Ele foi chamado de índio e cupido. Mas aos 16 virou astro do tiro com arco
Maurício DehòDo UOL, em São Paulo
Uma nova geração de atletas brasileiros vai dar as caras na Olimpíada de 2016, competindo em casa, no Rio. Ainda assim seria difícil imaginar que desta nova safra pudesse surgir alguém que com apenas 16 anos entre na briga por medalha. E não estamos falando das garotas da ginástica, mas do tiro com arco. Com arco e flecha nas mãos e uma mira próxima da perfeição, o carioca Marcus Vinicius d’Almeida tem rosto de menino, mas deixou os veteranos espantados ao conquistar a prata na final da Copa do Mundo. No adulto.
É claro que no começo os amigos de colégio deram aquela sacaneada. “Índio”, “cupido”, ouviu Marcus Vinicius, em brincadeiras sobre o hobby incomum. Mas, depois de tentar futebol, vôlei e jiu-jítsu, ele se encontrou. Em 2012 entrou para a seleção e pouco depois começou a adquirir experiência internacional.
“Já senti um pouco desse estranhamento do pessoal por eu competir no tiro com arco. Já chamaram de índio, de cupido. Mas é só brincadeira, nada de mais”, conta Marcus Vinicius, que releva a zoeira e ainda tira onda, já tendo rodado o mundo para competir.
Os feitos de Marcus Vinicius são notáveis. Ele foi o atirador mais jovem a disputar a final de uma Copa e, consequentemente, o mais jovem a medalhar na competição. Antes disso, já havia conquistado a inédita prata nos Jogos da Juventude, na China. Com dois anos de preparação para a Rio-2016, tem bastante tempo para manter sua evolução e, com acompanhamento físico, técnico e psicológico, brigar por um lugar pódio.
Mais curioso que sua idade é pensar que um folheto foi o que atraiu este carioca de Maricá ao esporte. A cidade é sede da Confederação Brasileira de Tiro com Arco, que estava em busca de novos talentos para as seleções de base do país.
“Lá em Maricá tem um projeto que incentiva a prática e entregaram um folheto num dia de reunião de pais. Eu tinha 12 anos. Na hora, gostei e fui ver como era. Comecei por curiosidade, continuei para ver como era e acabei me apaixonando”, conta o garoto, que hoje mora em Campinas, com mais um atleta, ambos focados nos treinos e na preparação para o Rio-2016 – além dos estudos.
A maturidade no tiro com arco tem de ser completa: físico e mente são exigidos. O atirador explica que a preparação física é fundamental, das pernas à cabeça, já que não é só uma questão de pontaria, mas de sustentação, equilíbrio, além, é claro, de um psicológico forte.
Tudo isso ainda está em desenvolvimento em Marcus, mas seus resultados não passaram despercebidos dos rivais. O carioca já é nono no ranking mundial.
“Eles já me consideram um bom rival, já veem o Brasil com melhores olhos, sabem que hoje temos um centro de treinamento”, explica ele, que viu um certo assédio em torno de si na Copa do Mundo, mas desconversou. “O pessoal veio, conversou bastante comigo. Mas é normal.”
Na Copa do Mundo, o brasileiro encarou o tricampeão do evento Brady Ellison e perdeu apenas no desempate. O nível em que conseguiu se colocar o anima para 2016. “Foi por muito pouco, então foi um belo resultado para mim. Isso tudo mostrar que posso chegar muito bem preparado para a Olimpída”, concluiu.