Franciela errou, é isso", detonou Vanda.
Pela entrevista, foi levada a julgamento e suspensa por uma competição pelo STJD. Seu nome também não foi incluído no programa Bolsa Pódio, do governo federal, que dá auxílio financeiro aos atletas olímpicos e paraolímpicos com potencial de chegar ao pódio no Rio-2016.
Entre todas as integrantes daquele time que falhou na final de Moscou-13, somente Vanda foi submetida pela Conad a exames fora do período de disputas em 2014. A CBAt assegura que não tem nenhuma relação entre as críticas no Mundial do ano passado à denúncia anônima para o teste em setembro. “São fatos distintos”, assegurou Thomaz Mattos de Paiva. “As pessoas falam muito sobre tudo. Vários atletas passaram pelo mesmo que ela [Vanda] e não tiveram nada”, reforçou Gomes.
A atleta admitiu, em nota à imprensa, ter ingerido a substância por conta própria. Deverá ser suspensa por até dois anos carregando o status de quarta colocada no ranking nacional de 2014 dos 200m, com 23s37. Está 56 centésimos atrás da mais rápida na temporada, Ana Claudia Lemos, da BM&F, com 22s81, que compôs a equipe de Moscou-13.
Vanda foi flagrada no período de treinamentos para o Troféu Brasil, que ocorreria 20 dias depois, em São Paulo, no qual ficara com bronze nos 100m e nos 200m. Representante do Clube Pinheiros, ela e outros dois colegas de equipe tiveram amostras coletadas. Apenas o resultado da paranaense foi divulgado oficialmente.
Dos 489 testes antidoping promovidos pela CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo) em 2014, menos de 5% (22 no total) ocorreram em épocas de preparação. Vanda foi um dos contemplados, tornando-se, assim, o 13º atleta da modalidade punida em 2014 - a segunda do ano em análise fora da época de provas.
“Exame em período de treinos talvez seja mais importante do que aqueles durante campeonatos, porque pode flagrar algum atleta em meio a um ciclo de dopagem pré-competição”, justificou Mattos de Paiva, da Conad. Ele garantiu que esses procedimentos serão intensificados a partir de agora.
* Colaborou Fábio Aleixo, de São Paulo