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Estádio do Pan vira shopping, e Rio-2016 quer nova obra em área tombada

Divulgação/Rio-2016
Projeto de nova arquibancada olímpica dentro da lagoa virou alvo do MP-RJ imagem: Divulgação/Rio-2016

Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio de Janeiro

O governo do Rio de Janeiro reformou o Estádio de Remo da Lagoa Rodrigo de Freitas para os Jogos Pan-Americanos de 2007. Esperava-se que as obras realizadas no espaço servissem também para a Olimpíada de 2016. De lá para cá, entretanto, o local acabou transformado numa espécie de shopping center. Sem lugar para acomodar o público nas arquibancadas existentes, organizadores dos Jogos Olímpicos agora querem uma instalação provisória para espectadores num espaço tombado da cidade: dentro da lagoa.

O plano de instalação de uma arquibancada no espelho d’água da Lagoa Rodrigo de Freitas consta do dossiê de candidatura do Rio à sede da Olimpíada de 2016 e tem sido apresentado pelo Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos a comitivas de dirigentes esportivos que visitam à cidade durante sua preparação para o megaevento. O projeto, porém, desagrada remadores e entidades esportivas nacionais. Mais do que isso: motivou o início de uma investigação do MP-RJ (Ministério Público do Estado) por suspeitas de desrespeito ao patrimônio público.

O MP-RJ já cobrou da Prefeitura, do governo do Estado e do Comitê Rio-2016 informações sobre a arquibancada para saber se ela se adequada às regras do tombamento da lagoa. Remadores que frequentam o lugar, contudo, já têm certeza que ele será prejudicial ao meio ambiente e aos próprios esportistas. Reclamam ainda que a estrutura temporária, com capacidade para 10 mil pessoas, está sendo planejada só para não atrapalhar os planos da empresa que transformou o Estádio de Remo do Pan num shopping center.

“Qualquer um que tenha bom senso e criatividade tem condições de afirmar que a arquibancada provisória seria a ideia menos inteligente e sustentável”, reclama o remador Carlos Martins, frequentador Estádio de Remo e defensor do melhor aproveitamento do espaço. “Nunca numa Olimpíada, o espaço das competições de remo foi ocupados por tantos cinemas, restaurantes, cachaçaria etc”

Todos esses restaurantes, cinemas e a cachaçaria funcionam no Lagoon, o centro comercial administrado pela Glen Entertainment. A empresa tem um contrato com o governo do Rio para administrar o Estádio de Remo. Segundo os remadores, por esse mesmo contrato, a empresa também deveria fomentar a prática do esporte. Os esportistas, no entanto, dizem que isso nunca foi feito. Afirmam, inclusive, que a companhia vem pouco a pouco ocupando espaços que deveriam ser destinados às atividades esportivas.

“A empresa construiu seis salas de cinema debaixo da arquibancada do estádio. Lá, seria um espaço ideal para um centro de treinamento de remo”, diz o atual presidente da Frerj (Federação de Remo do Estado do Rio de Janeiro), Paulo Roberto de Carvalho. “A empresa também instalou exautores de ar condicionado em cima da arquibancada. Que tipo de apoio ao esporte é esse?”

A Glen Entertainment foi procurada pelo UOL Esporte na terça-feira para comentar sua atuação no Estádio de Remo. Não respondeu.

Comitê avalia mudança

O Comitê Organizador Rio-2016 é o responsável direto pela execução e pagamento da arquibancada temporária que deve ser instalada dentro da lagoa. No dossiê de candidatura do Rio à sede da Olimpíada, a estrutura foi orçada em cerca de R$ 36 milhões. O comitê, no entanto, não confirma que esse seja o valor do investimento que efetivamente será feito no espaço.

O órgão, aliás, não confirma se irá ou não construir a arquibancada dentro da lagoa. Apesar representantes do comitê, como Sebastián Cuattrin, líder de competição esportiva da canoagem, defender o plano em reuniões com dirigentes esportivos internacionais, oficialmente, não há decisão sobre o assunto.

O Comitê Rio-2016 informa que ainda avalia o que será feito na lagoa, que receberá competições de remo e canoagem de velocidade. Segundo o órgão, a sustentabilidade das obras n local e o respeito às normas de tombamento serão levados em conta em qualquer decisão.

O governo do Rio de Janeiro, proprietário do Estádio de Remo, foi questionado sobre a arquibancada provisória. Só informou que ela um projeto do Comitê Rio-2016. O Estado vai investir cerca de R$ 4,9 milhões no Estádio de Remo para a Olimpíada. Desse valor, entretanto, nada será destinado ao plano de instalação de estruturas temporárias dentro do espelho d’água.

Histórico de desrespeito

Fato é que o zelo do Poder Público por equipamentos esportivos tem ficado em segundo plano quando o assunto é megaevento esportivo. No próprio Estádio de Remo, conforme informou o presidente da Frerj, há exaustores instalados de forma irregular em arquibancadas há cerca de um ano.

O UOL Esporte noticiou o problema no final do ano passado (veja fotos abaixo). Na época, a Prefeitura do Rio disse que a Glen Entertainment já havia sido notificada pela irregularidade e teria que retirar os exaustores do espaço. Os equipamentos, contudo, ainda estão ali. A prefeitura informou agora que vai avisar o governo para que ele cobre a retirada da concessionária.

Há pouco mais de um ano, o próprio prefeito Eduardo Paes destombou o Estádio de Atletismo Célio de Barros e o Parque Aquático Julio Delamare para que eles fossem demolidos. A derrubada seria feita pela concessionária que administra o Maracanã visando preparar o entorno do estádio para a Copa do Mundo de 2014.

O destombamento e a ameaça de demolição, contudo, chamaram a atenção da comunidade esportiva. O projeto foi cancelado e os equipamentos tombados novamente pelo prefeito Paes.

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