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Promessa olímpica, obras no porto racham lojas, museu e sede da PF

Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio de Janeiro

O Rio de Janeiro prometeu revitalizar sua região portuária quando se candidatou a sede da Olimpíada 2016. Visando a isso, a prefeitura criou o projeto Porto Maravilha e promoveu investimentos de R$ 8 bilhões naquela área da cidade. Todo esse investimento, porém, não tem agradado quem vive ou trabalha por lá. Pelo contrário. Comerciantes e moradores das proximidades do porto do Rio reclamam que as obras tocadas ali têm causados sérios danos aos imóveis que há anos foram construídos no bairro.

A principal queixa é sobre as rachaduras e outras avarias que começaram a surgir nas casas e lojas da região portuária desde que a concessionária Porto Novo iniciou as obras de revitalização. É a Porto Novo quem executa os principais projetos na área do porto. Consórcio formado pelas construtoras Carioca, OAS e Odebrecht, a empresa firmou uma PPP (parceria público-privada) com a prefeitura para tocar o Porto Maravilha levando em conta à promessa municipal feita ao COI (Comitê Olímpico Internacional).

É a Porto Novo a responsável, por exemplo, pela construção de túneis viários que cortarão a região portuária, transformando o tráfego de veículos na área. A obra desses túneis demanda explosões de rochas subterrâneas. Os “efeitos colaterais” das detonações têm revoltado a população local.

“O teto de minha barbearia já desabou duas vezes”, reclama o barbeiro Adriano Santana, que há 22 anos mantém o Janes Cabeleireiros na região portuária. “Isso aqui está terrível. Tem explosão de manhã, de tarde e de noite. Tem gente se mudando daqui por medo disso tudo.”

A barbearia de Santana funciona num imóvel antigo, adaptado. O teto é de gesso. O material não aguentou as reverberação causadas por explosões promovidas pela Porto Novo.

O mesmo aconteceu com o teto da Lindy’s Lanches, lanchonete que tem Domingos César Lins como um dos sócios. Ele conta que, em novembro, estava trabalhando normalmente quando o gesso bem em cima do balcão de seu estabelecimento veio abaixo. “Eram 4h da tarde. Por sorte, ninguém se machucou”, lembra. “Já reclamei na Porto Novo. Estou esperando uma resposta até agora.”

Segundo Lins, a estrutura do imóvel de sua lanchonete também está sendo comprometida por causa das explosões. Dona Almerinda Machado diz o reboco em concreto de sua papelaria também já desabou, e um cano que passava por cima de sua loja se rompeu por causa das obras. “Falaram que isso tudo era para melhorar a região, mas é só problema”, complementa.

Museu e sede da Polícia Federal avariados

Além de comerciantes, moradores e até grandes instituições tiveram problemas com as explosões. O prédio do recém-construído MAR (Museu de Arte do Rio de Janeiro) fica ao lado de um dos canteiros de obra mantidos pela Porto Novo para a abertura dos túneis no bairro. No museu, em outubro, foram encontradas rachaduras no hall de entrada e saída do pavilhão de exposições.

A administração do local informou que as trincas foram causadas por “acomodação do solo” no qual fica a instituição. Segundo laudo da projetista do museu, as rachaduras “não apresentam risco para o prédio, seus funcionários e visitantes”. Os reparos estão sendo providenciados.

A sede da Polícia Federal, que fica na Praça Mauá, também apresentou rachaduras. A Porto Novo foi chamada a vistoriar o local e afirmou que não há abalos estruturais nem risco de desabamento.

José Carlos Rodrigues é despachante alfandegário e trabalha em uma sala no edifício da rua Dom Gerardo, na região portuária. No seu escritório, diz ele, já há rachaduras “por onde passam um clipe de papel” . Segundo Rodrigues, até agora, ninguém da Porto Novo ou da prefeitura vistoriou o local.

LICITAÇÃO DE OBRA MODELO FRACASSA E ABRE IMPASSE NA RIO-2016

  • Divulgação/EOM

    A "obra modelo" da Olimpíada do Rio virou um problema para a organização dos Jogos. Isso porque a prefeitura não conseguiu encontrar uma empresa apta a tocar o projeto de construção da Arena de Handebol da Rio-2016. A obra foi apresentada pela administração municipal como um exemplo de legado do evento. Após as competições olímpicas, a arena seria convertida em quatro escolas públicas. Apesar disso tudo, sua licitação fracassou e criou um impasse. Hoje, não se sabe quem nem como o ginásio será construído.

Defesa Civil monitora

Procurada pelo UOL Esporte, a Secretaria Municipal de Conservação informa que a Defesa Civil Municipal realiza vistorias para avaliar as condições estruturais dos imóveis na região do Porto. Até janeiro, seis imóveis do local haviam sido foram vistoriados. Não foi verificado risco de desabamento.

A secretaria ainda informa que, nos casos de fissuras ou rachaduras, a concessionária Porto Novo deve ser acionada para realizar os reparos necessários.

A Porto Novo declarou em nota que também tem feito vistoria em imóveis e monitorado riscos. Sobre as queixas da população, a empresa informa que “mantém contato contínuo com os moradores e possui uma área específica para o atendimento de demandas, tratando cada caso pontualmente após visita técnica”.

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