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Reforma do Célio de Barros é adiada e pista só será reaberta após Rio-2016

AFP PHOTO / CNES 2014
Área vazia à esquerda do Maracanã era o Célio de Barros. Hoje, é estacionamento imagem: AFP PHOTO / CNES 2014

Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio de Janeiro

O Estádio de Atletismo Célio de Barros permanecerá desativado e parcialmente destruído até o final dos Jogos Olímpico de 2016. A obra para a reconstrução do espaço, que virou símbolo da luta de atletas e dirigentes pela preservação de equipamentos esportivos do país, acabou sendo adiada para depois da Olimpíada. Assim, o local deve continuar sendo usado como estacionamento, inclusive na Rio-2016.

A reconstrução do Célio de Barros é uma obrigação da concessionária Maracanã S/A, que controla o estádio do Maracanã desde julho de 2013. A determinação para a realização da obra consta do primeiro aditivo do contrato assinado entre a empresa e o governo do Rio de Janeiro para a privatização da administração da arena da final da Copa.

Pelo aditivo do contrato, a reconstrução do Célio de Barros deveria ser concluída até julho de 2016, ou seja, dias antes do início da Olimpíada, marcado para o dia 5 de agosto. Esse mesmo documento, entretanto, já prevê que esse prazo seja estendido em caso de um “evento de excludente responsabilidade” e com anuência do governo do Rio. Segundo o UOL Esporte apurou, a própria Olimpíada do Rio será usada como justificativa para a mudança da data de entrega da reforma.

Governo e Maracanã S/A não confirmam o adiamento (veja abaixo). Pessoas ligadas ao projetos de recuperação do Célio de Barros, entretanto, já disseram que o espaço deve ser usado como área de apoio para a organização Jogos. Assim, será reformado só após o evento.

O Maracanã, que fica ao lado do estádio de atletismo, vai receber as cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos daqui menos de dois anos. Por isso, a área do Célio de Barros seria fundamental para estacionamento de veículos para transporte de atletas e autoridades, e para instalação dos equipamentos para transmissão televisiva dos eventos. Desta forma, não faria sentido reformá-lo e reabri-lo antes da Olimpíada.

Fechado desde janeiro de 2013, o Célio de Barros já têm sido usado como estacionamento e área de apoio para megaeventos desde a Copa das Confederações de 2013. A pista de corrida, a área de saltos e para arremesso de peso e dardo foram destruídas ainda durante a reforma do Maracanã para o Mundial da Fifa. Depois, foram cobertas por asfalto e assim permanecem.

Governo e Maracanã S/A já prometeram recuperar toda a área esportiva do Célio de Barros e construir no subsolo do estádio de atletismo um estacionamento. Os recursos para a obra viriam dos cofres da própria concessionária, que se comprometeu a investir R$ 594 milhões no entorno do Maracanã assim que assumiu o controle da arena de futebol.

Vale ressaltar que a recuperação do Célio de Barros foi um promessa do então governador Sérgio Cabral. O anúncio de que o espaço seria reformado foi feito em uma entrevista coletiva após uma reunião com Carlos Lancetta, presidente da Farj (Federação de Atletismo do Rio de Janeiro). Dias depois do anúncio, o então secretário estadual de Esportes, André Lazaroni, afirmou que o Célio de Barros seria reaberto antes da Rio-2016.

Para isso, contudo, a reforma deveria ter sido iniciada logo após a Copa --o que não aconteceu. A Maracanã S/A chegou a enviar o projeto da reforma para o governo do Estado. Esse projeto ainda está sob análise de órgãos de licenciamento.

Na opinião da professora Edneida Freire, que dava aula de atletismo no Célio de Barros, o adiamento é um “desrespeito”. “A cidade-sede da Olimpíada de 2016 terá seu mais importante estádio de atletismo fechado durante os Jogos. É um absurdo”, reclamou ela. “Uma Olimpíada não pode servir de pretexto para manter um equipamento esportivo fechado.”

Freire foi uma das que mais lutou pela reforma do Célio de Barros. Ela disse que contava com o estádio de atletismo aberto até para o treinamento de atletas olímpicos. No entanto, ela disse representantes do próprio governo já informaram extraoficialmente a técnicos e esportistas que sua reabertura acontecerá só após 2016.

Lancetta, da Farj, foi procurado pelo UOL Esporte para comentar a situação do Célio de Barros. Não quis falar sobre o assunto.

Já o Comitê Organizador Rio-2016 informou que ainda não foi definido o uso das área do entorno do Maracanã na Olimpíada.

Confira a íntegra da nota enviada pelo governo sobre o Célio de Barros:

O Governo do Estado já aprovou o projeto básico para a reforma do Estádio de Atletismo Célio de Barros, que está sob análise dos órgãos de licenciamento. O prazo para início das obras será fixado mediante a produção dos projetos executivos. O Governo do Estado trabalha com o prazo que consta no contrato de concessão. Cabe ressaltar que o início das intervenções se deu pelo Parque Aquático Julio Delamare já que o equipamento deverá estar pronto para o evento-teste a ser realizado, de acordo com o cronograma da organização dos Jogos Olímpicos Rio 2016, no segundo semestre de 2015.

Já a Maracanã S/A informou que aguarda informações sobre a Olimpíada para iniciar obras no Célio de Barros:

A concessionária Maracanã S/A ainda não recebeu comunicação oficial dos organizadores sobre a utilização das estruturas temporárias e de apoio para a realização dos Jogos Olímpicos no Complexo Maracanã. As obras incidentais da concessão começarão pelo Parque Aquático Julio Delamare, onde serão as competições de Polo Aquático, conforme aditivo do contrato de janeiro de 2014.

Idas e vindas sobre o Célio de Barros

  • Fechamento

    Em janeiro de 2013, o governo do Estado do Rio de Janeiro fechou o Estádio de Atletismo Célio de Barros. O espaço, que fica exatamente ao lado do Maracanã, foi incorporado ao canteiro para as obras na arena da final da Copa do Mundo de 2014. Quando a reforma acabou, em junho, o Célio de Barros passou a ser usado como estacionamento do estádio de futebol.

  • Demolição

    Em junho de 2013, o governo e a Maracanã S/A assinaram o contrato que tornou privada a administração do Complexo do Maracanã. Neste contrato, estava previsto que a concessionária do estádio era obrigada a demolir o Célio de Barros e construir naquela área um estacionamento. Pelo contrato, a empresa também teria que construir um novo estádio de atletismo numa área próxima ao Maracanã.

  • Protestos

    A privatização da administração do Maracanã e a demolição do Célio de Barros foram temas de protestos que tomaram as ruas do Rio durante a Copa das Confederações, em junho de 2013. Atletas, dirigentes esportivos e movimentos sociais demandaram o cancelamento da concessão. O Ministério Público entrou na Justiça questionando a legalidade do contrato firmado entre governo e Maracanã S/A.

  • Reconstrução

    Em agosto de 2013, o governador Sergio Cabral anunciou que a demolição do Célio de Barros estava cancelada. Atendendo às reinvindicações de manifestantes e de atletas e dirigentes esportivos, Cabral disse que a concessão do Maracanã seria reestruturada. Ele, inclusive, abriu a possibilidade de a Maracanã S/A desistir do negócio. Desta forma, a administração do Maracanã voltaria a ser estatal.

  • Indefinição

    Ainda em agosto, a Maracanã S/A enviou um documento ao governo do Rio informando que gostaria manter o controle sobre o Maracanã apesar das mudanças no projeto da concessão anunciadas pelo então governador. Naquele momento, apesar da manifestação da Maracanã S/A, nem o governo nem a empresa sabiam quem faria e pagaria pela reconstrução do Célio de Barros, muito menos quando ela seria concluída.

  • Ajuda federal

    Em setembro, o governo do Rio de Janeiro pediu ao governo federal uma ajuda de R$ 10 milhões para que ele mesmo pudesse reconstruir o Célio de Barros. A solicitação foi feito por meio da Secretaria Estadual de Esporte e Lazer. O então secretário André Lazaroni afirmou na época que, com os recursos, o estádio de atletismo seria reaberto em seis meses, ou seja, em março de 2014.

  • Obra privada

    Em janeiro de 2014, reviravolta: o governo alterou o contrato assinado com a Maracanã S/A. Com a mudança, a empresa passou a ser a responsável pela reconstrução do Célio de Barros. Segundo o aditivo, a obra deveria ser concluída em 30 meses, ou seja, em julho de 2016, dias antes do início da Rio-2016. O início da obra, entretanto, dependeria de uma aprovação do projeto para a reforma do espaço.

  • Adiamento

    Oficialmente, o projeto de reconstrução do Célio de Barros está sob análise de órgãos de licenciamento. Por isso, a obra ainda não começou. Pessoas ligadas ao projeto, contudo, já foram informadas que a reforma deve começar só depois da Olimpíada para que o espaço possa servir como estacionamento para que for ao Maracanã na Rio-2016. Desde a Copa das Confederações, essa já é a função do estádio.

  • Só em 2018

    O filho de ex-governador Sergio Cabral, Marco Antônio Cabral, assumiu em janeiro a Secretaria Estadual de Esportes do Rio de Janeiro. Logo após sua posse, declarou ao UOL Esporte que o Célio de Barros só será reinaugurado no fim de 2018.

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